Pedro Farnese / Ascom Ufla

A pressão populacional por recursos naturais tem causado danos ao meio ambiente. Entretanto, em alguns casos, esta destruição é feita para atender a interesses econômicos e/ou políticos, sem resultar em benefícios à maioria da população. Atualmente, o mundo tem se voltado para tentar amenizar essa situação. Preservar o ecossistema e, consequentemente, a sobrevivência humana significa, também, recuperar áreas degradadas por fenômenos naturais ou por ações do homem. Várias pesquisas têm sido feitas para melhorar essa situação. Na Ufla, por exemplo, pesquisadores do Departamento de Ciência do Solo (DCS), em parceria com diversos setores da Universidade, estão desenvolvendo uma nova técnica, utilizando espécies de plantas, para recuperar áreas que são contaminadas por diversos elementos químicos prejudiciais à saúde, dentre os quais estão os metais pesados.

O projeto intitulado “Estratégias de recuperação e monitoramento de áreas impactadas por atividades de mineração na Bacia do São Francisco” foi aprovado, recentemente, pelo CNPq. Sob a coordenação do professor Luiz Roberto Guimarães Guilherme, o estudo aborda a técnica de fitorremediação, praticada em vários países mas que, no Brasil, ainda é pouco explorada por desconhecimento do mercado e falta de capacitação técnica. O método consiste no uso de plantas para remover ou imobilizar contaminantes ambientais. “Esse tipo de método apresenta inúmeras vantagens, graças aos baixos custos de manutenção, à proteção contra a erosão eólica e hídrica, à melhoria na estrutura do solo, ao aumento da fertilidade das terras e à recuperação da estética das áreas contaminadas”, explica o professor Luiz Roberto.

DESENVOLVIMENTO – A proposta compreende trabalhos que estão sendo desenvolvidos na unidade de processamento de zinco da Companhia Mineira de Metais (CMM), localizada no município de Três Marias (MG), e na área de mineração de ouro da empresa Rio Paracatu Mineração (RPM), na cidade de Paracatu (MG). Segundo o professor, a pesquisa pretende mostrar como diminuir a possibilidade de contaminação nas áreas atingidas pelos resíduos dessas empresas mineradoras e como fazer com que algumas espécies de plantas cresçam naquela região. “Já fizemos coletas de solo, sedimentos e rejeitos e estamos estudando algumas espécies de plantas para vegetar novamente essas áreas e evitar problemas ambientais”, pontua Luiz Roberto.

Atualmente, duas plantas estão se destacando nos estudos. Na área que contém grande concentração de zinco, verificou-se que a planta popularmente conhecida como calaminácea possui uma maior tolerância a este metal. Já na região de Paracatu, grande parte do solo possui um alto teor de arsênio, o metal mais nocivo à saúde do homem. Verificou-se nesta área que as samambaias, da família das Pteridaceae, conseguem se proliferar. Essas plantas apresentaram, nesses meios contaminados, altas taxas de absorção e crescimento, além de boa produção de biomassa.

RECURSOS E PARCERIAS – A equipe de pesquisadores que desenvolvem os trabalhos de fitorremediação está na expectativa para a aprovação de um novo projeto, submetido ao Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex MG), da Fapemig. Os recursos solicitados, da ordem de R$ 750 mil, representarão um melhor suporte de equipamentos e um avanço ainda maior nos experimentos já realizados. O estudo “Estratégias de recuperação e melhoramento de áreas impactadas por atividades de mineração” prevê a criação de um Núcleo de Excelência em pesquisas sobre fitorremediação, que contará com a parceria de diversas instituições nacionais e internacionais.

Participam da concepção deste grupo as empresas Alcoa Alumínio S/A (Alcoa), Companhia Mineira de Metais (CMM), Embrapa, as Universidades Federais do Recôncavo Baiano (UFRB) e Rural de Pernambuco (UFRPE) e a University of Florida, EUA. Participa dessa parceria, também, a University of Guelph, no Canadá, onde o maior executivo da multinacional Kinross – Rio Paracatu Mineração (RPM), estudou e doou cerca de um milhão de dólares para pesquisas que se destinam à redução dos impactos ambientais nas áreas onde a empresa atua. Deste valor, a Ufla já conquistou 32 mil dólares para os estudos.

De acordo com o coordenador do projeto submetido ao Pronex MG, professor Nilton Curi, a proposta de criar um núcleo de excelência com instituições tão variadas é uma maneira de se diagnosticar seu caráter multidisciplinar, abrindo ainda a oportunidade de intercâmbio com as pesquisas desenvolvidas no Brasil e em outros países. “Essa é uma característica desejável nas atividades de ensino e pesquisa. A parceria garante a viabilidade e a operacionalidade do Núcleo, já que diversas áreas de atuação dos trabalhos poderão atuar de forma integrada, visando adequar suas ações aos objetivos e necessidades dos projetos de pesquisa a serem desenvolvidos”.