Espécies nativas podem ser extintas antes mesmo de serem descritas, alertam cientistas.

Destaque na mídia mundial nos últimos dias, os incêndios que destroem parte da floresta Amazônia causam grande preocupação ambiental, isso porque a perda de espécies  pode demorar centenas de anos para ser reposta, ou simplesmente nunca acontecer. “Se uma área de floresta for queimada duas vezes, na terceira, ela não retorna ao que era uma floresta primária, ela já vira um outro sistema”, comenta o professor de Ecologia e Conservação do Departamento de Biologia (DBI) da UFLA, Júlio Louzada.

Desde 2008, o professor realiza diversas pesquisas na Amazônia. Ele faz parte da Rede Amazônia Sustentável (RAS), um esforço de colaboração científica  que reúne mais de cem pesquisadores de dezenas de instituições  nacionais e internacionais  preocupados com a sustentabilidade dos usos da terra na região amazônica. Entre as pesquisas recentes, está a do doutor em Ecologia Aplicada Cássio Alencar Nunes, que utilizou dados da RAS para avaliar os efeitos de distúrbios como as queimadas na biodiversidade da floresta, na estrutura (biomassa, tamanho das árvores) e no solo, identificando os componentes ecossistêmicos mais afetados pelo fogo.

Os resultados do estudo mostraram que a biodiversidade é o elemento do ecossistema mais vulnerável aos distúrbios como o fogo, seguido da estrutura da floresta e do solo. “Depois que tem fogo, por exemplo, a estrutura da floresta pode voltar. Já a diversidade de espécies de árvores demora mais para se recuperar, ou pode nem voltar. A procura pelo próprio solo na verdade é o que tem sido o motivador principal dessa degradação”, explica Cássio. O professor complementa “a biodiversidade amazônica é muito complexa, ela não é possível de ser recuperada facilmente, pois é o ecossistema mais biodiverso do planeta e estamos perdendo espécies antes mesmo de descrevê-las, por uma questão de uso irracional do solo.”

O professor Louzada explica que as queimadas na Amazônia acontecem naturalmente acompanhando os ciclos do El Niño. “Quando temos os picos desse fenômeno, temos anos mais secos na Amazônia, o que propicia a ocorrência de incêndios em algumas regiões da floresta onde eles já são comuns. O problema é que, com o desmatamento e a degradação, aumenta muito a ocorrência de focos em áreas onde a queimada não é algo histórico.”

Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), dois em cada três focos de queimada registrados em agosto deste ano ocorreram na Amazônia. Louzada alerta para o fato de que os incêndios na Amazônia têm sido recorrentes. “As queimadas na Amazônia têm ocorrido cada vez de forma mais intensa e indiscriminada, porque estão ligadas ao desmatamento e grilagem. O principal evento que ocorre em sequência ao processo de desmatamento é o fogo, que é a forma mais fácil de limpar  uma área",conclui.

 

Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig

Imagens e edição do vídeo: Eder Spuri - bolsista Dcom/Fapemig