Causada por um vírus conhecido como Parvovirus canino, a parvovirose é uma das doenças que mais atinge os cães. A taxa de mortalidade dos filhotes que contraem o vírus chega a 35%. Ela afeta principalmente o trato gastrointestinal dos animais. Porém, com uma técnica de ecocardiograma intitulada “feature tracking”, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) detectaram, com mais precisão e rapidez, alteração cardíaca nos cães provocada pela doença.

Sob coordenação da professora do Departamento de Medicina Veterinária (DMV) Ruthnea Muzzi, durante dois anos, o estudo avalia a função cardíaca de cães com parvovirose, em decorrência do risco do vírus atingir as células do miocárdio e alterar a contração do coração dos animais. No estudo, 36 filhotes de até um ano de idade foram analisados e divididos em três grupos: animais saudáveis, cães com parvovirose sem sepse e com sepse (quando o micro-organismo se espalha por várias partes do corpo, causando infecção generalizada).

Resultados da pesquisa revelaram disfunção da contração do coração, o que promove  dificuldades no bombeamento do sangue para o corpo. O quadro é agravado quando o animal apresenta sepse. “A nova tecnologia avalia de forma mais fidedigna e minuciosa pequenas regiões do coração dos cães, detectando a deformidade da fibra do miocárdio, o que nem sempre se vê com o ecocardiograma convencional”, explica a doutoranda do DMV Claudine Botelho de Abreu.

Assim como no ser humano, o miocárdio dos cães é o músculo cardíaco responsável pela irrigação sanguínea, que leva nutrientes e oxigênio ao coração.  Naturalmente, a fibra do miocárdio se deforma para realizar o movimento de contração e relaxamento do coração. “Com a parvovirose, o músculo do coração enfraquece e a pressão sanguínea do animal diminui, o que pode causar sua morte”, informa a doutoranda.

Desidratação

Doença aguda e contagiosa, a parvovirose causa uma infecção gastrointestinal que culmina em diarreia hemorrágica, vômito e perda de peso.  A principal razão da morte de cães decorre de desidratação. “Embora não seja transmissível aos seres humanos, a doença tem um alto risco de contágio entre cães. Sua transmissão ocorre principalmente por meio das fezes; a vacinação e a limpeza do ambiente são formas de prevenção”, frisa a veterinária.

O vírus afeta sobretudo filhotes, porque o organismo é mais vulnerável às infecções. Seu sistema imunológico ainda não se desenvolveu completamente para enfrentar os micro-organismos do ambiente externo. Além disso, a intensa atividade celular na fase de crescimento facilita a replicação do vírus. O animal com a doença precisa ser internado e isolado para evitar o contágio de outros cães.  O tratamento inclui hidratação do animal, aplicação de antibióticos, antitérmicos, remédios contra vômito e até infusão de glicose no caso de hipoglicemia. O resultado do tratamento depende muito do estado do animal e do estágio da doença.

Modelo para humanos

Muitas pesquisas da Medicina Veterinária facilitam estudos científicos para a saúde humana. Desde a década de 1970 foi descoberto o parvovírus B19, responsável pela parvovirose em crianças. Mesmo que o vírus que causa a doença nos cães não seja transmitido para o ser humano, a pesquisa da UFLA abre novos caminhos para desvendar a doença no homem. “Faltam pesquisas a respeito do impacto da infecção na função cardíaca na Medicina Humana, com o emprego dessa técnica. Nosso intuito é estimular pesquisas na área humana”, ressalta.

A pesquisa também serve de exemplo para levantar hipóteses em relação aos casos de parvovirose com quadro de infecção generalizada (sepse). “O estudo revelou disfunção importante dos cardiomiócitos (células que integram o tecido muscular cardíaco), fator que pode provocar morte. Será que quem desenvolve a síndrome pode morrer por disfunção cardíaca?”, questiona.  

 

  

Reportagem: Pollyanna Dias, jornalista- bolsista Dcom/Fapemig

Edição dos Vídeos: Luís Felipe Souza Santos  - bolsista  Dcom/UFLA