Em novembro de 2023, o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, completa oito anos. Desde então, inúmeros projetos são realizados com o intuito de minimizar os impactos causados pela tragédia, voltados tanto para a população atingida, como para a recuperação do meio ambiente. Entre eles está o estudo realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (PPG-ECO/UFLA) que busca compreender de que maneira o rompimento da barragem atingiu a comunidade de peixes da Bacia do Rio Doce.
Os pesquisadores avaliam como esse impacto, somado aos outros que já ocorriam na bacia - como, por exemplo, o despejo de esgoto de resíduos industriais - afetaram a comunidade de peixes, e a disponibilidade dos itens alimentares para esses animais. Com o estudo, que se encontra em andamento, será possível pontuar quais procedimentos devem ser realizados com o tempo para que a Bacia do Rio Doce possa ser completamente recuperada. “Esse é um passo muito importante em sinalizar todas as medidas necessárias para a recuperação desse importante rio”, destaca o professor do Instituto de Ciências Naturais (ICN/UFLA), Paulo dos Santos Pompeu, coordenador do projeto.
Para as análises, os pesquisadores coletam amostras de peixes em dez pontos ao longo da Bacia do Rio Doce. São sete pontos impactados pelo rompimento da barragem, e outros três não foram impactados, mas que são utilizados como pontos de controle para possibilitar a comparação entre regiões. Um destaque é que as análises são feitas de forma não convencional. Os pesquisadores utilizam a técnica de “isótopos estáveis” para identificar os alimentos que os peixes ingeriram recentemente e ao longo do tempo. É uma técnica nova no Brasil e refinada, aplicada a partir da extração química de parte do músculo do peixe. “Com esses estudos, nós conseguimos entender o que está sustentando a comunidade de peixes que coexistem naquele rio, e com isso, avaliamos locais impactados e locais bem preservados na Bacia do Rio Doce”, explica o pesquisador Paulo Pompeu.
A pesquisadora Patrícia Santos Fráguas, doutoranda pelo PPG-ECO/UFLA, explica que estão sendo avaliados três principais fatores. “ Um deles é compreender como estão ocorrendo as mudanças entre as estações, período seco e período chuvoso, na comunidade de peixes; outro é avaliar como tem sido ae recuperação ao longo do tempo, comparando coletas realizadas com dois anos de diferença; e, finalmente, avaliar se espécies abundantes em vários locais ao longo da bacia podem ser usadas como indicadoras da qualidade ambiental.”
O professor Paulo Pompeu ressalta a importância do estudo. “O rompimento da barragem de Mariana gerou uma grande repercussão internacional. Então, não só os moradores locais, mas a comunidade científica em geral e o público brasileiro também têm muito interesse em entender o que está acontecendo com a Bacia do Rio Doce, e nós estamos contribuindo nesse sentido.”
O estudo está em andamento, com previsão de término em 2025. As coletas de peixes ocorreram entre 2021 e 2022. O projeto conta com a parceria da Universidade Federal de Viçosa (UFV), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Fundação Renova.
Barragem do Fundão em Mariana
O rompimento da barragem em Mariana ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015 no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do município brasileiro de Mariana, Minas Gerais. Rompeu-se uma barragem de rejeitos de mineração denominada "Fundão". O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água.
Para acompanhar outras pesquisas realizadas pelo Laboratório de Ecologia de Peixes do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da UFLA, siga: @labecopeixes_ufla
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.