Visando examinar a literatura científica sobre a formação de leitores, bem como revisar as estratégias e os métodos utilizados nesse processo, uma pesquisa bibliográfica realizada em conjunto por uma professora da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e uma professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) analisou estudos e documentos educacionais sobre o tema. O trabalho constatou que os textos têm sofrido reconfigurações estruturais e que as escolas necessitam adotar praticas pedagógicas diversificadas para o trabalho com a leitura, as quais podem desempenhar um papel fundamental no aprimoramento intelectual dos alunos.

De acordo com o estudo, as mídias digitais têm transformado a forma como as pessoas escrevem e leem. Imagens, gráficos, hiperlinks, sons e outros recursos, cada vez em maior número, integram-se à escrita, de modo a contribuir para a construção de sentidos. Nessa concepção, texto não se restringe somente àqueles que usam a linguagem escrita, mas inclui também os que combinam elementos visuais, verbais e sonoros, como os infográficos, anúncios publicitários, histórias em quadrinhos, videoclipes e documentários.

O estudo constatou que essa ampliação na reconfiguração dos textos tem trazido novos desafios para o ambiente educacional, que podem ser notados nos baixos índices de avaliações externas. Em 2023, como exemplo, o Brasil continuou abaixo da média global em proficiência de leitura no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

Mas como mudar essa situação? Pesquisas consultadas mostraram que quando o leitor se interessa pelo conteúdo de um texto, isto é, quando ele não lê simplesmente por obrigação, o córtex cerebral —  responsável pela memória, percepção e linguagem —  tende a estar mais ativo. Esse tipo de leitura, segundo o estudo, por demandar uma atenção maior, possibilita uma melhor retenção das informações.

O trabalho adentrou ainda nos estudos da adaptação estrutural do cérebro. Esse mecanismo, denominado plasticidade cerebral, possibilita que o cérebro crie circuitos neurais novos, mais ou menos sofisticados. A melhora ou piora desses circuitos, conforme a pesquisa, é influenciada por fatores ambientais. O estudo conclui que, para que os leitores menos experientes consigam processar informações tão rapidamente quanto os mais experientes, é necessário oferecer ambientes educacionais que favoreçam a construção e o aperfeiçoamento desses circuitos cerebrais.

Outra forma de reelaborar positivamente os circuitos cerebrais é por meio da “leitura profunda”, segundo a pesquisa. Nela,  são realizadas hipóteses, predições, deduções, testes e interpretações durante a leitura. Diferente da “leitura superficial”, que se restringe apenas às informações imediatas, nesse tipo de leitura, o leitor usa constantemente o raciocínio analógico e inferencial para, por meio das pistas textuais que se conectam com o conhecimento prévio que possui, desvendar os múltiplos sentidos do texto.

O estudo descreve também a proposta denominada “Alfaletrar”, de Magda Soares, como uma forma positiva de trabalhar o ensino da leitura nos anos iniciais. Aponta quais são os fatores individuais e ambientais que influenciam a aprendizagem da leitura. Realiza, ainda, reflexões sobre como o leitor constrói sentido para o texto. E destaca que os problemas na leitura afetam o ensino e a aprendizagem como um todo, uma vez que os materiais didáticos e os métodos utilizados no ambiente escolar, em todas as disciplinas, empregam a língua escrita como principal forma de registro.

Para a professora Mauricéia Silva de Paula Vieira, uma das autoras dessa pesquisa, estudos como esse se tornam relevantes, pois vivemos “em uma sociedade em que os meios de comunicação de massa estão aliados às mídias digitais e em que o impresso divide espaço com as outras linguagens e semioses”. Dessa forma, “o ato de ler assume novas dimensões”. Para a linguista, “tornar-se um leitor proficiente envolve mais do que o domínio das habilidades de consciência fonológica, da relação grafema-fonema e do conhecimento de vocabulário. Envolve, também, leitura atenta, inferencial, apreciativa e reflexiva”, conclui.

O trabalho foi coordenado pela pesquisadora Mauricéia Silva de Paula Vieira, da Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas, Educação e Letras (Faelch/UFLA), e pela pesquisadora Flavia Cristina de Araújo Santos Assis, da Unicamp. Publicado na revista Linha Mestra em 2023, com o título “Leitura: tecendo diálogos sobre a formação de leitores”, o estudo oferece insights valiosos sobre a formação de leitores, fornecendo subsídios teóricos para a construção de práticas pedagógicas mais eficientes.  

Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.