O rompimento da barragem de Brumadinho, na última sexta-feira (25/1), trouxe novamente à tona o impacto causado pelos rejeitos da mineração na população que vive ao redor das mineradoras, assim como o dano ambiental resultante do comprometimento de ecossistemas. No Brasil, o estado de Minas Gerais possui o maior número de barragens de rejeitos, além de ser também a unidade da federação com o maior número de registros de rompimento dessas estruturas.
Na UFLA, uma pesquisa iniciada em 2016, após o desastre de Mariana, levantou o grau de vulnerabilidade socioecológica de áreas próximas às barragens, que podem ser impactadas em caso de rompimento. O estudo originou a dissertação do mestre em Ecologia Aplicada Fernando Balbino de Souza, sob a orientação do professor do Departamento de Ciências Florestais Luís Marcelo Tavares de Carvalho.
A partir da utilização de dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Zoneamento Ecológico-Econômico de Minas Gerais (ZEE-MG) de 2015, Fernando desenvolveu o Índice Vulnerabilidade Riparia Socioecológica (IVRSEs) – indicador utilizado para avaliar cerca de 730 regiões mineiras onde há rios que poderiam ser comprometidos pela ruptura de barragens de rejeitos.
De acordo com os pesquisadores, entre as variáveis utilizadas está a vulnerabilidade natural, índice que foi construído a partir de informações como tipo de solo, vegetação e animais daquele local. Já os dados do IBGE forneceram elementos sobre a população dessas áreas para avaliação da vulnerabilidade social da região. “Conseguimos prever os possíveis danos causados por todas as barragens de Minas caso aconteça um rompimento, pois calculamos o número de pessoas que estão ali perto desses rios que seriam atingidos. Também nos baseamos na situação daquelas terras: se elas são agricultáveis, preservadas ou já degradadas”, explica o professor Luís.
As regiões do Quadrilátero Ferrífero – local onde fica Brumadinho - possuem índice Alto e Muito Alto de vulnerabilidade, de acordo com a pesquisa. “São áreas que levarão centenas de anos para serem recuperadas. A elevada densidade populacional dessas regiões também eleva o índice”, explica Fernando. O estudo não avalia o risco das barragens se romperem, mas sim como seria a situação dos rios e do entorno se atingidos pelos rejeitos.
O índice criado pelos pesquisadores mostrou ser uma importante escala de representação espacial da hidrografia de Minas Gerais, podendo ser utilizado para a implantação de políticas públicas. “Os gestores podem ter um diagnóstico de como está a situação e qual é o perigo que enfrentamos nas regiões que estão sujeitas a serem impactadas por barragens de rejeitos. Os dados mostram quais áreas são mais perigosas e onde as ações devem ser mais direcionadas”, enfatiza o professor.
Rio Grande
Um dos principais rios do sul de Minas, o Rio Grande - cuja bacia é responsável por cerca de 67% de toda a energia gerada no estado mineiro -, possui barragens que poderiam causar impactos em um elevado número de pessoas, inclusive em âmbito internacional. “Além da falta de água e luz, que poderia ocorrer em diversas cidades, há a questão geopolítica, uma vez que esse rio é o principal afluente do rio Paraná, que faz a divisa do Brasil com a Argentina, ” diz Fernando. A região do Sul de Minas tem 15 mineradoras em operação e concentra barragens em Caldas, Nazareno, Guaranésia, Fortaleza de Minas, São Tiago, Passos e Poços de Caldas.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Luíz Felipe Souza Santos - bolsista Dcom/Fapemig