Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Administração do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (PPGA/Cefet), com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), analisou como são delineadas e aplicadas as estratégias de inovação e imitação na indústria da moda, visando ao aumento da competitividade mercadológica.

O foco de análise da pesquisa foram empresas industriais do ramo de confecção de vestuário feminino, localizadas em Belo Horizonte, Minas Gerais. Os resultados apontaram que há marcas que baseiam-se em inovação e diferenciação para se manterem competitivas, com o propósito de oferecer algo aos clientes que torne únicas essas marcas. Pode-se perceber também que cada marca busca inovar em um sentido diferente, conforme o público a que se destina.

O estudo mostrou, ainda, que é comum o uso da estratégia imitativa, que refere-se a uma cópia parcial ou total de um produto desenvolvido por outrem, como forma de reduzir custos, riscos e incertezas, pois isso gera uma economia com pesquisas de tendências e desenvolvimento de produtos, e há mais garantia de sucesso nas vendas. Essa pode ser também uma forma de se evitar réplicas, que utilizam logos e padronagens de marcas famosas.

Apesar de parecerem opostas, inovação e imitação são estratégias que, juntas, sustentam o fenômeno da moda. Elas podem até mesmo ser combinadas, incorporando elementos que representam desde a identidade da marca até as tendências já lançadas. Seja qual for a estratégia adotada, imitação ou inovação, o estudo reforça a importância da análise de mercado e comportamento do consumidor, levando em consideração a realidade socioeconômica vivenciada pelo público de cada marca.

Uma curiosidade apontada no estudo e durante a conversa com as pesquisadoras é o fato de que a inovação geralmente é associada ao ineditismo, porém nem sempre isso significa criar um novo produto nunca antes visto. “Você pode inovar não apenas no produto, mas também nos processos de produção, nas formas de costurar, produzir, organizar, vender. Eu acredito que inovar é uma forma de pensar diferente, e que pode estar nos detalhes”, comentou uma das designers entrevistadas no estudo, que teve o nome mantido em sigilo, pelos procedimentos adotados na pesquisa.

A pesquisa faz parte da dissertação de mestrado de Rita de Cássia Leal Campos, sob orientação do professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCSA/Cefet) Uajará Pessoa Araújo. Também participaram do estudo os professores da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FCSA/UFLA) Luiz Marcelo Antonialli e Paulo Henrique Montagnana Vicente Leme. Atualmente, Rita é estudante de doutorado do Programa de Pós-graduação em Administração da UFLA.

“Os resultados da pesquisa podem impactar a maneira como os consumidores percebem e escolhem produtos, considerando não apenas as tendências, mas também o valor agregado pela inovação e diferenciação das marcas. O estudo pode auxiliar também no alinhamento das estratégias das empresas com as preferências dos consumidores, o que pode resultar em produtos mais adaptados às demandas do mercado”, comenta Rita.

A metodologia de pesquisa

A pesquisa foi iniciada em 2018. Primeiramente foi feito o embasamento teórico por meio de um levantamento e análise da literatura existente relacionada ao tema. Em seguida, definiu-se o tipo de pesquisa, qualitativa descritiva, e as técnicas a serem utilizadas para a coleta e análise de dados, que ocorreu por meio de entrevistas semiestruturadas e análise de conteúdo.

A etapa seguinte foi a identificação e recrutamento de participantes, utilizando-se a técnica snowball, em que a primeira entrevistada indicou novas participantes, e assim sucessivamente. No total, sete gestoras de empresas de moda feminina, todas com formação em Design de Moda, participaram das entrevistas, que tiveram duração de 60 a 90 minutos e foram gravadas e transcritas para análise. O objeto de estudo foi delimitado pelos seguintes critérios: ser empresa industrial do ramo de confecção de vestuário feminino, estar localizada em Belo Horizonte e ter design próprio com lançamento regular de coleções.

Para a análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo, seguindo três etapas fundamentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação. As categorias e códigos de análise foram definidos com base no referencial teórico, no roteiro de entrevista e nas percepções que surgiram das falas das entrevistadas.

De acordo com Rita, “a pesquisa identifica e destaca a coexistência e interdependência das estratégias de inovação e imitação na indústria da moda. Apesar de tradicionalmente elas serem vistas como abordagens distintas, percebemos que elas podem ser complementares e até mesmo combinadas para alcançar vantagem competitiva no setor da moda. Essa compreensão é crucial para que gestores e profissionais do ramo alcancem o equilíbrio ambiental, social e econômico”.

Acesse o artigo completo publicado em 2022, gratuitamente, no Repositório Institucional da UFLA. O estudo foi concluído em 2019. 

Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.