Um ex-aluno da Universidade Federal de Lavras (UFLA), que atualmente cursa doutorado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, encontrou a árvore tropical mais alta do mundo. Matheus Nunes, junto com um estudante de Geografia da universidade britânica (Alex Shuttleworth), identificou na área de conservação Maliau Basin (Malásia) duas árvores que superam em 2 metros e 30 centímetros o recorde mundial registrado em 2007 para árvores tropicais.

De acordo com os pesquisadores, o recorde anterior havia sido encontrado por americanos em Tawau Hills Park, no estado de Sabah, também na Malásia. As árvores identificadas por Matheus são do gênero Shorea e conhecidas popularmente como Dipterocarpo. Uma delas possui 90,6 metros e a outra 89,5 metros. Essa descoberta valoriza uma área de extrema importância para a biodiversidade. Com ela, sinto que estou contribuindo para a conservação de uma região muito sensível a impactos gerados pela produção massiva de óleo de palma. A Malásia é o maior produtor desse tipo de óleo no mundo, fornecendo para diversos tipos de indústria. Essa produção está suprimindo áreas imensas de florestas. Além disso, esta árvore está localizada em uma das poucas áreas de floresta pristina do mundo, ou seja, floresta sem nenhum registro de intervenção humana. A descoberta pode contribuir para levantar a área ao status de patrimônio da humanidade. Os malásios estão muito animados com a novidade!”, diz o doutorando.

Matheus é bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e iniciou em 2015 o doutorado no Departamento de Plant Sciences da Universidade de Cambridge, com orientação do professor David Gomes. As pesquisas que realizam buscam identificar como as mudanças climáticas globais afetam e ainda podem afetar as florestas do planeta. Com a utilização da tecnologia Lidar (o sensoriamento remoto aerotransportado), é feito o escaneamento de florestas da ilha de Borneo (na Malásia) com o objetivo de verificar como ocorre a variação do estoque de carbono, determinada por diferentes fontes (variações no solo, variações topográficas,  variações climáticas, entre outras).

Esse sensoriamento remoto permitiu ao orientador de Matheus a dedução da possibilidade de existência de árvores muito altas em locais sem histórico de intervenção humana. Indo a campo com um instrumento capaz de fazer as medições – o hipsômetro – o doutorando encontrou as árvores e observou a existência de uma distância muito pequena entre elas (cerca de 30 metros). O fato desperta questionamentos sobre os fatores que influenciaram seu crescimento. O tipo de solo, a proximidade com um córrego e o material genético são possíveis respostas, que exigem outros trabalhos científicos para serem confirmadas ou refutadas.

A trajetória na UFLA

Matheus é de Patrocínio (MG) e chegou a Lavras aos 17 anos, em 2005, para cursar Engenharia Florestal na UFLA. Ele conta que, logo no primeiro período do curso, foi agraciado com uma bolsa do CNPq para desenvolvimento de pesquisa orientada pelo professor do Departamento de Biologia (DBI) Eduardo Van den Berg“Trabalhei com o Eduardo por quatro anos no projeto Inventário Florestal de Minas Gerais e também desenvolvendo outros projetos paralelamente, como o trabalho sobre a dinâmica de uma floresta de Galeria. Além disso, tive a oportunidade de trabalhar com doutorandos, ajudando-os em seus projetos de pesquisa, como Ana Carolina da Silva e Gislene Carvalho de Castro”, relata.

Por essa trajetória, Matheus avalia positivamente sua formação na Universidade. “A UFLA me ofereceu muitas oportunidades de pesquisa, uma excelente estrutura e um ensino de excelente qualidade. Um ponto que merece ser destacado são as pessoas com quem tive a oportunidade de trabalhar, estudar e conviver, cheias de ideias inovadoras, brilhantismo e entusiasmo, e que tanto me motivaram a trabalhar com ciência”.

Matheus, que atualmente está em uma floresta na Malásia, envolvido com sua pesquisa de campo, fez questão de lembrar que é ex-morador da república Labirinto, em Lavras. Seu doutorado teve início em janeiro de 2015 e termina em janeiro de 2019. O mestrado foi cursado na Universidade de São Paulo (USP).

Veja o relato do CNPq.

Fotos cedidas por Matheus Nunes.