Análise feita pelo celular

Os smartphones são dispositivos que estão evoluindo cada vez mais, o que propicia explorar aplicações pouco comuns às normalmente esperadas. Diversos pesquisadores estão explorando o uso de smartphones como ferramenta de análise para uso tanto em laboratórios quanto fora deles. Ter uma boa câmera é o principal fator influenciador do uso do aparelho, porém suas funcionalidades também permitem que os smartphones sejam utilizados para operar equipamentos de laboratório portáteis, tais como espectrômetros, microscópios e outros.

Considerando essas possibilidades, o professor Cleiton Antônio Nunes, do Departamento de Ciência dos Alimentos da Escola de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Lavras (Esal/UFLA), tem desenvolvido projetos que utilizam o smartphone com o intuito de substituir aparelhos de alto custo e uso exclusivo em laboratórios. Entre as vantagens estão o baixo custo, a portabilidade e os assessórios que podem ser acoplados ao aparelho para permitir análises que não produzem cor, independente de imagens. Nesse tipo de técnica, aplicativos específicos são usados para extrair dados numéricos das imagens ou de outra informação das amostras obtidas com o smartphone, e então correlacionar esses dados com a propriedade de interesse, usando modelos matemáticos.

Um dos experimentos realizados foi a determinação de clorofilas e carotenóides, que são pigmentos naturais presentes em vários alimentos, inclusive em óleos e azeites, e que possuem atividade biológica. “Os carotenóides, por exemplo, são reconhecidos por terem um grande potencial antioxidante e serem precursores da vitamina A”, explica o professor. Geralmente, esse tipo de análise é feita com a utilização de espectrofotômetros, equipamentos relativamente caros e que só são possíveis de utilizar em laboratórios. A intenção da pesquisa foi propor, por meio do uso de smartphones, um método rápido para determinação desses pigmentos em azeites de oliva e abacate.

Foram utilizadas 46 amostras de azeites virgens de oliva e abacate, além de misturas entre eles e com um óleo refinado para obter uma ampla faixa dos teores de clorofilas e carotenoides. A partir das imagens digitais obtidas das amostras, foram construídos modelos de predição, com diferentes condições analíticas, calibrados e validados com base nos teores de clorofilas e carotenoides obtidos por análise espectrofotométrica.

O trabalho, publicado no Journal of Food Composition and Analysis, demonstrou que o método apresentou boa qualidade nas análises em diferentes condições. O professor Cleiton explica que foi possível estimar o teor dos pigmentos naturais em azeites de oliva e abacate usando um método simples, de baixo custo, limpo, rápido e não destrutivo, além de poder ser realizado fora dos laboratórios. “O que encontramos nesse projeto vai ao encontro do potencial que os smartphones têm como ferramenta analítica, conforme tem sido relatado por outros pesquisadores ao redor do mundo”, diz Cleiton.

Outros projetos que usam essa técnica também estão sendo desenvolvidos pela equipe, tais como a determinação da doçura e textura de frutas e a avaliação da qualidade de óleos usados em fritura.

O professor Cleiton acredita que ainda há desafios, mas que no futuro, com o desenvolvimento dos smartphones, o consumidor poderá ter uma ferramenta em mãos a partir da qual ele consiga obter, em algum nível, informações sobre a qualidade dos alimentos que está consumindo.