A língua portuguesa, tida como o quinto idioma mais falado do planeta, é repleta de particularidades. Utilizar o dicionário em casos de dúvidas sobre significado ou escrita de uma determinada palavra é o recurso adotado pela grande maioria dos brasileiros. Mas, e se for preciso escarafunchar* um lugar para saber o que quer dizer estrupício**? Qual caminho se deve tomar? Pensando nisso, o professor do Departamento de Estudos da Linguagem da Universidade Federal de Lavras (DEL/UFLA) Marco Antônio Villarta Neder está participando, com pesquisadores de outras universidades, de uma pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que irá criar um dicionário de vocábulos não convencionais do português brasileiro.
Desde 2006, em 5/11 comemora-se o Dia Nacional da Língua Portuguesa, que, usualmente, é alvo de ponderações, análises e críticas. O idioma é tido, por vezes, como a língua mais difícil do mundo. “De fato, toda língua tem sua complexidade, mas observamos de uns tempos para cá que diversos dicionários, que trazem a linguagem do cotidiano, com uso coloquial, estão sendo produzidos”, explicou Villarta.
As diferenças nos registros (norma culta / norma popular) abordam questões que englobam a linguagem oral, a escrita, o nível educacional e até mesmo o meio social em que o falante está inserido. Tais fatores podem ser observados até mesmo em outras culturas, já que a língua portuguesa é o idioma oficial também dos países Portugal, Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné-Bissau.
O propósito na elaboração do dicionário de vocábulos não convencionais é trazer palavras que podem ser excluídas do uso cotidiano ou até mesmo desvalorizadas. “A grande 'sacada' desse projeto é descrever as expressões abordando não só a origem, história da mesma, mas também utilizar a descrição para explicar o contexto em que aquele verbete é utilizado”, disse o professor.
No Brasil, há poucos estudos que revelam a importância de se contemplar o uso da linguagem oral em uma obra nos moldes de dicionário. O projeto vai contribuir para um ensino da língua portuguesa com maior interação da linguagem, em que o aluno vai perceber o cotidiano em textos ou discursos, recuperando sua história de leitor ou falante, realizando novas leituras de forma mais agradável.
Segundo Villarta, “o dicionário proposto vai contribuir e auxiliar professores, pesquisadores e a sociedade de forma geral a observarem as características peculiares da língua oral e escrita, o processo da construção de palavras do português brasileiro e reconhecer que a língua não é estática, mas sim viva e mutante”.
Os pesquisadores levantaram em torno de 2 mil verbetes, que passarão por uma seleção, para dar origem ao documento com cerca de 900 palavras. Feito isso, o relatório do projeto será finalizado e, de acordo com o professor Villarta, a previsão de lançamento será no final de 2020.
Comemoração e história
A escolha da data para comemorar o Dia Nacional da Língua Portuguesa é uma homenagem ao escritor brasileiro Ruy Barbosa, que nasceu em cinco de novembro de 1849 e é considerado, até hoje, um dos maiores estudiosos da língua.
*procurar / sondar
**grosseiro / inconveniente – algazarra / rebelião
Texto: Caroline Batista, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Imagens: Eder Spuri - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA