Hoje, 21 de setembro, é Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Uma pesquisa desenvolvida no Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Lavras (UFLA) aponta o poder transformador de práticas esportivas e recreativas em crianças com deficiência, que resultam em inclusão, respeito e quebra de padrões.

Mais de 45 milhões de brasileiros possuem algum tipo de dificuldade para ver, ouvir, movimentar-se ou incapacidade mental, segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estatísticas (IBGE). Ainda de acordo com o IBGE, se o Brasil tivesse 100 pessoas, aproximadamente sete teriam deficiência motora; cinco, auditiva; e 19, visual.  Além disso, de 70 milhões de pessoas no mundo com Transtorno do Espectro Autista (TEA), dois milhões são brasileiros, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Tendo em vista esses dados, o Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Paradesporto da Universidade Federal de Lavras (UFLA) realiza práticas recreativas e iniciação esportiva com o objetivo de propor momentos de interação e, principalmente, inclusão, para crianças que apresentam alguma deficiência. O Núcleo, vinculado ao Departamento de Educação Física (DEF), atua desde 2017 e os resultados advindos dos trabalhos realizados surpreendem pesquisadores e familiares, com transformações visíveis e significativas na vida dos participantes. 

Tais mudanças despertaram o interesse para pesquisas relacionadas à inclusão de crianças com deficiência por meio do esporte. As atividades foram realizadas na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e no Centro de Educação e Apoio às Necessidades Auditivas e Visuais (Cenav). esgrima jpg

A professora do DEF e coordenadora do núcleo, Nathália Maria Resende, relata que o projeto tem como finalidade favorecer a participação de crianças que apresentam deficiência motora e intelectual. “A falta da metodologia do desporto voltado para essas crianças pode causar a inatividade. Diante dessa proposta, é notória a importância do projeto para integrá-las e incluí-las na sociedade, focando em um caminho eficaz para o desenvolvimento de atividades motoras, estimulando e valorizando as suas potencialidades.”

A diferença entre lutas e brigas para pessoas com deficiência

A pesquisadora da UFLA Juliana Aparecida Pereira desenvolveu atividades de Jogos de Oposição para que as crianças diferenciassem lutas, como esporte, de violência (brigas), pois, de acordo com ela, algumas crianças reproduziam atos agressivos em sala de aula. 

Aulas práticas foram realizadas com uma turma específica da Apae, em que todos apresentavam alguma deficiência intelectual e/ou motora. A pesquisadora apresentou os conceitos de brigas e lutas e exibiu vídeos de atletas lutadores participantes dos Jogos Paralímpicos. Durante o período da pesquisa, eles puderam vivenciar e colocar em prática lutas de curta, média e longa distância, com o uso de implementos como as modalidades Judô, Boxe, Jiu Jitsu, Karatê e Esgrima.

Com as atividades, eles compreenderam melhor sobre respeito, disciplina e autocontrole. O retorno observado pela professora Roseli Alves dos Santos, responsável pela turma da pesquisa, foi positivo, pois, no período em que as atividades foram realizadas, ela observou que os alunos estavam mais respeitosos em sala de aula. “Ao terem a iniciativa de falar a um colega ou professora que aquilo era briga e que não era certo, demonstravam que aprenderam a diferenciar lutas de brigas e o quanto a pesquisa influenciou no combate ao comportamento agressivo”, comenta Juliana. 

Jogos Paralímpicos 

Em 2019, o calendário esportivo contou com campeonatos mundiais paralímpicos de dez modalidades, além dos Jogos Parapan-Americanos de Lima. No Parapan de Lima, o Brasil conquistou 308 medalhas e o primeiro lugar no quadro geral. Ao todo, 248 atletas foram premiados.

Em 2021, o calendário contará com os Jogos Paralímpicos de Tóquio, e o Brasil já garantiu 79 vagas em 12 modalidades (atletismo, bocha, canoagem, ciclismo, futebol de 5, goalball, natação, remo, tênis de mesa, tiro com arco, tiro esportivo e vôlei sentado).

Fonte: Comitê Paralímpico Brasileiro

Práticas esportivas com crianças autistas

As práticas corporais inclusivas para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi o foco de outra pesquisa da UFLA, realizada por Ana Cláudia Vasconcelos da Costa. Foram realizadas atividades recreativas com jogos e brincadeiras, voltadas para o trabalho da coordenação motora grossa e fina, direção, equilíbrio, força, circuitos psicomotores, associação de números e cores, noções espaciais, brincadeiras populares e habilidades motoras básicas.

Primeiramente, Ana Cláudia avaliou as crianças de acordo com alguns domínios, como socialização, oralidade, convívio, funções motoras, entre outros. Após essa avaliação, houve o convívio da pesquisadora com as crianças. Por fim, para respeitar a individualidade de cada criança, as atividades eram adaptadas de acordo com as características que elas apresentavam. A pesquisadora relata que a atividade física teve um resultado positivo para as crianças com autismo, tanto no aspecto da afetividade, quanto cognitivo e motor. 

“Meu filho é autista e tem 5 anos. Antes de ele participar do projeto, não pulava direito, era agressivo, batia em qualquer um. Hoje ele aprendeu a pular, a andar com segurança, a conversar e interagir com outras pessoas; além disso, ele está mais calmo e conversa bastante. O projeto foi muito eficaz. A família precisa acreditar que vai melhorar e que vai trazer benefícios, pois ele está interagindo mais com as pessoas, conversando mais e a cada dia tem um resultado melhor”, comentou Thaís Porfírio, mãe do Rikelmy, participante do projeto. pesquisadora apae jpg

A importância do professor de Educação Física

A pesquisadora da UFLA Tássia Placedino Silva Oliveira salienta a importância do professor de Educação Física em instituições de ensino especializadas para crianças com deficiências, pois ele será capaz de planejar atividades adaptadas e adequadas para auxiliar no desenvolvimento de cada criança. 

Após coletar informações de crianças e professores que participaram das pesquisas anteriores, ela pôde comprovar que as práticas esportivas resultaram em transformações importantes. “Essas escolas já buscam promover uma aprendizagem adequada para as crianças com deficiência intelectual e/ou múltiplas, com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa. As atividades realizadas pelos projetos foram ao encontro desse objetivo e contemplaram as particularidades das crianças; asseguraram que os estímulos ofertados fossem apropriados para o desenvolvimento de todos os participantes”, comenta Tássia. 

Sendo assim, as pesquisas realizadas pelas pesquisadoras da UFLA comprovam que a aplicação de conteúdos da Educação Física Escolar, de forma lúdica, estruturada e bem conduzida nas aulas, contribui efetivamente para a autonomia, a imaginação e a cooperação entre os estudantes com deficiência motora e/ou intelectual, expandindo os conhecimentos e possibilitando uma sensação de bem-estar e, consequentemente, a inclusão e respeito,  levando-os a ter uma melhor qualidade de vida e, logo, a quebra de padrões excludentes da sociedade.

Reportagem: Greicielle Santos – Licenciada em Letras, bolsista Comunicação/UFLA

Edição do Video: Luiz Felipe - Comunicação/UFLA

Imagens: Luiz Felipe - Comunicação/UFLA e Sérgio Augusto - Comunicação / UFLA
 

Diretrizes para publicação de notícias de pesquisa no Portal da UFLA e Portal da Ciência

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A Comunicação da UFLA, por meio do projeto Núcleo de Divulgação Científica e da Coordenadoria de Divulgação Científica, assumiu o forte compromisso de compartilhar continuamente com a sociedade as pesquisas científicas produzidas na Instituição, bem como outros conteúdos de conhecimento que possam contribuir com a democratização do saber.

Sendo pequeno o número de profissionais na equipe de Comunicação da UFLA; sendo esse órgão envolvido também com todas as outras demandas de comunicação institucional, e considerando que as reportagens de pesquisa exigem um trabalho minucioso de apuração, redação e revisões, não é possível pautar todas as pesquisas em desenvolvimento na UFLA para que figurem no Portal da Ciência e no Portal UFLA. Sendo assim, a seleção de pautas seguirá critérios jornalísticos. Há também periodicidades definidas de publicação.

Todos os estudantes e professores interessados em popularizar o conhecimento e compartilhar suas pesquisas, podem apresentar sugestão e pauta à Comunicação pelo Suporte. As propostas serão analisadas com base nas seguintes premissas:

  • Deve haver tempo hábil para produção dos conteúdos: mínimo de 20 dias corridos antes da data pretendida de publicação. A possibilidade de publicações em prazo inferior a esse será avaliada pela Comunicação.

  • Algumas pautas (pesquisas) podem ser contempladas para publicação no Portal, produção de vídeo para o Youtube, produção de vídeo para Instagram e produção de spot para o quadro Rádio Ciência (veiculação na Rádio Universitária). Outras pautas, a critério das avaliações jornalísticas, poderão ter apenas parte desses produtos, ou somente reportagem no Portal. Outras podem, ainda, ser reservadas para publicação na revista de jornalismo científico Ciência em Prosa.

  • As matérias especiais de pesquisa e com conteúdos completos serão publicadas uma vez por semana.

  • É possível a publicação de notícias sobre pesquisa não só quando finalizadas. Em algumas situações, a pesquisa pode ser noticiada quando é iniciada e também durante seu desenvolvimento.

  • A ordem de publicação das diversas matérias em produção será definida pela Comunicação, considerando tempo decorrido da sugestão de pauta, vínculo do estudo com datas comemorativas e vínculo do estudo com acontecimentos factuais que exijam a publicação em determinado período.

  • O pesquisador que se dispõe a divulgar seus projetos também deve estar disponível para responder dúvidas do público que surgirem após a divulgação, assim como para atendimento à imprensa, caso haja interesse de veículos externos em repercutir a notícia.

  • Os textos são publicados, necessariamente, em linguagem jornalística e seguindo definições do Manual de Redação da Comunicação. O pesquisador deve conferir a exatidão das informações no texto final da matéria e dialogar com o jornalista caso haja necessidade de alterações, de forma a se preservar a linguagem e o formato essenciais ao entendimento do público não especializado.

Sugestões para aperfeiçoamentos neste Portal podem ser encaminhadas para comunicacao@ufla.br.



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