Estudo analisou a distribuição espacial e realizou o mapeamento dos atributos físico-hídricos do local externo ao câmpus.

 Estima-se que cerca de 70% da superfície terrestre é coberta com água, a maior parte presente nos oceanos. Para nossa sobrevivência, a água doce é de fundamental importância. As principais fontes de água doce que usamos são os corpos hídricos, dos quais, destacam-se as nascentes por apresentarem boa qualidade de suas águas. As nascentes são alimentadas pelas chuvas que abastecem os lençóis freáticos. Por isso, preservar nascentes e seu entorno, chamado de área de recarga, tem sido uma preocupação constante de pesquisadores e órgãos ambientais.

Reconhecida como Blue University pelo movimento global Blue Community (Projeto Comunidades Azuis), do Council of Canadians, a Universidade Federal de Lavras (UFLA) tem como uma de suas principais metas o tratamento, o uso consciente e o reaproveitamento da água. A Universidade possui seis nascentes: uma localizada no pomar, duas próximas à estação de tratamento de água, uma na Zootecnia, uma próxima ao centro de eventos e uma externa à UFLA, que possui a maior vazão.

A principal nascente que abastece a Universidade está localizada próximo ao aeroporto municipal de Lavras, em uma propriedade particular. O local é protegido como área de proteção de mananciais e no momento não pode ser urbanizado. Em sua dissertação, a mestra Alice Raquel Caminha, do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos (PPGRH), teve como objetivo analisar a distribuição espacial dos atributos físico-hídricos da área de recarga da principal nascente que abastece a UFLA.

Por meio de análises do solo da área do entorno da nascente, foi possível conhecer o comportamento dos atributos físico-hídricos e a forma como eles estão distribuídos no local. A partir disso, poderá ser feito um mapeamento, conforme explica o professor Gilberto Coelho, da Escola de Engenharia (EEng) da UFLA. “Observamos quais são as áreas que possuem melhores características para infiltração de água, para que seja possível preservá-las. Constatamos que as regiões ao norte e ao sudoeste dessa nascente são as que têm maior influência no comportamento do lençol freático. Sabemos que às vezes não é possível reflorestar toda a área de recarga, apenas a área de preservação permanente, e no restante adotar técnicas de conservação do solo que melhorem a conservação da água”.Professor Gilberto e a mestra Alice

Entre as técnicas de conservação do solo que podem ser utilizadas no local estão: o plantio direto, ou seja, o cultivo de plantas mantendo-se os restos culturais (palhada) sobre o a superfície do solo, situação que aumenta a infiltração e a retenção da água no solo; o terraceamento, empregado em terrenos muito inclinados para o controle da erosão hídrica, e o reflorestamento. O professor ainda explica que áreas impactadas pela ação humana também são propícias para a aplicação de técnicas que melhoram a infiltração de água no solo: “nesses locais é possível, por exemplo, promover a subsolagem, uma prática de revolvimento de camadas um pouco mais profundas do solo, esta técnica reduz significativamente a densidade do solo melhorando a capacidade de infiltração e redistribuição de água no perfil do solo.

Em relação às nascentes, o docente explica que há três tipos: as perenes, que apresentam fluxo contínuo durante todo o ano; as chamadas intermitentes, quando o lençol freático é reabastecido em períodos chuvosos e permanecem escoando durante a estiagem, mas secam após um determinado tempo, e aquelas que surgem apenas durante as chuvas, conhecidas como efêmeras. “As condições de solo são importantes, como mostramos nesse estudo; porém, o principal fator que determina a quantidade de água que sai de uma nascente é a quantidade de chuva. Tivemos alguns anos ruins de precipitação, mas este ano foi muito bom. Quando temos alguns anos de chuva acima da média, a situação dessas nascentes intermitentes melhora e elas podem até se tornarem perenes”, conta Gilberto.

O próximo passo da pesquisa sobre a principal nascente da UFLA será gerar um mapa de qualidade ambiental, para definir quais são as áreas que apresentam melhores condições de infiltração e determinar o tamanho ideal da área de recarga que é preciso ter no local.