besouro rola-bosta

Pesquisa  do Programa de Pós-Graduação em Ecologia investigou as comunidades de besouros conhecidos como “rola-bosta” em mais de cem florestas brasileiras

 A biodiversidade das florestas tropicais está sendo ameaçada devido às atividades humanas. As perdas de espécies durante distúrbios na floresta, como fogo, desmatamento, corte seletivo, entre outros, podem levar ao comprometimento de importantes funções e serviços ecossistêmicos. Um novo estudo do Programa de Pós-Graduação em Ecologia do Instituto de Ciências Naturais da Universidade Federal de Lavras (UFLA) mostra como as comunidades do besouro conhecido como “rola-bosta” - que desempenham a função ecológica de remoção de fezes e adubação do terreno - podem ser resistentes a distúrbios em florestas tropicais. 

Essa resistência está relacionada ao que se chama, em Ecologia, de redundância funcional, ou seja, o desempenho do mesmo papel no ecossistema por espécies diferentes. “Embora seja esperado que os distúrbios nas florestas influenciem toda a comunidade de plantas e animais, as espécies raras sofrem primeiro e podem desaparecer de alguns locais”, explica o pesquisador Cássio Alencar Nunes, um dos autores do estudo.

Foram coletados besouros rola-bosta em 106 florestas, distribuídas em um gradiente de distúrbio, com florestas primárias sem distúrbio, com corte seletivo e que queimaram, além de florestas secundárias. As florestas estavam localizadas na Amazônia Oriental, no estado do Pará. Com auxílio de análises computacionais, os pesquisadores também simularam perdas de espécies em cenários nos quais as espécies mais raras de besouros eram perdidas primeiro e em cenários nos quais as espécies mais comuns eram extintas primeiro. O objetivo foi investigar como a perda de espécies influencia a estrutura funcional das comunidades do besouro em escalas local e regional. No total, os pesquisadores coletaram aproximadamente 30 mil besouros de 90 espécies e simularam dezenas de milhares de perdas de espécies.

O estudo mostrou que as comunidades de besouro rola-bosta foram resistentes aos distúrbios em florestas primárias - aquelas que nunca foram completamente derrubadas -, mas foram menos diversas em florestas secundárias - aquelas que foram derrubadas, mas se regeneraram. A função ecológica de remoção de fezes foi similar ao longo de todo o gradiente de distúrbio. No geral, o conjunto de espécies de besouro rola-bosta apresentou grande redundância funcional, ou seja, a maioria das espécies era similar em termos das características que influenciam as funções ecológicas. Cássio explica que “embora as métricas taxonômicas e funcionais das comunidades não tenham sido afetadas pelo distúrbio em florestas primárias, elas diferiram significativamente entre florestas primárias e secundárias. Entretanto, nossos cenários de extinção demonstraram que existe uma dependência da escala em relação à perda de espécies, já que a estrutura funcional só foi afetada com a extinção de espécies na escala local. Como esperado, as simulações também mostraram que a perda de espécies mais raras resultou em maiores impactos na estrutura funcional do que a perda de espécies mais comuns”, disse.

Conforme aponta a pesquisa, a resistência local ao distúrbio florestal pode ser “assegurada” pela alta redundância funcional dos besouros rola-bosta Amazônicos, ou seja, mesmo quando há a perda de alguma espécie devido ao distúrbio, existem outras com características parecidas na região e que podem substituir sua função no local. É necessário, porém, manter uma rede de ecossistemas sem distúrbios na escala regional para evitar perdas locais de outras espécies e funções ecossistêmicas devido aos distúrbios florestais.

O estudo internacional “Redundância funcional de besouros rola-bosta da Amazônia confere às comunidades resistência aos distúrbios em florestas primárias” foi parte da tese de doutorado de Cássio na UFLA, com um período sanduíche na Lancaster University, no Reino Unido. A pesquisa contou com a orientação do professor Júlio Louzada e dos pesquisadores Emma Sayer e Dr. Jos Barlow da Lancaster University. Outros nove pesquisadores de diferentes instituições brasileiras e do Reino Unido também contribuíram para o estudo publicado recentemente no periódico científico Biotropica