A data de 26 de abril é considerada Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, doença popularmente conhecida como pressão alta, que tem como um de seus principais vilões o consumo excessivo de sódio, substância presente no sal de cozinha e em alimentos processados. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, cerca de 38,1 milhões de brasileiros têm pressão alta, o que corresponde a 23,9% da população acima de 18 anos.
A doutora em Ciência dos Alimentos pela UFLA Carla Saraiva Gonçalves pesquisou, em sua tese, o comportamento do consumidor em relação ao sódio. Os principais objetivos da pesquisa foram identificar estratégias eficazes para a conscientização sobre os riscos do consumo elevado da substância, bem como verificar fatores que interferem na mudança de comportamento em relação à alimentação. “Essas informações podem subsidiar as empresas na elaboração de planos de marketing, e os governos a traçar políticas públicas”, afirma.
Alerta para a saúde
Para identificar as melhores estratégias de conscientização sobre o tema, a pesquisadora avaliou se o tipo de informação fornecida e a forma como ela é transmitida afetam a compreensão e a atitude dos consumidores em relação ao sódio.
A pesquisa envolveu 144 participantes voluntários, divididos aleatoriamente em seis grupos. Cada um desses grupos foi submetido a uma forma de comunicação diferente sobre o consumo de sódio: foram utilizadas desde estratégias passivas, baseadas na transmissão de conhecimentos - via leitura de materiais, por exemplo - até estratégias mais ativas, envolvendo diretamente os participantes com o conhecimento adquirido. A abordagem também variou de tons brandos a autoritários e “agressivos”, isto é, com a exposição dos reais malefícios do consumo excessivo.
Entre os resultados obtidos, os pesquisadores identificaram que, para a conscientização sobre os riscos do sódio, a abordagem “agressiva” é mais eficaz do que a branda. “Ensinamentos mais profundos e mais realistas levam a uma melhor aprendizagem”, afirma Carla.
O estímulo para a mudança de comportamento também é mais eficaz quando baseado em situações concretas. “O uso de informações chocantes, como a taxa de mortalidade associada a doenças cardiovasculares e os elevados gastos com o tratamento dessas doenças, é um instrumento importante para influenciar os consumidores a mudar o seu comportamento”, exemplifica a pesquisadora.
Embalagens mais atrativas
Inicialmente, foi realizado um trabalho com cerca de 30 voluntários, organizados em quatro grupos - homens e mulheres ativos (que praticam atividades físicas mais de três vezes por semana) e homens e mulheres sedentários -, para identificar os fatores que mais influenciam a intenção de compra. Após uma discussão geral sobre o consumo de sódio, foram apresentadas aos participantes embalagens de produtos lácteos e de carne processada. Em seguida, foi realizada uma discussão com o objetivo de identificar os dizeres e as cores mais eficazes para a rotulagem desse tipo de produto.Uma vez consciente da necessidade de ingerir alimentos com menos sódio, como o consumidor toma a decisão de adquirir um produto? Que aspectos podem interferir na compra? A pesquisadora procurou responder a essas perguntas com base em embalagens experimentais, criadas para essa finalidade.
As informações geradas nesses grupos serviram de base para a criação de nove embalagens, com variações nos tipos de produto, nos textos e nas cores. Essas embalagens foram, então, submetidas a uma pesquisa on-line, que contou com a participação de 745 consumidores.
Imagens de embalagens experimentais, com variações nos tipos de produto, texto e cor
Os resultados indicaram que os textos impressos nas embalagens exercem grande influência na decisão de compra. Mais da metade dos participantes afirmaram que a compra é afetada por essa informação. Entre os textos utilizados nos rótulos experimentais - “light”, “menos 25% de sódio” e “conteúdo com menos sódio” -, o mais eficaz foi o que transmitiu a informação de forma clara e objetiva: “menos 25% de sódio”.
A cor dos rótulos também foi apontada como um fator de influência. “Na opinião da maioria dos participantes, cores claras, como azul e verde, estão mais associadas à ideia de produtos leves, com reduzido teor de sódio. Por outro lado, a cor menos eficaz para esse tipo de comunicação é o vermelho”, resume Carla.
Sal nosso de cada dia
O sódio é um mineral indispensável para o correto funcionamento do organismo humano. Sua ingestão em doses adequadas contribui para processos como a regulação da pressão sanguínea, a transmissão de impulsos nervosos e a contração muscular.
O limite de consumo considerado saudável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) corresponde a cerca de 2g de sódio por dia.
O brasileiro ingere, atualmente, cerca de 4,8g de sódio por dia, mais do que o dobro do consumo máximo sugerido pela OMS.
O cloreto de sódio, popularmente conhecido como sal de cozinha, é o alimento humano que contém maior teor de sódio. Os cristais que compõem esse sal são constituídos por cerca de 40% de sódio e 60% de cloro.