Dia 5 de junho é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data é considerada a principal pela Organização das Nações Unidas (ONU), já que mais de 100 países promovem uma mobilização global de sensibilização pública sobre o tema. Para falar desse assunto, professores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) explicam como o desequilíbrio ambiental está diretamente ligado ao aparecimento de doenças como a Covid-19.

Ao se falar sobre a pandemia, aparecem inúmeros questionamentos: “Como surgiu esse vírus?”; “foi transmitido por algum animal?”; “será que viveremos outra pandemia?”; por isso, profissionais da UFLA trazem algumas respostas e reflexões sobre a importância de se cuidar do meio em que se está inserido.

A professora do Departamento de Ciências da Saúde (DSA) Joziana Barçante explica que ao fazer um paralelo do que já ocorreu no mundo, no sentido de doenças transmitidas de animais para seres humanos nas últimas décadas, é possível verificar diversas zoonoses que ganharam destaque na mídia internacional, entre elas estão ebola, zika vírus, gripe aviária e gripe suína.

Para compreender como essas doenças são transmitidas de animais para os seres humanos, a professora traz a Covid-19 como exemplo, já que se trata de uma infecção causada por um vírus que tem origem em animais silvestres. “De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), essa infecção acometeu humanos a partir da ingestão de animais silvestres comercializados em um comércio de peixes na China. Por essa razão, a OMS preconiza que exista um controle sanitário rígido em relação aos produtos de origem animais que venham a ser comercializados e consumidos por humanos”, explica.  

Ela acrescenta que essa interação entre animais silvestres e seres humanos, seja fisicamente ou por meio da alimentação, faz com que o vírus passe por modificações evolutivas, logo, a transmissão para os seres humanos poderá ocorrer de forma mais frequente, causando outras doenças. Por essa razão é essencial o conceito de saúde única, onde exista um equilíbrio entre saúde humana, saúde animal e saúde ambiental.

É preciso refletir sobre a falta de atenção da sociedade para questões ambientais e como isso foi capaz de gerar uma nova zoonose. De acordo com o professor do Departamento de Biologia (DBI) Rafael Dudeque Zenni é necessário “adotar medidas de conservação que previnam a degradação ambiental, pois a falta de cuidado coma natureza está correlacionada com a transmissão de zoonoses, dessa forma devemos garantir que as necessidades de alimentação e nutrição de algumas comunidades sejam alcançadas, pois muitas dependem do consumo de espécies silvestres. Precisamos de uma mudança de comportamento em larga escala, pois o desmatamento e as mudanças climáticas são crises ambientais urgentes que afetam diretamente a vida de cada um de nós, como a pandemia bem nos mostra hoje”. Constantemente animais silvestres são caçados, comercializados e consumidos sem o devido controle ambiental e sanitário, já que não existem medidas de prevenção. Para evitar então o surgimento de novas zoonoses, principalmente as pandêmicas, é preciso adotar medidas que eliminem o tráfico ilegal de espécies silvestres.


O equilíbrio, a conservação e a biodiversidade

É preciso considerar que as zoonoses estão estabelecidas nos centros urbanos, como o Aedes aegypti, mosquito que transmite a dengue e que se adaptou muito bem nas cidades. A professora do Departamento de Biologia (DBI) Marina Battistetti Festozo explica que “o mosquito encontrou nas cidades condições muito melhores para a sua proliferação que nas áreas silvestres. Há diversos anos nos deparamos com surtos da doença, e o que temos feito no máximo é tentar controlar sua propagação e incidência”. Vale ressaltar que existem as doenças que há muito estavam controladas e que atualmente passam a gerar preocupação por conta da crescente degradação do ambiente, da invasão de áreas de mata, onde vivem animais silvestres, como é o caso do recente surto de febre amarela e automaticamente da pandemia da Covid-19.

Marina ressalta que o saneamento básico é uma questão essencial para o controle das zoonoses. “Locais sem água encanada e tratada, sem recolhimento e tratamento de esgotos e lixo são locais onde essas doenças terão muito mais chances de se proliferarem. Saneamento é condição essencial para a saúde pública, cuidado e bem-estar das pessoas, mas é importante lembrar que mesmo com o saneamento básico, se continuar a ocorrer essa intensa degradação dos ambientes naturais, é possível termos novas zoonoses”.

O equilíbrio ambiental pode contribuir com o bem-estar social e com uma sociedade mais saudável, a convivência gera harmonia nas diversas relações estabelecidas. “É um erro entendermos que podemos viver bem explorando a terra e a própria humanidade. Muitos ambientalistas vêm denunciando esses problemas. O que vivemos agora com a pandemia da Covid-19 é apenas um sintoma de uma crise, de um desequilíbrio muito mais amplo. Podemos, coletivamente, buscar a transformação. Empreendendo o nosso tempo, nosso trabalho, em práticas que contribuam para o bem-estar da vida humana e natural, lutando por relações mais justas e mais sustentáveis”, conclui Marina.

Colaboração de Fernanda Pizão Farhat – Bióloga da Vigilância Ambiental da Prefeitura de São Paulo

Texto: Caroline Batista e Greicielle dos Santos - bolsistas / Dcom

Edição do Vídeo: Luiz Felipe e Sérgio Augusto - Dcom / UFLA