Antonieta Francisco Balbino Candido, 63 anos, estava com peso acima do ideal, dificuldades para controlar a diabetes e a pressão arterial, sentia fortes dores nas costas e nos pés e apresentava um quadro depressivo quando foi convidada a participar de uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Lavras para avaliar o efeito de treinamentos físicos no metabolismo e na qualidade de vida de mulheres com diabetes após a menopausa.

O estado em que Antonieta se encontrava é comum em mulheres nessa fase da vida. “A redução da produção dos hormônios femininos, combinada com uma alimentação inadequada e com o sedentarismo, dificultam o controle da glicemia, do colesterol e da pressão arterial. Além disso, distúrbios emocionais, como ansiedade e depressão, podem ser agravados nessa fase da mulher, reduzindo sua qualidade de vida”, explica a professora do Departamento de Saúde Aline Carvalho Pereira, coordenadora da pesquisa junto com a professora Nathália Maria Resende, do Departamento de Educação Física.

O primeiro estudo foi realizado em duas etapas. Na primeira, mulheres na pós-menopausa, com diabetes mellitus tipo 2 (forma mais comum da doença) e idade entre 47 e 65 anos responderam a questionários para avaliar a qualidade de vida, aptidão e nível de atividade física. Participaram dessa fase inicial 98 mulheres cadastradas em Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Lavras.

Entre essas mulheres, foram selecionadas aquelas com amenorreia (ausência de menstruação) há no mínimo 12 meses consecutivos, que não praticavam atividades físicas, mas estavam aptas para a prática e possuíam interesse e disponibilidade para participar dos treinamentos físicos associados à pesquisa.

Antes e após as oito semanas de intervenção pela prática de exercícios físicos com diferentes intensidades, as participantes foram submetidas a exames clínicos para avaliar dados como peso, índice de massa corporal, pressão arterial, glicemia, colesterol e triglicerídeos. O treinamento físico foi realizado entre 2018 e 2019, em duas UBSs de Lavras, com frequência de três vezes por semana e sessões de uma hora de duração.

A primeira dissertação sobre o tema, defendida por Alfredo Melhem Baruqui Junior, teve o objetivo de comparar o efeito da prática de treinamento funcional, isto é, treino que prepara o corpo para atividades da vida diária, combinando exercícios aeróbicos (como correr) e de resistência (utilizando o próprio peso corporal, como sentar e levantar, agachar e levantar, empurrar e puxar), de média e alta intensidade, nos parâmetros cardiometabólicos e na qualidade de vida de mulheres com diabetes. De acordo com estudos prévios, o treinamento funcional combinado pode ser moldado para qualquer nível de condicionamento físico e qualquer população alvo, e tem a capacidade de melhorar aspectos relacionados à execução de atividades do dia-a-dia. Entretanto, não há consenso quanto à intensidade do treinamento.

Nesse estudo, 24 mulheres voluntárias foram divididas em dois grupos: de alta e moderada intensidade, para a realização do treinamento funcional. Após oito semanas de treinamento, foi possível perceber que, independente da intensidade, a prática regular de exercícios físicos pode reduzir o percentual de gordura corpórea, melhorar o controle da glicemia e da pressão arterial.

Esses efeitos ficaram visíveis para Judith da Conceição Marciano, 61 anos. Com a diabetes e a pressão arterial muito altas antes de participar do projeto, ela conseguiu controlá-las com o treinamento. O ambiente descontraído contribuía ainda mais para a qualidade de vida. “Passávamos juntos horas muito agradáveis. A turminha era muito boa e a gente se divertia bastante enquanto fazia os exercícios”, acrescenta.

A segunda dissertação, que está sendo desenvolvida por Pedro Gustavo Machado, teve o objetivo de avaliar o efeito do treinamento funcional combinado, em moderada-alta intensidade, no mesmo grupo de mulheres, mas por um período de tempo maior. Um limitante para a realização desse estudo foi a baixa adesão, já que metade das participantes não terminaram o treinamento.

Ao final de 16 semanas, as 12 mulheres apresentaram uma melhora significativa na qualidade de vida, destacando-se os parâmetros de capacidade funcional, estado geral de saúde, saúde mental e, principalmente, vitalidade. A pressão arterial e a glicemia foram controladas. O peso corporal não foi alterado, mas o percentual de gordura diminuiu.

“Saí outra pessoa”, assim Antonieta resume o resultado da sua experiência no projeto. “Emagreci 10 quilos, agora é mais fácil minha pressão abaixar do que subir, as dores que eu sentia sumiram e a depressão passou”, conta. A partir de então, a prática de atividade física regular foi inserida em sua rotina, primeiro com as aulas de ginástica oferecidas no Centro de Referência em Assistência Social (Cras) e, durante a pandemia, com a realização de alguns exercícios em casa.

Os resultados evidenciaram que oito semanas de treinamento funcional combinado foram capazes de promover benefícios para a saúde de mulheres diabéticas na menopausa e que, após 16 semanas, os efeitos foram ainda mais evidentes, justificando a importância da mudança no estilo de vida e a constância na prática de exercício físico.

Os estudos também confirmaram que a prática regular de exercícios físicos é uma importante estratégia não-farmacológica para prevenir complicações à saúde. “Vale ressaltar o baixo custo da intervenção, que pode ser uma estratégia eficiente para programas de saúde pública. Entretanto, é importante investir em campanhas de conscientização sobre o autocuidado, a fim de aumentar a adesão à prática de treinamento físico”, conclui Nathália.

As pesquisadoras ressaltam que os benefícios estão associados a treinos realizados sob orientação profissional. Alertam ainda que, antes de iniciar qualquer atividade física, pacientes com diabetes devem ser submetidos a avaliação médica e que a prática sem orientação de um educador físico pode levar a riscos de lesão muscular.