Resultados mostram que a ETE pode servir de modelo para outras instituições.
Todos os dias, milhões de microcontaminantes são jogados nos esgotos. Essas substâncias são secretadas do nosso corpo, como no caso de hormônios e medicamentos, ou provêm da fabricação e uso de produtos de limpeza, de higiene pessoal, da produção de plásticos, de pesticidas, entre outros e podem causar danos á saúde humana e animal ainda que em baixíssimas concentrações. “Isso é algo preocupante, já que as estações de tratamento de esgoto normalmente são do tipo convencional e não apresentam formas de remoção desses microcontaminantes, que muitas vezes são lançados no curso d’água e comprometem a qualidade da água para abastecimento”, explica a professora do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento Fátima Resende Luiz Fia.
Conforme a pesquisadora, nas estações convencionais é realizada a remoção da matéria orgânica, nitrogênio, fósforo e organismos patogênicos, e não há muita preocupação quanto aos microcontaminantes já que no Brasil ainda não há uma norma que regule o lançamento dessas substâncias em corpos d’água. Por isso, uma pesquisa de mestrado da técnica da Diretoria de Meio Ambiente da UFLA Débora Fialho avaliou se a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE- UFLA) seria capaz de remover esses micropoluentes. “Neste trabalho, avaliamos 13 microcontaminantes, dentre eles fármacos (anti-inflamatórios) e desreguladores endócrinos, que são substâncias semelhantes aos nossos hormônios, mas quando entram em nosso organismo eles confundem nossas células e provocam danos à nossa saúde”, comenta Débora.
O estudo foi realizado em parceria com o Laboratório de Águas Residuárias do Núcleo de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFLA e com o Laboratório de Caracterização Molecular e Espectrometria de Massas da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. Também contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). As amostras de foram coletadas quinzenalmente durante nove meses diferenciando o efluente gerado pelas porções norte e sul do câmpus identificando, inclusive, a contribuição do hospital veterinário no lançamento dessas substâncias no esgoto da Universidade.
Os resultados da pesquisa mostraram que, apesar da Estação de Tratamento de Efluentes da UFLA ter sido originalmente concebida para a remoção de matéria orgânica e nutrientes, ela é capaz de remover completamente microcontaminantes como o paracetamol, a genfibrozila, e os hormônios estrona e estradiol. Os anti-inflamatórios ibuprofeno, naproxeno e diclofenaco apresentaram taxas de remoção superiores a 93%. Já para o Bisfenol A e um alquilfenol (substâncias potencialmente cancerígenas), as taxas de remoção variaram de 59 a 94%.
Para a professora Fátima, o fato da ETE da UFLA possuir um sistema de tratamento biológico combinado, com reatores anaeróbicos e aeróbicos, seguido de cloração e desinfecção ultravioleta, potencializou a capacidade da estação para remover também esses microcontaminantes e evitar a contaminação do ribeirão e, consequentemente, dos rios. Segundo Débora, a Estação de Tratamento de Efluentes da UFLA pode servir de modelo para outras instituições que queiram alcançar esses níveis de remoção de compostos tanto tradicionais como de microcontaminantes.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA