Resultados mostram que a inovação no setor público depende de iniciativas em quatro dimensões - consciência, coragem, capacidade e cocriação. Ideias inovadoras e pontos a serem aperfeiçoados relevam alguns caminhos para estímulo à inovação
Você provavelmente já ouviu falar, ou até mesmo já disse, que os serviços prestados por órgãos públicos no Brasil deixam a desejar. A ideia de que o dinheiro de impostos é mal-aplicado é algo enraizado na mente dos brasileiros: paga-se muito caro pelos impostos e não se tem o devido retorno. Quando se observam países como a Suíça e Dinamarca, nota-se que os altos impostos são compensados por serviços públicos de qualidade. Mas qual seria a chave para esse sucesso?
Muitos estudos buscam avaliar a questão, e um dos caminhos é discutir a chamada inovação no setor público, tema integrante da linha de pesquisa coordenada pelo professor Dany Flávio Tonelli, do Departamento de Administração e Economia da UFLA (DAE). O especialista avaliou como é a inovação na administração pública na esfera federal. “A pesquisa procurou identificar, a partir da percepção de gestores públicos, se a inovação na administração pública federal é uma realidade, se ela vem ocorrendo, e assim, compreender alguns casos que possam trazer alguma luz sobre esse conceito”, diz.
Tonelli explica que para a realização da pesquisa, foram feitas entrevistas em profundidade com gestores públicos da administração pública federal, de ministérios variados e com pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB). “Esses especialistas foram escolhidos pela função de direção que exercem na administração pública federal ou pelo notório conhecimento no assunto, como no caso da escolha dos pesquisadores. Foi estabelecido um roteiro prévio e, a partir das respostas, foram feitas as análises, que nos levaram à identificação de quatro categorias capazes de revelar as dimensões pelas quais a inovação no setor público pode ser observada: consciência, coragem, capacidade e cocriação. ”
A consciência é a forma como a inovação vem sendo compreendida no âmbito de administração pública federal. “Nós identificamos que, embora haja muitas iniciativas, como laboratórios de inovação que discutem a inovação na administração pública federal, esse assunto ainda é pouco compreendido nesse meio. A forma de como se deve incentivar a participação de mais pessoas na geração de inovação no setor público é algo que ficou latente nas entrevistas que foram aplicadas. ” Na concepção do pesquisador, as pessoas entendem que a inovação é importante; porém, a rotina do dia a dia acaba consumindo muito tempo, e isso faz com que os servidores pensem que não é possível mudar e nem buscar coisas novas.
Apesar de a discussão sobre a inovação do setor público ser algo já presente na realidade da administração pública, quando se trata da capacidade - outro fator que também foi avaliado pelo estudo, o qual envolve diversos aspectos, como a cultura do serviço público, os elementos organizacionais e estratégicos e o contexto - o professor acredita que é preciso criar mecanismos que permitam lidar com as incertezas inerentes à inovação. Por exemplo, “ no setor público, as pessoas não lidam bem com o risco, não há uma base que permita que os servidores públicos se arrisquem mais.” Complementando a capacidade, o aspecto da coragem está associado à liderança e à criatividade. “Quando observamos todos os casos de sucesso de inovação no setor público, notamos que há a figura de um líder que se arriscou e conseguiu alcançar certos resultados e influenciar pessoas. ” Já a cocriação seria a percepção de que a inovação não está restrita à mente visionária de uma única pessoa; por isso, para que o processo criativo ocorra, é preciso que haja a participação de vários membros internos da própria organização pública como também da comunidade, ou seja, os usuários do serviço público. Nesse aspecto, podemos citar as pesquisas de satisfação com a população, que pode propor ideias que possam acrescentar valor a determinada inovação pública.
A pesquisa alcançou resultados promissores dentro do âmbito da administração pública. A intenção, de acordo com o pesquisador, é que os dados obtidos possam direcionar outras etapas do estudo, gerando, por exemplo, a aplicação de questionários fechados para um grupo maior de pessoas na administração pública, não só no nível federal, como também nos níveis estadual e municipal. Afinal, os resultados mostram aspectos positivos, como algumas iniciativas inovadoras que vêm ocorrendo com sucesso, e negativos, como a necessidade de criar mecanismos que estimulem a discussão da importância da inovação entre os membros das organizações públicas e a possibilidade de lidar com o risco e enfrentar a burocracia que, muitas vezes, impede os processos criativos. Isso servirá para toda a sociedade, especialmente para a criação de valor público para os serviços entregues pelo estado.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Luíz Felipe Souza Santos - bolsista Dcom/UFLA