Algumas vacinas utilizam o ovo como matéria-prima para sua produção. As indústrias farmacêuticas desembolsam milhões por ano para cumprir as exigências legais relacionadas ao descarte apropriado dos resíduos gerados nesse processo de produção. Como alternativa a esse descarte, o estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras (PPGCS/UFLA) Ivan Célio Andrade Ribeiro desenvolveu uma pesquisa para transformar resíduos das indústrias de vacinas em fertilizantes totalmente esterilizados. A pesquisa foi coordenada pelo professor Luiz Roberto Guimarães Guilherme.
Como parte da pesquisa, foi elaborado um processo físico-químico para o aproveitamento e a valorização do resíduo de produção de vacinas no Brasil. A metodologia viabiliza a transformação desse resíduo em um fertilizante alternativo totalmente esterilizado, gerando um material que pode retornar ao meio ambiente sem risco de contaminação.
“Atualmente, as indústrias contratam empresas terceirizadas para o descarte adequado desses resíduos em aterros controlados, a um custo elevado. Com a adoção do processo proposto, as indústrias de vacinas deixariam de ter gastos com a disposição em aterros e passariam a ter lucro com a venda dos fertilizantes produzidos”, afirma Ivan.
Outro fator positivo da pesquisa é que o processo em questão torna-se uma alternativa para que essas indústrias implementem o conceito de economia circular, estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos vigente no País, que incentiva a recuperação, reutilização e valorização de resíduos sólidos gerados em qualquer etapa do processo de produção.
Segundo o professor Luiz Roberto, a pesquisa resolve dois problemas, um em relação ao investimento em sistema de descarte e o outro com a criação de uma fonte de renda. “O investimento em um sistema de descarte em aterros controlados é muito grande. Por isso, essa é uma excelente alternativa. Além disso, os materiais que seriam descartados podem ser utilizados de forma segura como fertilizantes.”
Testes e comercialização
Todas as etapas do processo de produção foram testadas nos laboratórios de Fertilidade e Nutrição de Plantas do DCS. Foi verificado que o fertilizante obtido possui alto teor de fósforo e acidez até mil vezes inferior a de fertilizantes fosfatados comumente encontrados no mercado brasileiro.
Também foi realizado um experimento em ambiente controlado e foi constatado que o fertilizante produzido a partir do resíduo tem capacidade de fornecer nutrientes às plantas do mesmo modo que um fertilizante comercial.
De acordo com Ivan, “o processo de produção do fertilizante já está finalizado e pronto para ser comercializado. Nosso intuito é disponibilizar uma licença de uso do processo desenvolvido e fornecer suporte técnico para as empresas interessadas”. O processo desenvolvido pelos pesquisadores foi classificado entre as 30 melhores ideias submetidas ao Programa Centelha no Estado de Minas Gerais, sendo a única da UFLA a chegar à final. O Programa Centelha é uma iniciativa desenvolvida em diferentes Estados que visa estimular a criação de empreendimentos inovadores e disseminar a cultura empreendedora no Brasil.
A pesquisa também contou com a colaboração dos seguintes professores da UFLA: Marcelo Braga Bueno Guerra, do Departamento de Química (DQI), Mateus Pimentel de Matos, do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento (DRS), Paulo Henrique Leme, do Departamento de Administração e Economia (DAE), e Leônidas Carrijo Azevedo Melo, do Departamento de Ciência do Solo (DCS).
Texto: Melissa Vilas Boas – Bolsista Comunicação /UFLA
Edição do vídeo: Eder Spuri – Comunicação / UFLA