Flor de castanheira

Plantio fora do bioma amazônico oferece dados inéditos aos pesquisadores sobre o cultivo comercial da planta.

Quando se fala em castanha-do-brasil, conhecida popularmente como castanha-do-pará, logo se associa ao seu habitat natural, a Amazônia. Os estudos sobre o comportamento da planta fora de seu bioma ainda são raros, entretanto a Universidade Federal de Lavras (UFLA) possui um plantio experimental, com mudas produzidas a partir de sementes coletadas em Mato Grosso, e tem gerado diversas pesquisas. 

Um desses estudos buscou identificar os primeiros registros de insetos visitantes e polinizadores. Assim como outras plantas, a castanheira necessita de polinizadores para que possa gerar frutos. “A flor da castanheira possui um capuz que cobre a estrutura de reprodução, e, para ser polinizada, ela precisa de um agente polinizador maior”, explica a engenheira florestal e agrônoma Clarissa de Moraes Sousa, que conduziu a pesquisa durante seu doutorado em Ciências Florestais na UFLA.

Para a pesquisa com a castanha-do-pará na UFLA, os pesquisadores instalaram uma plataforma de 18 metros de altura para observar e fotografar os insetos e, a partir de então, coletaram amostras para identificação das espécies com a ajuda de especialistas do Departamento de Entomologia da UFLA e do Laboratório de Bionomia, Biogeografia e Sistemática de Inseto da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foram identificadas seis espécies de insetos, três delas consideradas apenas visitantes florais ( não polinizadoras), outras duas, a Eulaema nigrita e a Eulaema cingulata, já são conhecidas como polinizadoras da castanha-do-brasil na Amazônia. Já a Centris lutea, ainda não havia sido identificada como polinizadora da castanha-do-pará. Ambos os insetos são abelhas, consideradas os principais polinizadores da maioria dos ecossistemas mundiais. Estima-se que possam existir cerca de 20.000 espécastanheira uflacies de abelhas no mundo.

De acordo com Clarissa, saber quais espécies são agentes polinizadores da castanha-do-pará é muito importante, já que abre as portas para o cultivo comercial da árvore em outros locais, fora do seu bioma de origem. “Ter esses insetos é a garantia de que teremos os frutos da castanheira, já que ela é altamente dependente dessas abelhas. Nas áreas em que forem implantar o cultivo dessa árvore é necessário verificar se há a existência dessas abelhas, que também polinizam outras espécies, ou atraí-las com outras frutíferas, como o maracujá e a acerola”, diz.

Outros estudos

O plantio experimental da castanha-do-brasil na UFLA foi realizado em janeiro de 1996 e levou 20 anos até a frutificação. Há quatro anos, os professores da Escola de Ciências Agrárias (Esal/UFLA) acompanham os aspectos ecológicos e silviculturais da castanha-do-pará no câmpus da UFLA, o que é inédito. De acordo com o professor Lucas Amaral de Melo, a literatura dizia que seria impossível a castanheira dar frutos fora da região amazônica. “Isso abre uma grande possibilidade para o cultivo e, além disso, podemos observar outros aspectos fenológicos das folhas, flores, frutos. Dados preliminares mostram que o comportamento da espécie aqui é bem similar ao que ocorre na sua região de origem, porém em momentos diferentes. Isso do ponto de vista da produção comercial é interessante, pois permite produzir frutos durante a entressafra da região amazônica e, consequentemente, disponibilizar mais amêndoas durante maior parte do ano, com um retorno econômico melhor”, comenta o docente.

De acordo com o professor Lucas, outros trabalhos estão sendo conduzidos a fim de dar subsídios para o desenvolvimento da silvicultura comercial da espécie de castanha-do-pará em ambiente extra-amazônico, por exemplo, análise das características químicas das castanhas produzidas em Lavras.