pesquisadora segura a serralha

Conhecida na medicina popular, a planta pode ser o caminho para promover a repigmentação da pele em caso de vitiligo.

 Boa parte dos medicamentos foi descoberta inicialmente nos vegetais. As chamadas plantas medicinais e seus usos ultrapassam gerações de conhecimento popular. Porém, nem sempre esses saberes são cientificamente comprovados para identificar, além de seus efeitos, os riscos de seu uso. 

Entre as pesquisas realizadas na coleção de Germoplasma de hortaliças não convencionais da UFLA, está a da doutora Krisnanda Kelly Castro Lima, do Programa de Pós-Graduação em Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares. O estudo da serralha (Sonchus oleraceus), consumida como hortaliça e com fins medicinais diversos, teve como objetivo avaliar a toxicidade, o potencial antioxidante  e o uso  da planta para tratar doenças de pele como o vitiligo, doença não contagiosa conhecida por provocar manchas brancas na pele.

A professora da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal) Luciane Vilela Resende comenta que, tradicionalmente, a população já consome a serralha quando ainda está jovem. “Ela é considerada uma planta daninha, e que sempre serviu de alimento e também é indicada para vários problemas de saúde”.

Nativa da Europa, a  serralha é uma hortaliça que possui ampla diversidade genética e distribuição geográfica por todo o mundo. Além do consumo na culinária, essa planta tem sido utilizada medicinalmente no tratamento contra problemas hepáticos, diarreia, entre outros. “Eu encontrei vários estudos falando sobre esse possível efeito dela contra problemas hepáticos, além de possuir ação antioxidante e anti-inflamatória. Em alguns países, a serralha é usada até para o tratamento da Malária. Na UFLA, utilizamos essa hortaliça em testes in vitro para observar seu potencial antioxidante”, comenta Krisnanda.

Para avaliar a toxicidade e atestar a segurança do uso de extratos de plantas medicinais pela população, a pesquisadora utilizou o zebrafish (Danio rerio), também conhecido como paulistinha ou peixe-zebra, um pequeno peixe de água doce, nativo da Ásia, que tem sido utilizado em ensaios biológicos de extratos vegetais. Nas pesquisas para a produção de novos medicamentos, os ensaios pré-clínicos em animais são necessários e seguem a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os resultados preliminares são importantes para que os pesquisadores conheçam sobre a atividade farmacológica e a segurança da nova molécula estudada. 

Os testes com a serralha foram realizados em embriões do Zebrafish no biotério da UFLA, sob a orientação do professor Luís David Solis Murgas da Faculdade de Zootecnia e Medicina Veterinária (FZMV). “Esses estudos têm demonstrado os efeitos positivos das hortaliças não convencionais e nos dão maior segurança em relação à qual concentração dessa planta que pode ser utilizada pela população”, explica o professor.

No biotério, os extratos em diversas concentrações da serralha foram inoculados nos embriões e monitorados. Os resultados demonstraram que os extratos da serralha causaram toxicidade nos embriões de zebrafish, em uma determinada concentração específica, porém também estimularam a capacidade de pigmentação nas larvas desses mesmos animais.

O estudo de Krisnanda sobre a serralha como uso medicinal é um importante avanço para considerar a hortaliça como uma possível fonte de cura do vitiligo, porém o processo de formulação de novos fármacos pode levar anos de pesquisa, em diversas etapas, até chegar a testes em humanos, para posteriormente ser aprovado para uso pela Anvisa. De acordo com a professora Luciane, novas pesquisas serão realizadas em virtude desse estudo com a  serralha.