“É o ciclo sem fim”. Essa frase, da música que marca o início do filme “O Rei Leão”, fica gravada na memória de muitas pessoas, e não é para menos. A nova versão do longa metragem mostra como toda biodiversidade está interligada, abordando a importância de cada ser vivo na manutenção do ecossistema. Pensando nisso, no filme atual surge um novo personagem, um besouro, popularmente conhecido como “rola-bosta”. Porém, não é só nas telas que esses insetos têm chamado atenção. Uma pesquisa do Setor de Ecologia e Conservação do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras (DBI/UFLA), desenvolvida pela doutoranda Rafaella Teixeira Maciel Oliveira sob a orientação do professor Julio Louzada, evidencia a relevância das funções desempenhadas por esses besouros em áreas de pastagens no cerrado mineiro.
Ao estudar a comunidade de “rola-bostas”, Rafaella avaliou os efeitos da conversão de áreas nativas do cerrado para pastagens. “Durante as análises, observamos que a presença dos besouros é valiosa, pois eles são usados como indicadores de qualidade ambiental (bioindicadores), apontando, assim, a presença de mamíferos e invertebrados em geral nas áreas nativas, além da saúde do ecossistema nas áreas analisadas”, afirma Rafaella.
Os besouros rola-bosta são coprófagos, ou seja, alimentam-se de fezes de outros animais. Esses insetos desempenham função importante no ciclo da matéria orgânica, já que ao rolar e enterrar as fezes eles adubam a área e auxiliam na decomposição da matéria. Além disso, ao realizarem a “limpeza” nos pastos, eles atuam diretamente no combate a pragas. “Os besouros controlam a proliferação da mosca do chifre e da mosca do estábulo, muito comuns em áreas de pastagens. Essas moscas atacam o gado, deixando-o doente e estressado. Então, mantendo uma comunidade diversificada dos “rola-bosta” nessas áreas, o produtor acaba diminuindo seus custos”, explica a doutoranda.
A propriedade rural que tem áreas nativas preservadas facilita a movimentação e o ciclo natural desses insetos. Segundo Rafaella, “os besouros estão presentes em todos os sistemas terrestres, algumas regiões com mais, outras com menos. No sul de Minas, observamos uma perda na quantidade de “rola-bosta”, já que temos áreas mais urbanas com poucos sistemas naturais e uso extensivo de pesticidas. Já no cerrado, no norte do estado, encontramos mais áreas de vegetação nativa preservadas. Além disso, a questão bioclimática influencia diretamente a comunidade desses besouros”.
MAIS BESOUROS, MAIS ECONOMIA
Orientar e conscientizar sobre a preservação, não só das áreas naturais, como também dos insetos em geral é o mesmo que diminuir custos. Os besouros “rola-bosta” executam diversos serviços ambientais, com importância econômica e ecológica. Eles atuam no controle de pragas e parasitas; ao utilizarem matéria orgânica para a alimentação, adubam o solo, aumentando a quantidade de nutrientes nas camadas mais profundas do solo. Além disso, ao cavarem os túneis para enterrarem a bola fecal, aumentam a aeração da terra, facilitando a irrigação. Então, serviços como controle de pragas, adubação e arado são feitos de forma natural, sem gerar gastos, mantendo a conservação ambiental e o funcionamento dos ecossistemas.
ENTENDA O CICLO SEM FIM DOS BESOUROS
A reprodução dessas espécies tem como fator principal a presença de fezes. Tudo começa quando os besouros fazem a bolinha fecal. Depois de prontas, elas são enterradas nos túneis cavados pelos “rola-bosta” e então os ovos são depositados lá dentro. A larva se desenvolve e depois se transforma em pupa. Ao final, o adulto emerge e assim o ciclo se inicia. No Brasil, é possível encontrar mais de 700 espécies de besouros rola-bosta.
“Para realizar esses estudos, nós viajamos para instalar os experimentos, que são fundamentais nas análises. Para que isso aconteça, é muito importante o incentivo e apoio à pesquisa, pois dessa forma nós, pesquisadores, podemos dar continuidade ao desenvolvimento dos projetos que levam informação e conhecimento para a população”, finaliza Rafaella.
A pesquisa, desenvolvida pela doutoranda contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
Texto: Caroline Batista, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do vídeo: Sérgio Augusto - Editor/Dcom