Todas as espécies têm uma distribuição geográfica específica, histórica. Contudo, muitas vezes elas são introduzidas em outros locais por ação humana. Uma parcela dessas espécies não nativas (também conhecidas como exóticas) consegue se adaptar ao novo local e formar agrupamentos, dominando, assim, o ambiente onde foram inseridas. Essas são as espécies exóticas invasoras, que, muitas vezes, geram impactos negativos à biodiversidade.
Por esse motivo, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Instituto Hórus e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade realizaram um estudo para avaliar o desempenho do Brasil no cumprimento das metas da Estratégia Global para Conservação de Plantas (GSPC) para espécies exóticas invasoras. A pesquisa foi publicada em um volume especial do periódico Rodriguésia inteiramente dedicado aos avanços feitos pelo Brasil na GSPC.
Um dos autores do artigo, professor Rafael Dudeque Zenni (UFLA), explica que o Brasil tem 20 metas a cumprir até 2020. Uma delas diz respeito à elaboração de estratégias para impedir que essas espécies exóticas invasoras afetem a biodiversidade. Ou seja, desenvolver planos de manejo que evitem o impacto na flora nativa, principalmente em espécies endêmicas, ameaçadas de extinção, e em áreas de conservação.
O artigo é fruto de uma avaliação dos trabalhos realizados no Brasil ao longo de 10 anos. “Revisamos os planos de manejo das unidades de conservação, para saber se havia qualquer tipo de menção ao controle de espécies exóticas invasoras. Também realizamos entrevistas com gestores de unidades de conservação e gestores ambientais para saber se havia algo que ainda não estava publicado, mas já em andamento. E ainda um levantamento de toda a legislação brasileira”, comenta Zenni.
O professor comenta que em unidades de conservação de proteção integral é proibida a presença de espécies exóticas invasoras, pois elas podem impedir que outras espécies se estabeleçam naquele local. “Essas unidades são criadas justamente para preservar a biodiversidade nativa. Esse trabalho é importante para sabermos se estamos avançando ao longo do tempo em questões ambientais relevantes e conhecer as principais lacunas ainda existentes”, complementa.
Resultados
Das 324 unidades de conservação federais, os pesquisadores encontraram 248 planos de manejo disponíveis no site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Oito planos não estavam disponíveis publicamente ou os arquivos estavam corrompidos. Para as restantes 240 áreas protegidas, 43 não mencionaram invasões ou espécies invasoras. Nos restantes 197 planos de manejo (82%), a presença de espécies invasoras dentro da área protegida foi relatada e algum curso de ação foi indicado para espécies invasoras e / ou invasões.
Segundo os pesquisadores, alguns planos de gerenciamento sugeriram mais de um curso de ação. A recomendação mais frequente foi a erradicação (n = 111), seguida de controle (n = 90), pesquisa (n = 84), restauração (n = 49), proibição (n = 47), monitoramento (n = 43), manejo (n = 40), confinamento (n = 31), inspeção fronteiriça (n = 17) e reposição (n = 16). Indicações para cursos de ação para espécies invasoras, no entanto, foram apenas vagamente citadas e nenhum dos planos de manejo apresentou um plano de ação detalhado, incluindo metas, cronogramas, orçamento, tarefas ou atribuições de tarefas.
“A revisão dos planos de manejo e questionários parece indicar que as áreas protegidas estão longe de ter planos de manejo efetivos para prevenir novas invasões biológicas e administrar áreas importantes para a diversidade de plantas que são invadidas. Embora algumas iniciativas adequadas possam existir, a regra geral para áreas protegidas parece ser a falta de treinamento adequado e ação prática”, comentam os autores.
Reportagem: Camila Caetano, jornalista - Dcom
Edição do Vídeo: Maik Ferreira - estagiário Dcom/UFLA