A hortaliça não convencional conhecida como almeirão-de-árvore (Lactuca cf. canadensis) pode ser encontrada em todo o território brasileiro e recebe esse nome porque pode atingir até dois metros de altura e é morfologicamente diferente do tradicional almeirão  (Cichorium intybus) encontrado em feiras e supermercados. Apesar de ser uma planta conhecida, não havia relatos sobre sua composição nutricional e fitoquímica, por isso uma tese do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da UFLA buscou ampliar o conhecimento científico sobre a botânica, genética, formas de cultivo, além das propriedades nutricionais e  compostos bioativos presentes nessa espécie.

A pesquisa foi realizada por  Ramon Soares Avelar, doutor em Fitotecnia que analisou os três tipos de almeirão-de-árvore: o de folhas verdes, o roxo liso e o roxo repicado. A professora Luciane Vilela Resende, da Escola de Ciências Agrárias e Lavras (Esal), orientadora da pesquisa, elucida que o projeto sobre o uso do almeirão possui diversos desdobramentos em curso. “Os estudos com esse almeirão-de-árvore têm sido voltados para conhecermos as propriedades antioxidantes, minerais, vitaminas, proteínas e as recomendações de usos na alimentação. Também estamos avaliando o armazenamento dessas plantas para comercialização e cedendo mudas, na medida do possível, para agricultores”, diz. 

Na  primeira etapa da pesquisa, foram realizadas análises cromossômicas e  de conteúdo do DNA para a diferenciação dos morfotipos de almeirão-de-árvore, informações importantes para o melhoramento da cultura, já que não existem cultivares comerciais disponíveis. Também foi avaliado o potencial   produtivo, nutricional e  antioxidante dos diferentes tipos dessa planta. Conforme apontou o estudo, os tipos de almeirão-de-árvore (verde, roxo liso e roxo repicado) possuem semelhanças no desenvolvimento, principalmente no crescimento vegetativo. Porém, foram encontradas algumas diferenças quanto à altura das plantas e seu  período reprodutivo. 

Além disso, o estudo apontou que o almeirão-de-árvore possui um elevado índice nutricional, com destaque para o teor de compostos fenólicos e vitamina C. Em razão dessas características, a planta é considerada um potente antioxidante. Os teores de proteínas e fibras nos almeirões-de-árvore também foram surpreendentes, sendo superiores aos encontrados em  algumas hortaliças folhosas convencionais, tais como alface-crespa, couve-manteiga e espinafre. As propriedades nutricionais do almeirão-de-árvore, encontradas na primeira colheita, neste estudo foram próximas às encontradas em ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), uma outra hortaliça não convencional, tradicional  da culinária mineira, conhecida por seu alto teor de proteínas.

Os resultados obtidos com a tese de Ramon contribuirão para o programa de melhoramento genético, com as recomendações de usos na alimentação, e para o desenvolvimento de tecnologias para a produção comercial e de sementes, além de gerar informações para o conhecimento científico Para a pesquisa, as espécies foram obtidas na coleção de germoplasma da Universidade Federal de Lavras. Segundo o pesquisador, o cultivo do almeirão-de-árvore pode ser realizado em canteiros ou de forma hidropônica.