Na UFLA, vegetarianos têm menores taxas de colesterol e não apresentam sinais de anemia. Taxas de glicemia e gordura corporal desses estudantes poderiam estar mais baixas.
A opção pelo vegetarianismo pode trazer muitos benefícios à saúde, desde que o indivíduo siga um cardápio balanceado, ingerindo todos os nutrientes que o corpo precisa. Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Lavras (UFLA) analisou o estado nutricional e os hábitos de estudantes universitários vegetarianos, comparando-os com os onívoros (aqueles que comem carne). O resultado mostrou que os vegetarianos estão com as taxas de colesterol mais baixas e não apresentam anemia.
De acordo com o professor do Departamento de Nutrição (DNU), que orientou o trabalho, Michel Cardoso Angelis Pereira, os dados confirmam que é possível manter a saúde mesmo sem a ingestão de carne. No entanto, outros aspectos observados indicam a necessidade de os jovens vegetarianos darem mais atenção a uma dieta equilibrada. “Esperávamos encontrar, entre os vegetarianos, menores taxas de glicose (açúcar no sangue) e menor Índice de Massa Corporal (IMC), mas não foi o que ocorreu. As taxas estão bem próximas das encontradas no grupo que consome carne. A explicação pode estar no alto consumo, pelos estudantes, de produtos industrializados”.
Michel ressalta que os vegetarianos que participaram da pesquisa demonstram saber buscar a reposição de ferro em outros alimentos (já que não apresentam anemia). Eles também tiveram maior consumo de carboidratos, ácidos graxos insaturados e fibras, conforme era esperado pelos pesquisadores; no entanto, a vida corrida do ambiente universitário, muitas vezes longe da família, pode favorecer para o consumo de produtos que não colaboram para o projeto de vida saudável que tem o vegetariano.
A pesquisa foi desenvolvida ao longo de dois anos pela graduanda em Nutrição Alexandra Vieira Gonçalves, em conjunto com outras alunas da graduação e de pós-graduação da UFLA. Um grupo, formado por 29 estudantes vegetarianos da UFLA e de 29 estudantes que utilizam normalmente a carne na alimentação, foi voluntário para os estudos. Eles anotaram tudo o que ingeriram em três dias (dias alternados) e disponibilizaram as informações para a equipe de pesquisa. Assim, foi possível calcular a quantidade de nutrientes ingeridos. Exames bioquímicos e a análise de aspectos corporais (percentual de gordura e IMC) complementaram as análises.
“A principal contribuição do estudo é a evidência de que não é necessário comer carnes para manter a saúde, sendo possível buscar os nutrientes em outros alimentos. Mas quem faz a opção pelo vegetarianismo precisa ter uma preocupação adicional na manutenção da dieta equilibrada, sendo indispensável o acompanhamento de um nutricionista”, comenta o professor.
O fato de ser vegetariana e ter o desejo de contribuir com reflexões sobre o vegetarianismo e as dietas equilibradas motivaram Alexandra a fazer a pesquisa. “De maneira geral, percebemos que tanto vegetarianos quanto onívoros podem melhorar a qualidade da alimentação, aprendendo combinações de alimentos que ajudam a absorção dos nutrientes. Por isso, nossa intenção daqui para frente é oferecer atividades de educação alimentar e nutricional aos vegetarianos, com cursos, palestras, etc. Também pretendemos colaborar com sugestões para o Restaurante Universitário da UFLA”, diz Alexandra.
Mais sobre o vegetarianismo
A opção pela dieta vegetariana pode ter diferentes motivações. Questões éticas, por exemplo, levam o indivíduo a não concordar com a criação de animais para o abate ou a alegar que o meio ambiente pode sofrer danos com essas estruturas de produção para o consumo. Há também aqueles que abandonam a carne por considerar que ela pode favorecer doenças cardíacas, a incidência de câncer e outros problemas de saúde.
Professor Michel esclarece que os estudos sobre os malefícios que a carne pode causar ainda são contraditórios. “O que está comprovado é que o consumo exagerado desse alimento realmente não é bom. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também já alertou quanto ao perigo do consumo de embutidos, considerados agentes causadores de câncer”. Ele também diz que carnes e seus derivados são grandes fontes de gorduras saturadas e colesterol e, devido às formas de preparo, também acabam sendo uma das principais formas de consumo excessivo de sódio pela população. “Portanto, para quem consome carnes e seus derivados, é preciso ter mais prudência para não exceder no consumo do sal”, alerta.
“O vegetarianismo é uma opção viável para a manutenção da saúde”, constata o professor. Uma das principais vantagens para os vegetarianos é que eles acabam ingerindo quantidades superiores de substâncias funcionais (promotoras da saúde, encontradas em grãos, frutas e hortaliças, por exemplo), entre elas, os antioxidantes (que reduzem a ação agressiva dos radicais livres, responsáveis pelo desenvolvimento de diversas doenças). O alto consumo de fibras também está relacionado com a prevenção de diferentes tipos de câncer, ajudam a reduzir a glicemia e a probabilidade de doenças cardiovasculares, além de melhorar o funcionamento do intestino.
Os riscos para o vegetariano ocorrem apenas se ele retira produtos de origem animal e não se preocupa em repor alguns nutrientes por meio de dieta equilibrada. Nesse caso, pode vir a apresentar anemias por deficiência de ferro e/ou vitamina B12, deficiência de proteínas e cálcio, o que pode levar à hipertensão e osteoporose, por exemplo. Isso é mais comum no caso do vegano (vegetariano que não consome também ovos, leite e seus derivados) que não usa meios adequados para reposição desses nutrientes.
O assunto também foi tema de matéria da TVU-Lavras (assista)
Com contribuição de Camila Caetano, jornalista e bolsista Ascom.