Ao imaginar uma caverna, é provável que venha à mente um lugar inóspito. Porém, pesquisas feitas pelo Centro de Estudos em Biologia Subterrânea (CEBS) têm evidenciado não só a presença de vida neste ambiente, como também têm descoberto novas espécies. Uma das pesquisas mais recentes diz respeito à descrição de um novo gênero e nova espécie de planária estritamente cavernícola da América do Sul: a Hausera hauseri, uma planária troglóbia (estritamente cavernícola), despigmentada e sem olhos.

“Foi uma descoberta inesperada”, relata o responsável pelo trabalho de campo, professor Rodrigo Lopes Ferreira (do Departamento de Biologia da UFLA – DBI e coordenador do CEBS). A Hausera hauseri é a primeira espécie de planária da América do Sul que sobrevive somente em cavernas. Além disso, possivelmente trata-se de um relicto oceânico, que evoluiu na caverna após as galerias serem invadidas pela água do oceano (e esvaziadas, posteriormente). A planária foi encontrada em uma caverna calcária no município de Felipe Guerra, no Rio Grande do Norte, em 2010.

A descrição foi feita pela professora Ana Maria Leal-Zanchet, do Instituto de Pesquisa de Planárias Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos, no RS). Também contou com a participação da doutoranda Stella Teles de Souza, discente do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Unisinos. O estudo sobre a sua descrição foi publicado pela revista ZooKeys, em setembro (leia o artigo aqui).

A descoberta está inserida em um projeto maior do Centro de Estudos em Biologia Subterrânea: “O objetivo inicial era identificar áreas prioritárias para conservação de cavernas na Caatinga brasileira. Mas, durante o projeto, foram inventariadas dezenas de cavernas em toda a região Nordeste do país, revelando centenas de espécies novas”, conta o professor Rodrigo Ferreira. “Há pelo menos cinco novas espécies de planárias troglóbias, que descobrimos no Rio Grande do Norte e Bahia”, diz o pesquisador. Os estudos têm financiamento do CNPq e Capes.

Os nomes de gênero e espécie foram propostas em homenagem ao biólogo húngaro Dr. Josef Hauser, que imigrou para o Brasil e estudou planárias de água doce ao longo de muitos anos.

Com informações de Wagner Schiavoni, bolsista Ascom/DBI