O descarte inadequado do óleo de cozinha usado pode gerar graves danos ambientais. Cada litro do produto pode contaminar 20 mil litros de água e provocar a morte de vários seres vivos. Minimizar esse tipo de impacto, buscando alternativas para o tratamento de resíduos oleosos, é o objetivo da pesquisa desenvolvida pela doutoranda Marcela Melo no Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola da Universidade Federal de Lavras (UFLA). 

A pesquisa baseia-se em experimentos com organismos microscópicos, como bactérias, fungos e leveduras. No mestrado, finalizado recentemente, Marcela trabalhou com microrganismos presentes no alperujo, resíduo muito oleoso derivado do processamento do azeite de oliva. Foram isoladas leveduras e bactérias produtoras de lipase, enzima cuja principal função é quebrar a gordura em moléculas menores.

As leveduras e as bactérias foram introduzidas, em conjunto, em um meio de cultivo composto por 50% de água, 50% óleo de cozinha já usado na fritura de alimentos e uma mistura de 1% de nitrogênio e fosfato, necessária para induzir o crescimento dos microrganismos. “Os resultados demonstraram que os microrganismos conseguiram degradar o óleo”, afirma a pesquisadora.

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Início e fim do experimento: os microrganismos conseguiram quebrar as moléculas de óleo

A quebra das moléculas de óleo confirmou a aplicabilidade das leveduras estudadas no tratamento de resíduos. De acordo com a pesquisadora, os microrganismos podem ser utilizados para tratamento de detritos domésticos e industriais. “Em uma indústria de laticínios, por exemplo, as leveduras produtoras de lipase podem ser usadas após o tratamento primário de resíduos, para reduzir a alta concentração de gordura e não comprometer as fases seguintes do tratamento”, explica Marcela.

Até o momento, foram realizados experimentos em escala laboratorial, em condições ambientais totalmente controladas. Para a aplicação prática dos microrganismos, no entanto, é necessário realizar experimentos também em estações de tratamento de resíduos, onde fatores ainda não considerados na pesquisa também podem interferir.

A dissertação foi orientada pela professora Cristina Batista, coordenadora do Núcleo de Estudos em Microbiologia Ambiental e Industrial. De acordo com a docente, a pesquisa foi norteada pelo objetivo do núcleo de “buscar soluções ou alternativas de aproveitamento e, simultaneamente, de tratamento de resíduos que são produzidos na indústria e dentro de nossas casas”.

Gláucia Mendes, jornalista Dcom

Edição do Vídeo: Rafael de Paiva, bolsista DCOM/Fapemig.