A modificação do meio rural para meio urbano causou alterações nas características das sub-bacias hidrográficas. A expansão urbana prejudicou o aproveitamento dos recursos naturais, tornando o conhecimento do uso e da ocupação do solo o principal instrumento para uma gestão da qualidade de vida e um meio ambiente equilibrado.

Na perspectiva voltada para as relações do homem com a natureza, a qualidade de vida é o ponto central na relação meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Ela deve ser buscada favorecendo a coletividade, como é relatado pela Constituição Federal de 1988, artigo 225: “Todos têm direito ao meio-ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente e futuras gerações”

O trabalho de autoria de Marcelo Barbosa Furtini, que concluiu o mestrado em Engenharia pela Universidade Federal de Lavras, sendo orientado pela Profa. Elizabeth Ferreira, teve como objetivo a análise temporal da sub-bacia hidrográfica do córrego Centenário, utilizando técnicas de geo-informação. A metodologia proposta utilizou-se da lei de Uso e Ocupação do Solo da cidade de Lavras, comparando a ocupação dos quarteirões, através de classes de permeabilidade e uso do solo, utilizando fotografias aéreas verticais tomadas nos anos de 1999, 1986 e 1971.

A característica mais importante dos tipos de cobertura do solo nos ambientes urbanos são as superfícies impermeáveis, que são causadas por atividades do “homem”. Superfícies impermeáveis, como telhados, estradas, e estacionamentos, tem sido considerado um indicador ambiental chave para classificar a qualidade de vida e qualidade ambiental nas cidades.

Neste sentido, para os 28 anos estudados, as áreas permeáveis reduziram 70,40%, aumentando a impermeabilidade em 217,37% da área da sub-bacia hidrográfica, mostrando um aumento das superfícies impermeáveis. O principal a ser observado é que, em 1999, a Lei de Uso e Ocupação do Solo urbano já estava em vigor e os tipos de ocupação evoluíram com valores superiores aos anos anteriores. Neste mesmo ano, a malha urbana apresentou o maior crescimento e adensamento, prejudicando o escoamento superficial e a permeabilidade da sub-bacia.

Segundo a conclusão de Marcelo Furtini, “o estudo do meio físico constituiu uma importante informação para o planejamento da gestão urbana. A tecnologia de geo-informação contribuiu para um diagnóstico, análise e modelamento, podendo auxiliar o prognóstico de controle das áreas suscetíveis à degradação da permeabilidade do solo e apropriação inadequada, estudos desta natureza auxiliam na previsão de calamidades públicas.”

“A análise temporal do uso do solo revelou que a cidade cresceu, com aumento da área construída. A urbanização foi o principal fator que determinou as mudanças espaciais do meio ambiente, pela intensificação do manejo do solo e a substituição da cobertura permeável por coberturas impermeáveis. No ano de 1999, a sub-bacia classifica-se em 67,99% de área construída, 5,08% de vegetação arbórea, 21,59% de solo exposto e 5,34% de voçoroca (degradação do solo, localizada ao lado da Prefeitura Municipal de Lavras), em relação aos seus 307 ha de área.”

A cidade e o contexto urbano são considerados um desafio para estudiosos do urbanismo. As problemáticas demandam soluções que extrapolam a esfera das disciplinas isoladas e configura-se num campo prático da interdisciplinaridade. O planejamento urbano é o principal instrumento de gestão das cidades, sem ele ficamos desprotegidos da degradação e da especulação imobiliária. É necessário utilizar leis municipais, que funcionem como ferramentas para manutenção e preservação, fazendo com que melhore a qualidade da vida e do meio ambiente.