Por Gilmar Tavares

Professor Titular aposentado e extensionista voluntário do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Lavras (DEA/UFLA)

A 77ª Assembleia Geral da ONU teve sua abertura em 14/9 sob o lema “Soluções por meio da solidariedade, sustentabilidade e ciência”. Um dos desafios é fazer avançar a paz. Você quer paz permanente e duradoura? Então produza comida! Sem suficiência alimentar, nunca haverá paz! Paz, somente com produção sistemática e fornecimento regular de alimentos.

Mas, como produzir alimentos em quantidade e qualidade suficientes, para promover a paz em todo o mundo?  Primeiramente, é preciso considerar-se a “Responsabilidade Socioambiental Sustentável da Universidade”.

Afirmo categoricamente que fome, miséria, desnutrição e todos os demais problemas socioambientais só serão resolvidos, definitivamente, com audácia, ousadia, coragem, determinação e sabedoria, aliadas à ciência e tecnologia avançadas.

E são justamente as Universidades que poderão contribuir com essa proposta de paz, buscando desenvolver a ciência e promover novas tecnologias, com essa finalidade específica.

Onde há fome, é preciso produzir alimentos todos os dias, e não apenas doar alimentos de vez em quando. Embora a doação de alimentos, em princípio, seja necessária, pois evita a morte imediata por fome e desnutrição, a contínua doação de alimentos humilha o destinatário e cria um parasitismo social irreversível. Além do mais, esses alimentos precisam ser equilibrados, ricos em proteínas, calorias e minerais para garantir um desenvolvimento eficiente das pessoas, principalmente das crianças.

As Universidades podem e devem desenvolver pesquisas baseadas nas necessidades alimentares das pessoas. Tais pesquisas devem fazer parte da política oficial da universidade brasileira. As universidades devem aplicar, obrigatoriamente, parte de seus recursos orçamentários para esse fim específico, e os cientistas devem utilizar parte de seu tempo a fim de encontrar uma solução científica a ser transformada em tecnologia, que resolva, definitivamente,esses problemas antigos e recorrentes. 

Se considerarmos a responsabilidade socioambiental sustentável da universidade como o primeiro pilar para a construção da paz, por meio da produção de alimentos, o segundo pilar é a “Agricultura Familiar” mundial. Em 2014, a ONU decretou o Ano Internacional da Agricultura Familiar, para destacar e reconhecer esse importante segmento produtivo de alimentos no mundo. Mas antes, em 2013, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), sob a orientação da alta administração do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Pnuma (Unep-WCMC), declararam em publicação oficial:

1) Os pequenos produtores são uma parte vital da comunidade agrícola global, mas muitas vezes são negligenciados;

2) Os pequenos produtores administram mais de 80% dos estimados 500 milhões de pequenas propriedades no planeta e fornecem mais de 80% dos alimentos consumidos em grande parte do mundo em desenvolvimento, contribuindo significativamente para a segurança alimentar e redução da pobreza.

No entanto, os pequenos agricultores, muitas vezes, vivem em locais remotos e ambientalmente frágeis, e muitas vezes, fazem parte de populações marginalizadas e desprivilegiadas;

3) A produtividade dos pequenos produtores, em particular, depende do bom funcionamento dos ecossistemas;

4) O crescimento da produção agrícola para atender às crescentes necessidades globais de alimentos, usando-se as práticas agrícolas predominantes é insustentável, e é necessária uma transformação.

5) Conclusão: Com as condições certas, os pequenos produtores podem estar na vanguarda de uma transformação na agricultura mundial.

Como terceiro pilar, nessa construção econômica/socioambiental participativa, propomos a “Agroecologia e suas Tecnologias Socioambientais Sustentáveis”, porque são: economicamente viáveis;ecologicamente corretas; socialmente justas; culturalmente apropriadas; tecnologicamente adequadas e cientificamente comprovadas. A Agroecologia tem propostas socioambientais sustentáveis na área de Segurança Alimentar, tal como "Programas de Merenda Escolar com Produtos da Agricultura Familiar Obtidos de Maneira Agroecologicamente Sustentável", porque tecnologias como compostagem, a biofertilização, o biopesticidas e o controle biológico, além de propiciarem a produção rápida e econômica de alimentos, geram emprego e renda dignos e protegem o meio ambiente.

Todas essas conexões podem ser promovidas pela "Extensão Universitária Inovadora", e representadas da seguinte forma:

 

Sabemos que três pontos determinam um plano. Então, nosso plano de paz pela produçãode alimentos é perfeitamente apoiado por três pilares fundamentais:

Responsabilidade Socioambiental da Universidade <->Agricultura Familiar<->Agroecologia.

Se considerarmos a “Responsabilidade Socioambiental Sustentável da Universidade” como o primeiro pilar para a construção da paz, por meio da produção de alimentos, então, as Universidades devem aplicar, obrigatoriamente, parte de seus recursos orçamentários, especificamente em Agroecologia (segundo pilar), a fim de encontrar soluções científicas, a serem transformadas posteriormente em tecnologias aplicadas, direcionadas para a Agricultura Familiar (terceiro pilar). Tais ações deveriam fazer parte da política oficial  de planos e metas das universidades.

Nessa perspectiva, podem promover capacitações e treinamentos presenciais para agricultores familiares, reunindo turmas com 10 (dez) participantes, no máximo, em uma semana útil plena, tendo como temáticas: Agricultura Familiar. Sistemas Agroflorestais Integrados. Poços de Carbono. Associativismo. Armazenamento. Unidades Experimentais Participativas - UEPs. Expansão do Conhecimento em Espiral Crescente. Agroecologia e suas Tecnologias Socioambientais Sustentáveis. Natureza, Biomas e Biodiversidades. Segurança Alimentar. Merenda Escolar com Produtos da Agricultura Familiar Obtidos de Maneira Agroecologicamente Sustentável.

Outra ação seria a formação de Grupos de Trabalho Bilaterais Participativos, para acompanhamento e orientações posteriores às capacitações.

Assim, recorrendo a Paulo Freire, concluímos nossas reflexões: “Apesar de seu disfarce de iniciativa e otimismo, o homem moderno está esmagado por um profundo sentimento de impotência que o faz olhar fixamente, como que paralisado, para as catástrofes que se avizinham. Por isso, desde já, saliente-se a necessidade de uma permanente atitude crítica, o único modo pelo qual o homem realizará sua vocação natural de integrar-se, superando a atitude do simples ajustamento ou acomodação, apreendendo temas e tarefas de sua época”.

 

 



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