Artigo publicado na revista internacional Environmental Pollution aponta que a contaminação do solo com chumbo, mesmo em concentrações permitidas, afeta negativamente a comunidade de insetos das plantas. O estudo “Soil contamination with permissible levels of lead negatively affects the community of plant-associated insects: A case of study with kale” (A contaminação do solo com níveis permissíveis de chumbo afeta negativamente a comunidade de insetos associados a plantas: um caso de estudo com couve) é resultado da tese de doutorado do discente Tiago Morales Silva, do Programa de Pós-graduação em Entomologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), desenvolvida em parceria com o Instituto de Ciências Naturais (ICN/UFLA).

O experimento utilizou uma cultivar de couve e foi conduzido em casa de vegetação do Centro de Desenvolvimento de Transferência de Tecnologia (CDTT/UFLA), localizado no município de Ijaci/MG. O professor Lucas Del Bianco Faria, orientador da pesquisa, explica que o objetivo foi entender quais seriam os impactos que alguns poluentes possuem na cadeia alimentar, especificamente, focando os insetos, tanto os biocontroladores quanto os que se tornam pragas. “Utilizamos uma estufa aberta, para que a colonização das plantas por insetos ocorresse de forma natural, tornando o experimento o mais próximo possível do que ocorre em campo”, acrescenta.

Para compreender de que maneira o uso de chumbo no solo afetava esses insetos, eles plantaram as mudas de couve em janeiro de 2019, três meses após a contaminação do solo. Foram preparados dez vasos para cada tratamento: os pesquisadores contaminaram vasos com níveis diferentes, tudo de maneira controlada e utilizando níveis permitidos para o solo residencial. Após as pragas e também os biocontroladores surgirem, observou-se que, conforme aumentava o nível de contaminação do solo, dentro dos níveis permitidos pela legislação brasileira, os insetos presentes na parte aérea das plantas sumiam. 

“Nosso estudo mostra que, apesar dos níveis serem permissíveis, eles são extremamente prejudiciais à comunidade de insetos. Tanto a praga, que tem um papel negativo, quanto os biocontroladores, que tem um papel positivo, sofreram impacto negativo ao terem contato com o solo contaminado”, ressalta o professor.

Mais sobre o estudo

Os pesquisadores explicam que escolheram a couve (Brassica oleracea L., var. acephala) e os insetos associados a ela por se tratar de uma planta de rápido desenvolvimento, possui uma comunidade diversificada de insetos e é altamente consumida seja no meio rural e urbano. Além disso, estudos anteriores mostraram que a couve absorve metais pesados do solo, apresentando teores de metais que classificam essa espécie como planta normal, favorecendo esse tipo de experimento.

Eles acrescentam que os metais pesados são encontrados naturalmente nos solos em baixas concentrações; no entanto, a contaminação do solo por esses elementos é frequentemente associada a atividades como indústria, mineração e fundição, liberação de diversos resíduos, agrotóxicos, fertilizantes, entre outros. “Uma vez estabelecidos no solo, esses elementos podem ser absorvidos pelas plantas através das raízes. Assim, os metais pesados podem se acumular nos tecidos vegetais e, como esses organismos são a base das cadeias alimentares terrestres, existe o risco potencial de transferência desses elementos para organismos em níveis tróficos mais elevados”, destacam.