Partículas de plástico menores que um fio de cabelo já foram encontradas em oceanos e podem estar presentes em rios.
Os microplásticos são partículas invisíveis dos polímeros sintéticos popularmente conhecidos como plásticos. Componente de garrafas, sacolinhas e outros objetos, esse material de vida útil muitas vezes curta pode ser descartado incorretamente no meio ambiente e demorar centenas de anos para se decompor. “Não existe na natureza uma enzima que seja capaz de quebrar essas cadeias poliméricas do plástico, por isso ele acaba sofrendo degradações físicas, como por atrito, radiação ultravioleta, entre outras, e vai se fragmentando em tamanhos cada vez menores até chegar a um ponto que seja impossível visualizá-lo a olho nu”, explica a professora Camila Silva Franco, do Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Com menos de 5 milímetros, esses microplásticos vão parar em cursos d’água e chegam até os oceanos. “Na Europa, essas partículas já foram encontradas em águas de abastecimento, o que gerou o alerta para estudos específicos. No Brasil, elas já foram encontradas no oceano, porém não sabemos os riscos que podem causar tanto para a vida animal quanto para a humana”, alerta o professor de Engenharia de Materiais do Departamento de Engenharia da UFLA Juliano Elvis Oliveira.
Como as pesquisas são iniciais no Brasil, ainda não há uma metodologia padrão para coleta de amostras em rios e é este o objetivo da pesquisa de mestrado da pós-graduanda em Tecnologias e Inovações Ambientais Beatriz Souza “observamos alguns trabalhos identificando microplásticos em áreas litorâneas e tivemos a ideia de identificar esses microplásticos em cursos de água doce. Por isso, começamos a desenvolver uma metodologia para coleta e separação desses materiais em laboratório, para identificarmos o que está sendo encontrado, abrindo assim a possibilidade para estudos futuros”, diz a professora Camila.
O curso d’água utilizado para a coleta é o Ribeirão Vermelho, que tem sua maior extensão na zona urbana de Lavras e desagua no Rio Grande. Para a coleta, os pesquisadores deixam uma rede durante cerca de 10 minutos no leito do Ribeirão Vermelho, medem a temperatura da água e o seu PH, a vazão e observam a turbidez da água. O material recolhido posteriormente é lavado e passa por uma série de processos nos quais ocorre a separação de todo sedimento maior que 5 milímetros. Depois de todas as etapas, as substâncias restantes passam pelo infravermelho para saber qual é o tipo de polímero presente na amostra. Conforme os pesquisadores, os resultados já demonstraram ser possível encontrar os microplásticos no Ribeirão Vermelho.
Conforme explica a professora Camila, os microplásticos são classificados como contaminantes emergentes, ou seja, materiais que ainda não possuem padrões legais. Por isso, as estações de tratamento de esgoto e de água não tem em sua rotina o monitoramento desses microplásticos. “Ainda não há uma legislação para nos dizer o quanto podemos ingerir deles, o quanto é possível ter na água potável que chega em nossa casa ou quanto dele é lançado num curso d’água depois do tratamento de esgoto. ” As pesquisas da UFLA poderão contribuir para que órgãos responsáveis avaliem esses índices e proponham novas especificações. “Futuramente, outras pesquisas poderão avaliar a quantidade de microplásticos nas nascentes e na foz de ribeirões de Lavras e poderemos ter informações mais detalhadas sobre os efeitos desses microplásticos nos cursos d’água”, finaliza Camila.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Imagens: Luccas On - estagiário Dcom/UFLA
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA