Uma pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Lavras (PPGL/UFLA) investigou o uso do ChatGPT, da OpenAI, como ferramenta no ensino de Língua Inglesa (LI) no momento em que a tecnologia chegava ao público. Os resultados mostraram que os participantes (licenciandos em Letras) reconheciam o ChatGPT como uma ferramenta ágil e criativa, útil para o planejamento de aulas, geração de ideias e elaboração de atividades, mas apontou também os desafios e dificuldades aos quais os professores devem estar atentos ao utilizar o recurso em sua prática pedagógica.
“A ideia surgiu concomitantemente ao lançamento do ChatGPT versão 3.5, em 2022, quando a tecnologia já se mostrava revolucionária, com todas as potencialidades que estavam começando a despontar”, diz o pesquisador Roberto Magalhães, autor da dissertação. Vinte e quatro graduandos matriculados no 9º período do curso de licenciatura em Letras/Inglês da UFLA, na disciplina “Tecnologias de Informação e Comunicação no Ensino de Línguas”, foram estimulados a utilizar o chat para criar atividades de ensino da Língua Inglesa. A partir dessa experimentação, eles responderam aos formulários on-line da pesquisa, com questões abertas e fechadas. A professora Patrícia Vasconcelos Almeida, responsável pela disciplina e orientadora do estudo, explica que os licenciandos restringiram-se à criação das atividades em Língua Inglesa. “Optamos por solicitar que eles elaborassem a atividade porque queríamos avaliar como seria essa interação entre eles e o recurso de IA: a interação linguística nos comandos e as respostas que obteriam", complementa.
As respostas foram analisadas utilizando-se métodos quantitativos e qualitativos. O estudo baseou-se nos conceitos teóricos da CALL (Computer-assisted Language Learning) e nos estudos recentes sobre o uso de modelos de linguagem na educação, abordando também a evolução das tecnologias no ensino e os avanços históricos e sociais que moldaram os processos educativos ao longo do tempo.
De acordo com Roberto Magalhães, os resultados abrangem percepções positivas pelos licenciandos, como a possibilidade de elaborar atividades com maior rapidez, desenvolver atividades que se adequassem às necessidades dos prováveis alunos e a flexibilidade do chat para constantes ajustes e aprimoramentos.
Contudo, o estudo também indica limitações relacionadas à confiabilidade das respostas, à precisão das informações fornecidas e à dependência de comandos (prompts) bem elaborados. “Para toda ferramenta de inteligência artificial, não é dispensável o crivo humano e a reflexão sobre aquela atividade que está sendo criada pela IA, para não perdermos de vista a criticidade que só o ser humano consegue contemplar”, comenta o autor. “O papel do professor na aprendizagem aparece como fator crucial para garantir a eficácia e adequação dos conteúdos gerados ao contexto educacional”, enfatiza.
A pesquisa conclui que o uso do ChatGPT possui potencial significativo como recurso de apoio ao ensino de LI, mas requer formação docente contínua, postura crítica e domínio técnico da ferramenta. O estudo contribui para o debate atual sobre as transformações no ensino de línguas promovidas por tecnologias emergentes e aponta caminhos para investigações futuras sobre IA e educação. “Várias outras pesquisas podem se desdobrar a partir daí”, diz a professora Patrícia.
Roberto esclarece que uma limitação da pesquisa é o fato de seus resultados não poderem ser generalizados, já que o número de licenciandos participantes foi restrito. A versão estudada também não incluía ainda as potencialidades de interação por voz e outros recursos que foram lançados posteriormente. Ainda assim, as observações do estudo permanecem relevantes porque refletem as impressões iniciais sobre o uso pedagógico desta tecnologia, servindo como registro importante do processo de inserção da inteligência artificial generativa no contexto educacional.
O projeto contou com a colaboração das professoras Mauricéia Silva de Paula Vieira e Ana Carolina de Laurentiis Brandão, membros externos da Banca Avaliadora e suporte financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (Capes).
Texto: Rodrigo Penha, bolsista Pibec. Revisão editorial: Ana Eliza Alvim, jornalista UFLA.