Novas espécies da família Styloniscidae foram encontradas em cavernas do Centro-Oeste mineiro pelos pesquisadores do Centro de Estudos em Biologia Subterrânea (Cebs).
As cavernas são ambientes que abrigam diversas formas de vida, alguns organismos inclusive evoluíram para viver especificamente nesses locais com ausência de luz, os chamados troglóbios. Entre esses encontram-se crustáceos popularmente conhecidos como tatuzinhos, os quais pertencem à ordem Isopoda. Nesse grupo, existe uma família chamada Styloniscidae, que contém atualmente seis espécies descritas para o Brasil, cinco delas cavernícolas. Novas espécies dessa família foram encontradas em 12 cavernas na província espeleológica que fica entre as cidades de Arcos, Pains, Doresópolis, no Centro-Oeste mineiro, e a bióloga e pós-doutoranda do Centro de Estudos em Biologia Subterrânea (Cebs) Rafaela Bastos Pereira tem trabalhado na descrição dessas espécies. “Nossa equipe tem encontrado uma série de ocorrências desses animais nessa região. As descrições estão sendo feitas em parceria com outra especialista no grupo, a professora Leila Souza, da Universidade Estadual do Ceará. Acreditamos que haja 14 novas espécies pertencentes a um gênero chamado Spelunconiscus, que tem apenas uma espécie descrita até o momento”, explica.
A pesquisadora relata ainda que as diferenças entre essas espécies novas é bem sutil, pois esses animais são encontrados em ambientes com condições muito parecidas. Assim, ao longo do tempo foram submetidos a pressões semelhantes que levaram à evolução de morfologias bastante similares. A ocorrência de tantas espécies novas em uma região relativamente pequena chama a atenção dos cientistas pela diversidade, conforme explica Rafaela: “cada caverna parece possuir uma espécie diferente, inclusive encontramos duas espécies do mesmo gênero em uma única caverna. Esse é um grupo promissor e muitas novidades estão por vir”.
Como os isópodes terrestres, de forma geral, dependem de umidade e vivem em locais mais sombreados, as cavernas acabam representando um ambiente bastante favorável. “Alguns tatuzinhos dessa família apresentam hábito anfíbio; então podem ser encontrados tanto dentro quanto fora da água, mas estão sempre nas proximidades das poças, como é o caso dessas espécies que estamos estudando.” Nas cavernas, essas espécies geralmente são encontradas em represas de travertinos (um tipo de formação que ocorre em função da dissolução da rocha e circulação da água no ambiente subterrâneo ao longo de milhares de anos). Os travertinos acumulam água, principalmente no período chuvoso, quando os isópodes são mais fáceis de serem encontrados. Já no período de seca, quando a água presente nos travertinos fica limitada, os pesquisadores acreditam que os tatuzinhos migrem verticalmente pela caverna em busca de espaços na rocha que ainda contenham um pouco de água ou pelo menos que retenham maior umidade. Com isso, é possível que essa migração vertical possa ter gerado um isolamento entre as populações de tatuzinhos de cada caverna, o que, em longo prazo, de acordo com os cientistas, pode ter levado a uma separação das espécies, dando origem, então, à alta diversidade hoje conhecida para a região.
Em seu doutorado, Rafaela comparou os tatuzinhos que vivem fora de cavernas com os cavernícolas, para observar se há diferenças significativas em padrões gerais de diversidade e uma diversidade mais alta foi observada para as cavernas. Porém, mesmo que haja mais espécies no ambiente subterrâneo, elas apresentam características muito parecidas entre si e a maioria pertence ao mesmo gênero.Como os isópodes são animais muito pequenos, sua coleta para análises requer muito cuidado. “Utilizamos redes de mão e pincel porque eles são bem sensíveis, medem cerca de um centímetro, as vezes até menos.” Depois de coletados, os animais seguem para análise, identificação e descrição no Cebs. Nos últimos anos, conforme dados do Centro, mais de cem espécies de organismos cavernícolas foram descritas pelos pesquisadores Cebs e outros parceiros associados. Embora os tatuzinhos representem um grupo altamente diverso no ambiente externo, apenas 13 espécies troglóbias já foram formalmente descritas; no entanto, os trabalhos taxonômicos em andamento no Centro levarão a um aumento substancial na diversidade conhecida para esse grupo.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA