Flor da Pseudobombax furadense (Bombacoideae, Malvaceae).

A descrição da nova espécie reforça a necessidade da conservação da Caatinga e a importância de novos estudos que envolvam a biodiversidade da vegetação

 A Caatinga é um domínio fitogeográfico presente em 11% do território brasileiro, abrangendo a Região Nordeste e o norte de Minas Gerais. Estima-se que existam pelo menos 3,2 mil espécies de plantas nessa região, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Fitogeografia e Ecologia Evolutiva da Escola de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Lavras (Esal/UFLA) acrescentou mais uma espécie a essa lista, a Pseudobombax furadense (Bombacoideae, Malvaceae).

Estudos da Caatinga no norte de Minas coordenados pelo professor Rubens Manoel dos Santos já são realizados há pelo menos duas décadas. A descoberta da espécie ocorreu em um lugar conhecido como Furados. Durante estudos na área, os pesquisadores se depararam com exemplares de Embiruçu, como comumente são conhecidas várias diferentes espécies de Pseudobombax. “Ficamos intrigados porque eles apresentavam algumas características que se assemelhavam a uma espécie já descrita, Pseudobombax simplicifolium, porém com aspectos diferenciados, como o fato de apresentarem tricomas nas folhas (uma espécie de pelo) ”, comenta a doutoranda do Programa de Pós-graduação em Botânica Aplicada, Fernanda Moreira Gianasi.

As amostras foram coletadas em agosto de 2019 e janeiro de 2020 e encaminhadas ao acervo do Herbário Esal, onde foram examinadas. “Descrevemos detalhadamente, a partir de características de flores, folhas, ramos, frutos e sementes. Fizemos a comparação com outras espécies e, assim, notamos que se tratava de uma nova espécie ainda não catalogada”, explica Fernanda. De acordo com a pesquisadora, ao que tudo indica, a árvore só é encontrada na região de Furados, um local onde lajes de rochas calcárias são formadas pelo intemperismo de afloramentos calcários, dando origem a uma vegetação muito específica, com poucas e esparsas árvores. 

Para o professor Rubens, a descrição de uma nova espécie de árvore demonstra como ainda conhecemos pouco sobre a vegetação dessas áreas e enfatiza a necessidade de mais estudos na Caatinga, em especial nas áreas associadas às rochas calcárias, como  Furados e afloramentos calcários, visando principalmente a sua conservação. Segundo ele, “o endemismo da espécie associado ao ambiente de Furados, que é apenas um dos vários ambientes associados a rocha calcária, traz o caráter inovador de ser uma espécie recém-descrita, mas também ressalta a importância desses ambientes dentro dos afloramentos de calcário, para conservação. A descoberta da nova espécie demonstra como nós conhecemos pouco dessas áreas: nós nem conhecemos todas as espécies arbóreas que ocorrem ali, imagina falar sobre funcionalidade, ecologia e outros grupos de plantas, como epífitas e ervas, dentro desses lugares. É um caminho longo a ser percorrido para entender como são esses ambientes”.

A nova espécie catalogada foi classificada como vulnerável, de acordo com os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), responsável pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Isso significa que a espécie sofre um alto risco de extinção nos próximos anos, a não ser que medidas para sua conservação possam ser tomadas.  A descoberta da nova espécie de árvore da Caatinga foi publicada recentemente na revista Phytotaxa, com o título "Pseudobombax furadense (Bombacoideae, Malvaceae), a new species from the Caatingas Domain, Brazil"