VARGINHA – Cheiroso, quentinho, saboroso. Um cafezinho para começar bem o dia, reanimar no meio da tarde. Uma forma gentil de receber uma visita. A bebida ajuda ainda a regar o papo com aquele amigo que se encontra por acaso na rua. Além de proporcionar prazer, o café vem sendo cada vez mais fonte de pesquisas.
Bebida consumida há séculos, por nove em cada dez brasileiros, vive um momento de crescimento da aceitação pelos consumidores de todo país, numa fase pós lua-de-mel com os achocolatados e refrigerantes. O café se reestabelece. Agora, quem diria, como bebida adequada, politicamente correta para uma geração mais preocupada com saúde, bem estar, e vem passando no teste por quem pesquisa suas mais intrigantes
propriedades.
Café para combater radicais livres? Prevenir doenças do fígado? Retardar o envelhecimento? Combater até mesmo o câncer? Pois é o que atesta uma pesquisa desenvolvida durante um ano e meio pela nutricionista Sheila Andrade Abrahão, 23 anos, que tratou de comprovar os benefícios da bebida em uma tese, durante o curso de mestrado na Universidade Federal de Lavras (Ufla), e acabou ela mesma surpreendida com os fantásticos resultados. Sheila conta que escolheu conduzir seu trabalho com base no produto influenciada pelo pai, que também trabalha em outras áreas de pesquisa voltadas para o cafeeiro, a planta. ‘Como sou nutricionista fui estudar o teor do produto’, conta. Ela informa que o seu trabalho se propôs a avaliar o potencial antioxidante e protetor de dois padrões da bebida café: rio considerado de qualidade inferior) e mole (café de excelente qualidade).
‘Nós utilizamos modelos in vitro (laboratório) e in vivo (animais)’, diz. Em todo o processo de pesquisa, utilizou-se a bebida preparada no momento do uso, ou seja, café coado em filtro de papel, preparado sem açúcar, tal qual o consumido pelo ser humano.
‘Investigamos o teor de compostos fenólicos, ácido clorogênico, cafeína, trigonelina e extrato aquoso das bebidas. A avaliação in vitro do potencial antioxidante foi investigada pelos métodos de captação de radical (DPPH) e pelo poder redutor. Já com o intuito de avaliar o papel hepatoprotetor do café contra o estresse oxidativo invivo, animais receberam doses diárias de café coado, na mesma forma como nós o ingerimos’, conta a pesquisadora.
De acordo com ela, como nos testes realizados in vitro, para análise da atividade antioxidante, os cafés não apresentaram diferenças significativas, foram então selecionadas amostras de café classificados como mole (excelente qualidade) para os testes com animais, por esta variedade apresentar melhor qualidade sensorial.
Os ratinhos foram distribuídos em três grupos de oito animais. O grupo um recebeu apenas água. O dois água e tetracloreto de carbono (substância que causa a doença no fígado, semelhante à cirrose), e o grupo três recebeu tetracloreto de carbono e café (de boa qualidade).
Esta fase de teste em animais teve duração de 30 dias. De acordo com a pesquisadora, a dose ingerida pelos ratinhos do terceiro grupo corresponde ao consumo humano diário de cinco xícaras (50 mls) de café.
Após o tratamento, a revelação: os ratos que consumiram água, permaneceram como estavam. Os que ingeriram a substância causadora da doença apresentaram um quadro agudo de cirrose com a afetação do fígado e os que consumiram a substância causadora da doença, mais o café, mantinham o órgão em perfeitas condições de saúde, ou seja, o café protegeu o organismo deles da doença, mesmo estando expostos e
sujeitos a ela.
A ingestão diária de café, em quantidade moderada, mostrou ser capaz de proteger o organismo destes animais, ou seja o fígado. ‘Isto é o que a gente chama de efeito hetoprotetor comprovado pelas provas da função hepática, pois no grupo dois, os animais apresentaram grave dano hepático e isto não ocorreu no grupo três, onde os fígados
permaneceram saudáveis’, diz.
No teste in vitro (laboratório), a bebida café, independente da qualidade sensorial, apresentou alto poder redutor dos chamados radicais livres. ‘Neste teste tivemos a confirmação da atividade sequestrante de radicais livres, indicando ser este produto um potente antioxidante, podendo atuar no combate do envelhecimento, doenças cardiovasculares e o próprio câncer’, informa.
Nos dois casos, conforme ressalta a pesquisadora, a notícia é considerada excelente para os consumidores de café de forma moderada, pois os dados obtidos permitem sugerir que a bebida apresenta potencial de atividade
antioxidante e considerável efeito hepaprotetor.