Que estilo de música é o seu favorito? Funk, sertanejo, MPB ou algum outro? Você já parou para refletir sobre a maneira pela qual começou a ouvir e a gostar de um ou vários gêneros musicais? Com o objetivo de compreender como as pessoas podem desenvolver o gosto musical e realizar práticas de consumo associadas a ele, pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Administração realizaram um estudo, e publicaram na Revista Brasileira de Marketing (Remark) o artigo  “Por uma Partitura Integradora: Orquestrando a Prática e o Gosto no Consumo Musical”.

Ao analisar diversos estudos na literatura relacionada ao consumo sociocultural, os pesquisadores verificaram que algumas atividades de consumo contribuem para gerar gosto por um gênero musical, e, da mesma forma, o gosto que é desenvolvido nesse processo também pode incentivar que os indivíduos efetuem ações associadas a um estilo de música. O que isso quer dizer? Que a relação entre o gosto e a prática de consumo da música constitui uma via de mão dupla, havendo comportamentos que o consumidor realiza para internalizar o gênero musical predileto, bem como externalizar apreço por suas preferências musicais.

Considerando o campo de conhecimento em Administração, as proposições desenvolvidas  no estudo podem gerar informações sobre como as pessoas são inseridas em uma comunidade de consumo, que pode envolver uma série de produtos e serviços, bem como interações sociais e culturais que a estruturam. Estar atento à relação entre o gosto musical e a prática de consumo pode ser benéfico para o mercado da música, gerando novas ideias sobre os processos e etapas que os ouvintes percorrem para se sentirem vinculados a uma cena musical.

Práticas de internalização e externalização no gosto musical

O doutorando Álvaro Leonel de Oliveira Castro, um dos autores do artigo, explica que o consumo de música pode ser observado por dois processos principais: a internalização e a externalização. A internalização refere-se às ações que o ouvinte efetua para aprender sobre um gênero musical e desenvolver habilidades que facilitam o consumo. “É importante pensar em como o consumidor foi apresentado a um gênero musical. O primeiro contato pode ser por influência de familiares e amigos, e, até mesmo, das mídias digitais – a exemplo das plataformas de streaming. A partir do momento em que o ouvinte desenvolve gosto por um gênero musical, ele se vê inserido em uma subcultura de consumo que possui um sistema de normas e valores”, explica Álvaro. 

O pesquisador complementa que esses sistemas de normas e valores são elementos que ajudam a caracterizar um gênero musical, sendo propagados por vários integrantes que fazem parte de uma cena musical. “À medida que nos aprofundamos no consumo de música, inicia-se também o processo de interação com outros detalhes, ou seja, não apenas ouvimos uma música, mas buscamos entender como funciona aquele estilo, para ficarmos atentos às qualidades, suas condições sonoras, além de outros elementos que o compõe”, ressalta.

Ainda sobre as práticas de internalização do gosto, foi destacado que os consumidores que possuem um forte engajamento com um estilo de música podem refinar as suas habilidades de escuta e apreciação observando a opinião da crítica musical e/ou das pessoas que convive no dia a dia. “É a socialização de um ouvinte chamar a atenção para alguma coisa específica e apontar os motivos que o fez gostar ou não da música”, destaca o doutorando. O pesquisador também menciona a possibilidade de que os consumidores assíduos de um gênero musical criem formas para se diferenciarem um dos outros, demonstrando o quão específico é o seu gosto por um estilo de música, ou, até mesmo, despertar o interesse por outros campos culturais. “Essa postura de distinção, inclusive, pode fazer com que o consumidor que antes era visto como apenas um ouvinte de música passe a ser percebido como alguém mais ativo e envolvido com uma cena musical”, afirma.

Em seguida, as práticas de externalização do gosto demonstraram-se relevantes e são pertinentes para explicar as ações que os consumidores efetuam com o intuito de expor o apreço por um estilo de música em específico. O estudo apontou ao menos três formas de se cumprir esse propósito. A primeira ocorreria mediante as ações que os ouvintes fazem nas comunidades virtuais, em que as interações sociais resultam na produção de conteúdo e postagens relacionadas ao gênero musical consumido. A performance vocal e o ato de tocar instrumentos musicais corresponde ao segundo modo de se externalizar o gosto musical, podendo envolver a reprodução de covers artísticos e/ou a composição de músicas autorais.

Por fim, a terceira situação refere-se à participação do consumidor nos espaços que movimentam a cena musical, a exemplo de shows, bares, festivais de música, galerias, lojas de discos, entre outros. Álvaro destaca que realizar essas ações pode gerar novas descobertas e estimular o consumo de outros gêneros musicais. “A partir do momento que vai interagindo e demonstrando o gosto, o indivíduo não só reforça sua preferência musical, mas, também, pode ocorrer de descobrir um gênero musical associado ou conhecer outros gêneros musicais. Vivenciar a cena pode despertar alguma curiosidade e desenvolver gosto por outros estilos”, explica.

Continuidade do estudo

O artigo foi publicado sob a orientação do professor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FCSA/UFLA) Daniel Carvalho de Rezende, e também contou com as contribuições do professor Mozar José de Brito. O trabalho em questão constituiu a base para a tese que está sendo desenvolvida por Álvaro Castro. A pesquisa, em andamento, visa demonstrar o modelo publicado no artigo “Por uma Partitura Integradora: Orquestrando a Prática e o Gosto no Consumo Musical” e terá o intuito de situar como essas interações ocorrem na prática, explicando, assim, o modelo teórico proposto.

 

Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.