Profissionais da saúde, usualmente, conhecem as doenças negligenciadas, termo usado para caracterizar enfermidades causadas por agentes infecciosos (vírus, fungos, bactérias) ou por parasitas que atingem, geralmente, a população de baixa renda. As leishmanioses fazem parte desse grupo e são clinicamente divididas como visceral e tegumentar, também conhecida como cutânea. Por serem consideradas de difícil controle e pelo alto índice de mortalidade, as leishmanioses foram tema da pesquisa de mestrado desenvolvida por Richardson Costa Carvalho, orientado pela professora Joziana Barçante, do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Lavras (DSA/UFLA).
As pesquisas sobre leishmanioses são desenvolvidas na UFLA há pouco mais de cinco anos, mas em 2017, quando foi diagnosticado o primeiro caso humano da doença no município de Lavras, ganharam um foco diferente. Partindo dessa temática, a pesquisa em questão avaliou a percepção dos profissionais da saúde, fator fundamental para a construção de uma abordagem participativa e troca mútua de conhecimento entre médicos, enfermeiros e veterinários, o que vai contribuir para melhoria dos programas de vigilância e controle da doença. “É importante avaliar como está o conhecimento dos profissionais da saúde quando falamos em doenças negligenciadas. Identificando isso, vamos trabalhar para que a universidade consiga atuar em melhorias para o bem-estar e a segurança da população”, complementou a professora Joziana.
O número crescente de casos de leishmanioses tem representado uma forte preocupação sanitária, a expansão das áreas de transmissão e o elevado impacto na saúde pública evidenciam que ainda existem muitos desafios a serem enfrentados. “A partir disso, abordamos a temática da forma mais ampla possível, buscando detectar onde estão as falhas no conhecimento da área da saúde e de qual forma poderemos ajudar. Então, identificar essas dificuldades é o primeiro passo, pois assim poderemos atuar diretamente sobre elas”, comentou Richardson. Os estudos realizados mostraram que há certa carência quando se trata do conhecimento geral dos profissionais. A partir desses dados, notou-se a necessidade de adotar novas estratégias, como um curso, que visa aperfeiçoar não só o controle, mas também o diagnóstico.
A dificuldade inerente ao diagnóstico precoce e o tratamento assertivo e imediato fazem com que as leishmanioses ainda sejam um problema de saúde que aflige a sociedade. Já foram notificados, até então, na região sudeste do Estado de Minas Gerais, mais de sete casos da doença, sendo que dois levaram a óbito. De acordo com Richardson, “foi observado que, no sul de Minas, os cães começaram a apresentar os primeiros sintomas e manifestações graves da doença, depois vieram os casos em humanos. Por isso é preciso conscientizar os órgãos públicos e a população para que a leishmaniose deixe de ser uma doença negligenciada”.
Universidades, centros de pesquisa e organizações sociais estão procurando fazer a sua parte e, apesar da existência de programas de financiamento para estudos na área de doenças negligenciadas, eles ainda são insuficientes para alcançar conscientização, combate e controle. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 90% dos casos de leishmaniose na América Latina ocorrem no Brasil.
Prevenção
Para que a prevenção aconteça, é preciso conhecer o meio de transmissão das leishmanioses.
A leishmaniose visceral é uma doença causada por parasitas que são transmitidos por meio da picada da fêmea do inseto vetor infectado, conhecido popularmente como mosquito palha. Ela atinge vários órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. Essa é a forma mais severa da doença.
A leishmaniose tegumentar ou cutânea é uma doença infecciosa, não contagiosa, que provoca úlceras na pele e mucosas. As lesões são mais frequentes no nariz, boca e garganta, e também é transmitida por meio da picada da fêmea do mosquito palha.
Para evitar a procriação desse tipo de inseto, é aconselhada a limpeza diária de quintais e áreas externas, mantendo o ambiente sempre limpo, recolhendo material orgânico como folhas e fezes de animais. “O mosquito palha tem seu desenvolvimento em matéria orgânica em decomposição; lugares que acumulam muitas sujeiras tornam-se locais de risco”, disse Richardson.
UFLA e Fiocruz de mãos dadas
Curso na modalidade EAD será oferecido pela universidade aos profissionais da saúde
A identificação precoce da doença é de extrema importância para minimizar os riscos inerentes à saúde da pessoa infectada, evitando até mesmo a morte quando se tem casos da leishmaniose visceral. Neste aspecto, é preciso investir em ações que ajudem os profissionais da saúde, levando conhecimento e capacitação.
Richardson explicou que serão gravadas vídeo-aulas com apoio direto da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que possui vasto conhecimento sobre a doença. Segundo ele, “o curso será oferecido na modalidade a distância, mediado por tutores que possibilitarão o alcance da educação em saúde.”
Os 50 municípios que fazem parte da Regional de Saúde de Varginha serão convidados para participar da capacitação, que terá duração de 120 horas. Inicialmente, será aberto para médicos, enfermeiros e veterinários, gratuitamente e com certificado emitido pela UFLA.
Texto: Caroline Batista, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Imagens: Luiz Felipe Souza - Editor/Dcom e Eder Spuri - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA