Por Teodorico Ramalho
Pró-Reitor de Pesquisa e professor do Departamento de Química

 

Não é fácil definir ciência. Ao longo da história moderna da humanidade, muitos pensadores, tais como Ernst Nagel ou Fourez, discutiram esse tema. Atualmente, a ciência está muito desenvolvida e desempenha um papel importante na nossa sociedade. Sem a ciência desenvolvida como está hoje, qual seria a nossa expectativa de vida? Em 1900, a expectativa de vida era de 33,7 anos. Há séculos, quem tinha computador, internet, energia elétrica? Ou quem andava de carro, de avião ou motocicleta? Além do mais, quem ia à farmácia para comprar medicamentos e curar doenças? De fato, o mundo que conhecemos hoje não seria o mesmo se não houvesse uma ciência avançada. Dessa forma, a informação sobre a ciência é fundamental para o desenvolvimento da humanidade.

A informação científica pode ser difundida por meio da Comunicação Científica ou da Divulgação científica. A comunicação científica objetiva propagar informações por meio de resultados de pesquisas e publicações de artigos entre os pares científicos (pesquisadores/cientistas). Já a divulgação científica, ou popularização da ciência, objetiva difundir essas mesmas informações para a sociedade em geral. Enquanto a comunicação científica mantém a comunidade de pesquisadores e cientistas atualizada, a divulgação científica compartilha com a sociedade e a população as informações sobre pesquisas, sobre o avanço da ciência e da tecnologia.

Infelizmente, no Brasil, há obstáculos culturais expressivos para a popularização da ciência. Dessa forma, o povo brasileiro fica afastado das discussões sobre os temas científicos e sobre o modo de se fazer ciência. Com relação ao fazer científico, Donald Stokes, em seu livro Pasteur´s Quadrante: Basic Science and Technological Innovation, sugere a construção de quatro quadrantes em um plano bidimensional, no qual o eixo vertical representa a relevância para o conhecimento ou o grau de avanço com que a pesquisa procura estender as fronteiras do entendimento fundamental. Já o eixo horizontal representa a relevância tecnológica inspirada em sua aplicação, ou seja, diz respeito ao grau em que a pesquisa permite solucionar problemas práticos.

diagrama 1No diagrama de Stokes, o quadrante à esquerda na parte superior inclui a pesquisa básica pura. Niels Bohr é o pesquisador que simboliza esse quadrante. O quadrante inferior à direita representa pesquisas conduzidas apenas por seus objetivos de aplicação e uso, cujo representante é Thomas Edson. O quadrante localizado na parte superior à direita simboliza pesquisas que objetivam, ao mesmo tempo, tanto estender as fronteiras do conhecimento quanto solucionar problemas práticos e de relevância tecnológica. Esse quadrante é representado por Pasteur. O último quadrante, localizado na parte à esquerda da área inferior, simboliza pesquisas que não buscam o entendimento fundamental e também não são orientadas pela aplicação. Esses estudos, de acordo com Stokes, possuem menor impacto e são trabalhos direcionados a casos particulares ou estudos antecessores aos quadrantes de Bohr ou Edison.

Para Stokes, embora exista uma grande quantidade de pesquisas que podem ser caracterizadas em uma ou outra categoria, as pesquisas que em curto espaço de tempo alcançam grande impacto para a humanidade, em geral, são aquelas básicas uso-inspiradas. Ou seja, pesquisas científicas que são ao mesmo tempo influenciadas pelo entendimento fundamental, como também são movidas para a aplicação, como pode ser observado, por exemplo, nos estudos de Pasteur, na área de microbiologia, ou de Langmuir, na área de físico-química.

O Diagrama de Stokes é intuitivo e pode auxiliar como uma proposta para orientar o desenvolvimento de políticas de pesquisa, como também pode fazer parte de análises de agências de fomento. Podemos também trabalhar para estender essas reflexões ao conteúdo produzido nas ciências humanas e sociais. De fato, tanto a comunidade científica quanto a sociedade precisam compartilhar e difundir conceitos, práticas e resultados científicos. Dessa forma, os meios de difusão, tanto com relação à comunicação científica quanto à divulgação científica, devem ser valorizados, pois entender a importância, o que é e como fazer ciência é crucial para o desenvolvimento de uma nação.

 

Esta seção estará aberta, nas próximas edições da Revista, à participação da comunidade acadêmica. Se você deseja colaborar, escrevendo um artigo de opinião sobre o tema de sua pesquisa científica, envie a sugestão para www.ufla.br/suportecomunicacao.