Se aulas e atividades educacionais remotas, impostas pela pandemia da Covid-19, são um desafio para os estudantes adultos, o que dizer do embaraço que elas representam para as crianças, suas famílias e professores? E quando falamos em crianças bem pequenas, na faixa dos 3 anos, qual é o tamanho da dificuldade? Como organizar as atividades? Como torná-las interessantes a ponto de despertar o interesse das crianças que estão distantes da interação, das brincadeiras e do calor da sala de aula? Como planejar tudo de forma que os familiares consigam auxiliar as crianças a avançar no aprendizado? Como propor as atividades de forma a manter o vínculo das famílias e das crianças com a escola e garantir os direitos de aprendizagem, reduzindo os efeitos desse período de distanciamento social?

Essas questões inquietaram profissionais da Educação Infantil em 2020, e também os pais e responsáveis pelos pequenos, que, muitas vezes, acabaram desistindo da tarefa de conduzir em casa as atividades para essa faixa etária. Também para as professoras do Grupo 3 do Núcleo de Educação da Infância da Universidade Federal de Lavras (Nedi/UFLA), Apolliane Xavier Moreira dos Santos e Franciane Sousa Ladeira Aires, a experiência de 2020 foi de angústia diante da crise de saúde pública que mudou repentinamente o cenário da educação, e deixou todos preocupados, sem saber ao certo o melhor caminho a seguir para que não ficasse um “vazio pedagógico e de vínculos na trajetória das crianças”. “É necessário garantir às crianças o direito à aprendizagem, previsto inclusive na Constituição do País, mas muitas tentativas de atividades não deram bons resultados nas primeiras ações, e isso provoca a frustração da professora, e também das famílias”, explica a assessora pedagógica do Nedi, Letícia Silva Ferreira.

Diante das dificuldades, as professoras dedicaram-se a pensar uma nova proposta de trabalho pedagógico para essa faixa de idade, com o objetivo de estimular as famílias a criarem um ambiente de brincadeiras e aprendizagens com materiais simples e acessíveis, no espaço da casa, no período de atividades remotas. Elas organizaram um cronograma de atividades que inclui encontros virtuais com as crianças e famílias, tanto encontros individuais como de grupo, conjugados à entrega de kits educativo-pedagógicos detalhadamente pensados para estimular o desenvolvimento integral das crianças, considerando a mediação direta da família. A iniciativa já vem gerando bons resultados, com envolvimento significativo das crianças e avaliação positiva pelas famílias – e pode inspirar outros professores nesse momento especialmente desafiador para a Educação Infantil.

Para o primeiro semestre letivo de 2021 foram organizadas entregas de oito kits educativos. Os kits são compostos por materiais auxiliares, que as famílias precisarão para o desenvolvimento das atividades com as crianças, e todas as orientações para as atividades são organizadas em folhas tamanho A3. O diferencial já começa pela curiosidade que o kit desperta na criança, por ser em tamanho maior e incluir tintas, giz de cera, cola e outros materiais que chamam a atenção dos pequenos. Todas as atividades propostas são cuidadosamente explicadas aos pais e responsáveis, que conseguem saber exatamente como devem apresentar a atividade aos filhos e como lidar com a criança no momento do desenvolvimento. São orientados, inclusive, a primeiro estimular que a criança explore o kit e se interesse por ele. As atividades vêm com QR Codes, pelos quais a família pode acessar vídeos e podcasts, alguns gravados pelas próprias professoras, que ajudam a ambientar o momento de aprendizagem. As experiências estimuladas pelo kit em nada se parecem com cartilhas ou atividades apostiladas, e vão bem além do colorido ou da aprendizagem de conceitos: a criança se interessa em ser protagonista, atraída pelas propostas de ir para a cozinha com a família fazer uma receita de massinha de modelar, ou construir um chocalho, ou um tambor, ou divertir-se ouvindo e criando rimas, apreciando músicas e histórias que fogem do repertório mais comum. Para a família, as atividades acabam se tornando um momento de convivência com os pequenos, e é possível observar, nos meandros de cada atividade, o aprendizado que as crianças vão alcançando em diferentes aspectos e temas... formas, quantidades, identidade,  percepção dos sentidos, maneiras de lidar com emoções como o medo, entre outros pontos. 

O empenho de tempo e esforço das professoras no desenvolvimento dos kits é facilmente percebido por quem analisa as atividades e observa o cuidado com que foram pensadas, interconectadas com cada objetivo de aprendizagem. “Nós fomos pensando, em detalhes, como faríamos se estivéssemos com as crianças presencialmente, e, dessa forma, fomos construindo os momentos para as vivências em família”, conta a professora Franciane. Desse modo, a frustração das dificuldades vivenciadas nas experiências de 2020 vão dando lugar ao alento de garantir que as crianças pequenas passem por esse período sem tantas perdas pedagógicas. A professora Apolliane conta que o retorno das famílias tem demonstrado que a busca por novos modos de fazer valeu a pena. “Temos visto as famílias agradecendo, relatando ter recuperado momentos agradáveis com os filhos durante as vivências, emocionando-se com a poesia do momento literário, e algumas até dizendo que o desenvolvimento das propostas se tornou um evento na casa”.

O que dizem as famílias...

Apesar das dificuldades que a pandemia impôs às famílias, que precisam coordenar tantas atividades de trabalho e estudo em meio às rotinas domésticas, as famílias reconhecem que a proposta do kits é diferenciada.

“As professoras, ao criarem o kit, pensaram em cada detalhe. Por exemplo, dentro de cada atividade, os pais têm tudo detalhado para auxiliá-los a realizar as tarefas. Por ser um kit tão prático, não encontro dificuldades em realizar as atividades. Outro ponto interessante está na diversidade das tarefas, sempre buscando deixar a criança ser criança. O meu filho consegue participar ativamente e desenvolver as atividades com grande facilidade”. Roselene Maria Pimenta de Morais - mãe do Pedro Morais de Oliveira

“Os kits foram muito bem elaborados. Eles têm uma estrutura completa, com objetivos, instruções para os pais, reflexões; as atividades são organizadas com uma sequência lógica sobre o tema que está sendo abordado, inserção de mídias interativas nas formas de QR Codes, que facilitam muito o acesso. Além disso, auxiliam a família a refletir sobre muitos temas. O kit é dividido em momentos em que podemos explorar várias áreas da criatividade das crianças, como o momento musical, que trabalha com artistas brasileiros e suas músicas, instrumentos musicais, etc. Já tivemos o momento receita, pelo qual exploramos as sensações das crianças, toque, conceitos de quantidade (nas receitas), texturas e cores. Pelo momento literário, podemos ler histórias que abordam situações vivenciadas nessa fase de 3 anos, como coragem, medo, associação com sons, rimas e, para além disso, apresentamos alguns autores de obras literárias reconhecidas. Tem sido uma experiência incrível com minha filha, no sentido de que estamos mais próximas, aproveitando muitos momentos juntas e aprendendo juntas também. Não conheço outras propostas de ensino a distância nessa faixa etária, mas acredito firmemente que esse kit tem sido um grande avanço para auxiliar as famílias a executarem este importante papel, que é ensinar, conduzir, estimular e educar de tantas formas. Estou apaixonada pelo kit e pela metodologia abordada. A escola preza pela educação associada à cultura e à condição da criança com o cidadão que tem seus direitos a serem respeitados”. Luciana Silva Ribeiro Martins, mãe da Rafaela Ribeiro Martins.

“O grande diferencial foi a entrega dos kits: tudo impresso, de forma visual, com folhas grandes. O Pedro ficou muito empolgado com o recebimento desse material físico. E tem a questão de ser lúdico, de ser muito simples, fácil de replicar em casa. A gente tem até capacitação para fazer coisas mais complexas, mas não temos o domínio de como fazer, da forma como a professora faz. Na escola eles normalmente têm interesse maior, dividem a experiência com os amigos.  As professoras estão de parabéns, porque elas fizeram todo o trabalho de nos informar, de fazer a abordagem para os pais e, com isso, a gente consegue levar a criança para esse universo.” Maíra Barbosa Miranda, mãe do Pedro Barbosa Mendes.

“Percebi que os kits educativos do Nedi são muito bem formulados, num formato que cria interesse na criança, seja pela forma da escrita (já que é feita a leitura por um adulto para a criança), seja pelas atividades educativas propostas, e também pelos anexos, por meio dos QR Codes, que direcionam para o contato com as professoras de modo virtual e direcionam também para vídeos de contação de histórias, de desenhos animados e de músicas, tornando o ensino lúdico e muito divertido, com aprendizagem significativa. Minha experiência na execução dos kits educativos com minha filha tem sido muito boa, pois respeito os limites dela, tanto em relação ao seu grau de interesse sobre as propostas, quanto em relação aos seus limites na execução das atividades. Acredito que cada criança tenha o seu ritmo de aprendizagem. Minha filha geralmente fica na expectativa de fazer as atividades propostas (fica bem curiosa e cheia de entusiasmo)”. Raisa Cardoso Moretti, mãe da Isis Cardoso Moretti.

Clique e conheça um exemplo de atividade do Kit 1.

Para outras informações sobre as atividades, entre em contato com as professoras: apolliane.santos@ufla.br e franciane.aires@ufla.br.

  

 

Agradecimento aos alunos do Nedi que aparecem na foto de abertura: 

Isaac Ichiro Festucci de Herval
Maria Fernanda Fernandes de Melo
Pedro Henrique Pacheco Antônio
Sofia Silva Souza
Valentina Nery Maculan
Isis Cardoso Moretti.
Pedro Morais de Oliveira
Rafaela Ribeiro Martins
Pedro Barbosa Mendes

Diretrizes para publicação de notícias de pesquisa no Portal da UFLA e Portal da Ciência

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Todos os estudantes e professores interessados em popularizar o conhecimento e compartilhar suas pesquisas, podem apresentar sugestão e pauta à Comunicação pelo Suporte. As propostas serão analisadas com base nas seguintes premissas:

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