Você já se perguntou qual a relação entre arborização e criminalidade? Uma pesquisa do programa de pós-graduação da Escola de Ciências Agrárias de Lavras da Universidade Federal de Lavras (ESAL/UFLA) mostra que nas áreas onde ocorreram maior quantidade de crimes de roubo havia menos árvores.
A pesquisa analisou a relação entre a arborização viária, que é encontrada em praças, parques e outras infraestruturas verdes existentes nos centros urbanos, e os crimes de roubo que ocorreram na cidade de Lavras no período de 2014 a 2018. O estudo é o primeiro no Brasil a relacionar arborização e criminalidade.
O estudo se baseou em dados dos crimes de roubo fornecidos pela Polícia Militar, no inventário de árvores plantadas no município e em informações sociodemográficas da cidade, relacionadas aos problemas sociais da população e o local onde ela vive, para prever o número de roubos em função das características da arborização e das variáveis socioeconômicas e demográficas. As informações sociodemográficas foram coletadas no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao indicar a ocorrência de menos roubos em áreas mais arborizadas, o estudo reforça a conclusão de outras pesquisas sobre o tema. “Em nossa revisão bibliográfica, o artigo mais citado mostra que as árvores de copas altas e a baixa vegetação não prejudicam a visibilidade da rua e não são utilizadas para esconderijo de criminosos. Além disso, os autores perceberam que os benefícios proporcionados pelas árvores podem ajudar na diminuição da criminalidade”, conta a doutoranda Kelly Iapuque Rodrigues de Sousa.
Após a coleta, os pesquisadores organizaram os dados no software livre Qgis e construíram um mapa de calor para identificar o agrupamento da distribuição das árvores e dos crimes de roubo. Com a tabela a construída, outro software, o RStudio, foi capaz de prever o número de roubos em função das características da arborização e das variáveis socioeconômicas e demográficas.
Os pesquisadores da UFLA esperam que a pesquisa possa contribuir para desmistificar a associação da vegetação urbana ao crime de roubo no contexto brasileiro, e que os resultados possam ser úteis para a formulação de políticas públicas que priorizem as árvores inseridas no design do ambiente urbano.
“Além disso, pretendemos que, com a discussão da temática no Brasil, a sociedade possa perceber a relevância das árvores existentes na cidade para além da qualidade estética. Divulgar informações de que, além desses benefícios já comumente percebidos, as árvores da cidade podem contribuir para redução de crimes e aumentar a sensação de segurança é importante tanto para conhecimento da população, quanto para a gestão da cidade de Lavras”, acrescenta.
A pesquisa “Arborização viária e criminalidade: um estudo na cidade de Lavras/MG” trata-se da dissertação de mestrado de Kelly. Também estiveram envolvidos a orientadora docente do Programa de pós-graduação em Agronomia/Fitotecnia Michele Valquíria dos Reis, o coorientador e professor do Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas (Icet) Eric Fernandes de Mello Araújo, o doutorando em Administração Rafael Rodrigues de Castro, a mestranda em Administração Fernanda de Almeida, a Prefeitura Municipal de Lavras e a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG).
Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - Fapemig.