No início de 2017, o diagnóstico do primeiro caso de  leishmaniose visceral humana em Lavras (MG) – que foi também o primeiro do sul do estado de Minas Gerais –  chamou a atenção da população e das autoridades de saúde para a doença. A notícia recente sobre mais um caso, que resultou na morte de um homem de 36 anos no último fim de semana, reforça a importância dos trabalhos que vêm sendo realizados em torno do tema.

Casos de leishmaniose tegumentar, outra forma clínica da doença, também já foram diagnosticados em pacientes com lesões de pele residentes no município.

A Universidade Federal de Lavras (UFLA), por meio do Laboratório de Biologia Parasitária da UFLA (Biopar), vem atuando desde 2013 para compreender a epidemiologia das leishmanioses em Lavras e empregar esforços para o controle e  combate a essas doenças. O trabalho reúne profissionais e estudantes dos departamentos de Medicina Veterinária (DMV), Saúde (DSA), Biologia (DBI) e Nutrição (DNU) e é feito em parceria com a Vigilância Ambiental e Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Lavras.

Para contribuir na divulgação de informações que precisam ser conhecidas pelo cidadão, possibilitando que melhor compreenda os casos e que possa atuar na prevenção e controle da doença, o Biopar resgata o histórico da mobilização, esclarecendo pontos importantes sobre as leishmanioses.

O combate às leishmanioses em Lavras

Em 2013, casos de leishmaniose visceral em cães foram identificados por meio de necropsias feitas no setor de Patologia do Hospital Veterinário da UFLA. Esse alerta, juntamente com a constatação da presença do inseto transmissor da doença no município, levou à necessidade de se estabelecer na cidade a investigação epidemiológica. Foi então que a UFLA e a Vigilância Ambiental iniciaram um trabalho conjunto, obtendo apoio do Estado, dentro do Programa Nacional de Controle da Leishmaniose Visceral.

Lavras recebeu do Governo do Estado os kits para realização dos testes rápidos para a detecção da infecção em cães. Com o apoio da UFLA, os exames começaram a ser realizados em vários bairros da cidade. No estado de Minas Gerais, a incidência estimada seria de 2% de resultados positivos, mas em Lavras, naquele período, havia bairros com 20% de positividade.

Os animais com exames que apresentavam resultados positivos no teste rápido passavam por um teste confirmatório, conhecido como Elisa, realizado pelo laboratório de referência da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte. A partir de dois resultados positivos, os proprietários eram orientados sobre a única recomendação preconizada pelo Ministério da Saúde à época: a eutanásia dos animais. Uma parceria entre a Vigilância Ambiental e o Setor de Patologia da UFLA permitiu que os procedimentos de eutanásia fossem realizados na instituição.

O agente transmissor das leishmanioses é a fêmea do inseto conhecido como mosquito-palha.

Além de identificar os cães infectados e orientar quanto aos procedimentos, as equipes instalaram armadilhas luminosas em algumas residências, para detectar a presença do inseto transmissor em regiões específicas da cidade. O acompanhamento sistemático ocorre nos bairros em que os casos de leishmaniose visceral canina ou humana são notificados. Durante dois anos, os mesmos locais são monitorados, com armadilhas permanecendo instaladas por três noites, pelo menos uma vez por mês. A equipe da UFLA recolhe as armadilhas e faz a análise dos insetos capturados, identificando as espécies e a possível infecção por parasitos do gênero Leishmania.

O trabalho permanece contínuo e envolve também ações de educação em saúde junto à comunidade acadêmica e lavrense.

Leishmanioses: diferenças entre os tipos visceral e tegumentar

As leishmanioses são causadas por parasitos do gênero Leishmania, que, por sua vez, são transmitidos por insetos – os flebotomíneos. Mas há diferenças importantes entre os dois tipos de leishmaniose:

*O tratamento de cães não deve, em hipótese alguma, ser realizado com drogas destinadas ao tratamento humano. O tratamento autorizado a partir de 2017 deve ser realizado por um médico veterinário com acompanhamento sistemático e permanente do animal.

Ação educativa realizada em 3/4 na Praça Dr. Augusto Silva. Foto: Rafael Passos.

Ações de Educação em Saúde

Além das ações diretas de combate à doença, o Biopar/UFLA, a Vigilância Ambiental e a Vigilância Epidemiológica desenvolvem ações educativas permanentes com a  população.

Pelo projeto “Pesquisador Mirim”, por exemplo, o tema é trabalhado nas escolas das redes pública e privada, informando as crianças sobre as doenças e incentivando uma postura preventiva e proativa.

Ações de educação e saúde também são realizados pelo projeto Minuto da Saúde, que visa levar à sociedade o conhecimento gerado na academia. A ação tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). 

Eventos na Praça Dr. Augusto Silva e outros locais da cidade reforçam a mensagem junto a toda a população. No dia 19/2, as equipes compartilharam informações com a população por meio da ação educativa “Leishmaniose Visceral – conhecer, informar e prevenir”. Outra ação ocorreu nessa segunda-feira (3/7), com a Carreta da Saúde.

Capacitações dos profissionais de saúde do município também fazem parte do roteiro de ações que visam contribuir com a atualização de informações relativas às leishmanioses, auxiliando no rápido diagnóstico e instituição precoce do tratamento adequado.

Sobre o óbito registrado

De acordo com a Vigilância em Saúde da Prefeitura de Lavras, no último fim de semana, foi registrada no município a primeira morte humana por leishmaniose visceral, sendo também a primeira do sul de Minas. A vítima tinha 36 anos, era moradora do bairro Joaquim Sales e estava em tratamento há duas semanas.

O diretor de Vigilância em Saúde, Júlio Cesar Cardoso, destaca a importância da mobilização da população neste momento. “Diferentemente do mosquito que transmite a dengue, que voa em um raio de até 200 metros, o mosquito-palha é local, deslocando-se em pequenas distâncias. Por isso é fundamental o cuidado que as pessoas devem ter na limpeza de seu próprio quintal e nos cuidados com seus cães. A colaboração entre vizinhos, neste sentido, também é essencial”.

A prefeitura dará seguimento às estratégias de prevenção e combate à doença, que envolvem mutirões nos bairros para retirada de entulho, inquérito sorológico canino,  pulverizações de inseticida (de acordo com o preconizado pelo Ministério da Saúde) e  ações de sensibilização da comunidade.

Assista à entrevista realizada pela TVU Lavras sobre o tema: