“Este alimento contém beta-glucano (fibra alimentar) que pode auxiliar na redução do colesterol. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e baixa em gorduras saturadas e a hábitos de vida saudáveis.”Essa frase pode ser vista em produtos a base de farelo de aveia, aveia em flocos e farinha de aveia, com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que inseriu o beta-glucano entre os produtos registrados com alegações de propriedades funcionais ou de saúde (Resolução n. 19, de 30 de abril de 1999).

O grupo de pesquisa liderado pelo professor Luciano José Pereira, do Departamento de Ciências da Saúde (DSA), vem desenvolvendo nos últimos anos pesquisas com beta-glucanos (BGs) para encontrar outros potenciais terapêuticos.

Beta-glucanos são polissacarídeos – fibras naturais – provenientes da parede celular de uma variedade de cereais e fungos. Diferenças na estrutura química e de ramificações da molécula de diferentes fontes (cereal ou fungo) geralmente definem a atividade biológica que o beta-glucano irá desempenhar. Quando isolados da leveduraSaccharomyces cerevisiae(utilizada na produção de pão e cerveja) atuam principalmente na área imunológica, enquanto os isolados de cereais (tais como a aveia), apresentam principalmente efeitos metabólicos, como redução do colesterol total plasmático e dos triacilgliceróis, além de auxiliarem na prevenção do diabetesmellitus.

Extrato de levedura com beta-glucano – dieta usada no experimento

De acordo com o professor Luciano, o estudo do potencial metabólico e imunológico simultâneo desses compostos é de grande interesse, uma vez que indivíduos obesos e diabéticos estão mais susceptíveis ao agravamento de sinais e sintomas inflamatórios e infecciosos.

Deve ser ressaltado que as pesquisas são realizadas com modelo animal (roedores), em fase pré-clínica. Outros passos são necessários, com testes em humanos, para validação dos resultados. Além disso, a pesquisa aponta medidas auxiliares, não excluindo o tratamento convencional.

Os pesquisadores testaram os efeitos da ingestão de BG, induzidos à diabetesmellituse obesidade. Em animais diabéticos, a ingestão de BG reduziu as concentrações sanguíneas de glicose (30%), triacilgliceróis (32%) e da enzima alanino aminotransferase (ALT) (41%), em comparação com seus controles.

Em outro estudo, os animais diabéticos foram submetidos a indução de inflamação (pela aplicação de uma ligadura de algodão ao redor dos dentes, para acúmulo de biofilme e de inflamação periodontal). Nestes animais induzidos, o consumo de BG foi eficiente em reduzir a perda óssea ao redor dos dentes. O tratamento BG reduziu ainda a expressão de genes pró-inflamatórios como da cicloxigenase 2 (COX-2) e do ligante do receptor do fator nuclear kappa β (RANK-L) e aumentou a expressão gênica de osteoprotegerina (OPG) – que protege o osso da reabsorção.

Também foram demonstrados efeitos benéficos do consumo de BGs oriundos de leveduras sobre parâmetros metabólicos de ratos obesos. Relatado em outro estudo do grupo, foi demonstrado que o consumo de BG por ratos obesos (induzidos por dieta hiperlipídica) reduziu os níveis colesterol total (13,33%), triacilgliceróis (16,77%) e glicemia (23,97%) em relação aos animais que não receberam BG.

Professor Luciano Pereira aponta efeitos promissores do uso de beta-glucanos

Os trabalhos realizados pelo grupo foram publicados em periódicos de prestígio internacional com elevado fator de impacto e também foram apresentados em simpósios nacionais e internacionais, como o ocorrido recentemente em Las Vegas, Estados Unidos. NaInternational Conference of Obesity and Chronic Diseases, o trabalho intitulado “Effects of beta-glucans ingestion (Saccharomyces cerevisiae) on metabolism of rats receiving high fat diet” foi apresentado pelo professor Luciano Pereira e despertou grande interesse do público presente.

A pesquisa é resultado de um trabalho multidisciplinar, em parceria com profissionais de diferentes departamentos e setores da UFLA, além de instituições parceiras no Brasil e nos Estados Unidos. O trabalho também teve a participação de estudantes de graduação e pós-graduação do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias e do Departamento de Ciências da Saúde da UFLA. Adicionalmente, o professor ressalta o apoio recebidos dos órgãos de fomento Capes, CNPq e Fapemig.

Os trabalhos publicados podem ser encontrados na base de dados http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed:

  •  β-Glucans (Saccharomyces cereviseae) Reduce Glucose Levels and Attenuate Alveolar Bone Loss in Diabetic Rats with Periodontal Disease. Silva Vde O, Lobato RV, Andrade EF, de Macedo CG, Napimoga JT, Napimoga MH, Messora MR, Murata RM, Pereira LJ. PLoS One. 2015 Aug 20;10(8):e0134742. doi: 10.1371/journal.pone.0134742. eCollection 2015.
  •  de Araújo TV, Andrade EF, Lobato RV, Orlando DR, Gomes NF, de Sousa RV, Zangeronimo MG, Pereira LJ. Effects of beta-glucans ingestion (Saccharomyces cerevisiae) on metabolism of rats receiving high-fat diet. J Anim Physiol Anim Nutr (Berl). 2016 Mar 14. doi: 10.1111/jpn.12452. [Epub ahead of print]
  •  Vieira Lobato R, De Oliveira Silva V, Francelino Andrade E, Ribeiro Orlando D, Gilberto Zangeronimo M, Vicente de Sousa R, José Pereira L. Metabolic effects of β-glucans (saccharomyces cerevisae) per os administration in rats with streptozotocin-induced diabetes. Nutr Hosp. 2015 Jul 1;32(1):256-64. doi: 10.3305/nh.2015.32.1.9013.
  •  Francelino Andrade E, Vieira Lobato R, Vasques Araújo T, Gilberto Zangerônimo M, Vicente Sousa R, José Pereira L. Effect of beta-glucans in the control of blood glucose levels of diabetic patients: a systematic review. Nutr Hosp. 2014 Jan 1;31(1):170-7. doi: 10.3305/nh.2015.31.1.7597.

Confira a reportagem da TVU Lavras sobre a pesquisa