Quem tem carteira de habilitação há mais de 25 anos vai se lembrar de quando a injeção eletrônica chegou ao Brasil. Ela foi uma das grandes inovações tecnológicas do setor automobilístico da década de 1980, mas só foi aperfeiçoada na década de 1990. O primeiro automóvel a receber o item foi o Volkswagen Gol GTi.
Mas, afinal, o que é injeção eletrônica? É um sistema desenvolvido para injetar a quantidade ideal de combustível para queima no motor, possibilitando maior economia. Com o objetivo de substituir o velho carburador, a função da injeção eletrônica é fazer a mistura de ar e combustível. Nos sistemas modernos, essa mistura é feita com bastante precisão, aumentando a eficiência e reduzindo as emissões gasosas pelo escapamento.
Como explica o professor do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFLA, Thomáz Chaves de Andrade Oliveira, o sistema de injeção eletrônica é composto por sensores, atuadores e uma unidade de controle eletrônico (Electronic Control Unit - ECU). Os sensores estão distribuídos em pontos estratégicos do motor e têm a função de analisar variáveis, como pressão, temperatura e velocidade, transferindo esses dados para a ECU. Os atuadores são responsáveis pela alimentação do combustível, para a queima na câmara de combustão; seu funcionamento se baseia nos comandos emitidos pela ECU com base nos dados captados pelos sensores. Outro atuador notável é o de marcha lenta, um motor de passo controlado eletronicamente para estabilizar o motor em regimes de baixo giro sem aceleração.
A história da injeção é mais antiga do que imaginamos. A utilização da injeção, ainda mecânica, no setor automobilístico, começou em 1951, mas ficou restrita aos carros de corrida nas 500 milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos. Em 1957, o primeiro sistema de injeção eletrônica foi fabricado pela empresa Bendix Corporation e, devido ao alto custo, era utilizado somente nos carros de competição. O Chrysler Desoto chegou a incorporá-lo, mas, em 1958, abandonou a injeção eletrônica devido à complexidade de manutenção.
Em 1974, a Bosch lançou o L- Jetronic ou Le- Jetronic. Esse sistema era utilizado em veículos de algumas montadoras, como Volkswagen, Mercedes e Volvo. Muitos fabricantes adotaram esse sistema de injeção porque o custo ficou acessível e ele já usava o sistema de injeção eletrônica por bico injetor, controlado pela ECU digital.
Durante a década de 1980, praticamente todos os fabricantes americanos, europeus e japoneses substituíram os carburadores pela injeção eletrônica - algo que só ocorreria no início dos anos 1990 no Brasil, devido à pressão do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para a redução de carros poluentes. O primeiro carro equipado com injeção eletrônica no Brasil foi o Gol GTi, 1988/1989, primeiro injetado nacional vendido no Brasil.
Ainda é possível encontrar carros que circulam com o antigo e velho carburador no Brasil. Atualmente, é possível realizar a troca do carburador pelo sistema de injeção eletrônica, porém, com preços elevados. Pensando nisso, o professor Thomáz tem se dedicado, há três anos, ao desenvolvimento de um protótipo de injeção eletrônica de baixo custo para motores a combustão interna antigos.
A tecnologia utiliza o microcontrolador chamado ESP 32, para desempenhar função similar à da ECU. Esse dispositivo é programado internamente para realizar a injeção eletrônica, substituindo o carburador. O ESP 32 também tem capacidade de transmitir dados para o celular, o que viabiliza a comunicação do sistema de injeção com aplicativos de dispositivos móveis, para informar ao condutor sobre a performance do carro, com base em dados do sistema, e possibilitar a alteração das configurações do motor com a finalidade de otimizar o consumo de combustível.
O sistema desenvolvido na UFLA apresenta alguns diferenciais. “Ele é totalmente desenvolvido no Brasil, com materiais facilmente encontrados no mercado brasileiro. Apresenta baixo custo e, após o processo de prototipagem e testes, poderá originar um produto que será repassado ao mercado consumidor, a fim de adequar todos os veículos carburados às normas ambientais estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama, 2014)”, justifica o docente. Outro ponto positivo é a possibilidade de trabalhar com motor flex em veículos antigos, com álcool e gasolina armazenados no mesmo tanque.
Texto: Melissa Vilas Boas, relações públicas - bolsista Dcom/Fapemig.
Imagens: Eder Spuri - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA