Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) integram a equipe autora do estudo publicado nesta quarta-feira (29/6) na Nature, uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo. A pesquisa demonstra que a perda de biodiversidade na Amazônia é significativa não apenas quando ocorrem os desmatamentos (perda total da cobertura florestal), mas também quando as florestas são alvo de perturbações, como os cortes seletivos de madeira, os incêndios e a fragmentação de áreas florestais remanescentes dos desmatamentos.

Foto de Jos Barlow. Corte seletivo na Amazônia.

O impacto geral das perturbações na biodiversidade foi analisado considerando-se a vegetação (1.538 espécies de árvores), pássaros (460 espécies de árvores) e besouros (156 espécies). A área amostral da pesquisa está localizada nos municípios paraenses de Santarém e Paragominas – uma região de cerca de 3 milhões de hectares. Os pesquisadores dividiram essa área em 31 regiões, selecionando florestas em diferentes estágios de conservação – desde aquelas consideradas intocadas, até aquelas altamente perturbadas pela ação do homem (embora não desmatadas). Analisando em conjunto as respostas dos organismos estudados, os pesquisadores constataram que as regiões florestais que sofreram perturbações tiveram perdas de biodiversidade equivalentes àquelas perdas identificadas em áreas desmatadas, onde há eliminação de habitats.

O impacto das perturbações florestais por atividades humanas no Pará corresponde a uma perda de 139 mil km2 de floresta intacta. Essa dimensão é igual a todo o desmatamento identificado no Estado desde 1988, ano que inaugurou o monitoramento oficial do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A relevância do resultado está no fato de que o Brasil vem avançando no combate ao desmatamento, podendo ser considerado, de acordo com os pesquisadores da UFLA envolvidos, um líder mundial no enfrentamento à derrubada de florestas. No entanto, para preservação efetiva da biodiversidade, será necessário investir no controle de práticas que, mesmo não eliminando a cobertura vegetal das florestas tropicais, provocam modificações relevantes em sua estrutura – as chamadas perturbações.

O estudo Anthropogenic disturbance can be as important as deforestation in driving tropical biodiversity loss, traduzido como “Perturbação antropogênica pode ser tão importante quanto o desmatamento na condução de perda de biodiversidade tropical”, foi desenvolvido a partir da colaboração de 18 instituições, sendo 11 delas brasileiras, todas unidas em um consórcio que forma a Rede Amazônia Sustentável (RAS). A coordenação da Rede é feita pela Embrapa Amazônia Oriental, pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, pela Universidade de Lancaster (Reino Unido) e pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (Suécia). A RAS é também parte do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Besouro escarabeíneo. Foto de Hannah Griffiths.

Participação da UFLA no Estudo

Os pesquisadores da UFLA atuaram na pesquisa desenvolvendo os estudos relativos aos besouros escarabeíneos e, posteriormente, debatendo seus resultados com o restante do grupo. Entre 2010 e 2011, houve a coleta dos insetos na região amazônica para análises. Os besouros foram escolhidos para compor as amostras por serem considerados um excelente grupo bioindicador de qualidade ambiental e por estarem intimamente relacionados às características ambientais. Também apresentam vantagens na relação custo-benefício de amostragem.

Fazem parte da equipe o professor do Departamento de Biologia (DBI) Júlio Louzada; o pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada, Rodrigo Braga; a também pós-doutoranda Juliana Silveira e o doutorando Victor Hugo Fonseca Oliveira, ligados ao  Laboratório de Ecologia e Conservação de Invertebrados .

O autor principal do artigo, professor da Universidade de Lancaster – Jos Barlow – coordenou a elaboração do artigo durante seu período sabático, na qualidade de pesquisador visitante do CNPq na UFLA . O pesquisador retornou à Inglaterra em abril de 2016, após 12 meses em Lavras. As pesquisas conjuntas que desenvolve com a UFLA estão relacionadas à parceria existente entre a instituição e a Lancaster University, que abrange também outros programas de pós-graduação, além do de Ecologia Aplicada.

“Esses resultados devem servir de alerta para a comunidade global”, afirma Jos Barlow sobre o artigo publicado. “O Brasil demonstrou uma liderança sem precedentes no combate ao desmatamento na última década. O mesmo nível de liderança é necessário agora para proteger a saúde das florestas restantes nos trópicos. Do contrário, décadas de esforço de conservação terão sido em vão”.


Foto de Alexander Lees. Guaruba (Guaruba guarouba), uma das espécies vulneráveis ​​do estado do Pará.

Contribuições para a formulação de novas políticas públicas

O pesquisador Victor Hugo ressalta que os resultados já apurados com a pesquisa têm subsidiado diálogos da Rede com organizações não-governamentais, com setores privados (agrícolas) e setores governamentais que podem contribuir para a formação de políticas públicas voltadas à preservação da biodiversidade. “Os resultados do nosso estudo servirão de subsídio para os tomadores de decisão da região, auxiliando no estabelecimento de novas ações e políticas públicas de conservação. Nossos resultados despertaram o interesse de vários desses agentes, tendo, inclusive, subsidiado uma lei estadual (no estado do Pará) referente ao manejo das florestas secundárias. Já temos planejado alguns eventos para expor o nosso trabalho à sociedade e promover a integração com os tomadores de decisão”, relata.

As evidências já encontradas são também a base para novas pesquisas já iniciadas, que buscam novas respostas para a questão da conservação da biodiversidade na Amazônia.

Espécies raras ameaçadas

Outra descoberta do estudo é que as espécies sob risco máximo de extinção foram as mais atingidas pelas perturbações causadas por atividades humanas. É o caso das muitas espécies de aves, que não sobrevivem em ambientes atingidos pela perturbação florestal. Segundo uma das pesquisadoras, Ima Vieira, do Museu Emílio Paraense Goeldi, o Pará abriga mais de 10% das espécies de aves do planeta e muitas delas são endêmicas da região, sendo justamente as mais afetadas.

Acesso ao artigo: http://www.nature.com/doifinder/10.1038/nature18326

 

Foto de Adam Ronan.
Foto de Alexander Lees.
Foto de Adam Ronan.

Diretrizes para publicação de notícias de pesquisa no Portal da UFLA e Portal da Ciência

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