Por Gilmar Tavares

Professor Titular aposentado e extensionista voluntário do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Lavras (DEA/UFLA)

Gleiton
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) baseada na Agroeoologia

A atual pandemia de Covid-19 começou com um fenômeno natural denominado “Quebra de Barreiras”. Assim também surgirão as futuras pandemias. Muitos vírus que sempre sobreviveram equilibradamente em animais silvestres estão, atualmente, migrando de ecossistemas perfeitamente harmoniosos, como os biomas que foram depredados e/ou destruídos pelo desenvolvimentismo insustentável. Por essa razão, a Agroecologia é uma alternativa realmente sustentável de prevenção de pandemias.

Os vírus são os seres vivos mais abundantes da natureza e estão presentes em todos os ecossistemas do planeta. No Brasil, a Amazônia é considerada o habitat natural da maior diversidade de vírus do mundo, que sempre sobreviveram em perfeita harmonia com a flora e fauna nativas, naturais e residentes, sem nenhum problema de coexistência infecciosa.

Mas os vírus estão migrando, e para onde??!! Migrando para nós, os seres humanos!!! Acontece que, quando estimulados, os vírus, para sobreviverem, podem adaptar-se geneticamente em seres humanos, que lhes servem de novos hospedeiros, infectando, assim, pessoas e populações, em escalas cada vez mais crescentes.

Como consequências, desencadeiam-se as chamadas endemias e epidemias, que podem transformar-se rapidamente em pandemias. São os casos de Ebola, Aids e a recentíssima Covid-19. A este fenômeno natural, porém maléfico, denomina-se "Quebra de Barreira".

Como agravante, esses vírus podem se alojar também em insetos, como os mosquitos, que, em seguida, transformam-se em vetores, e passam a transportar os agentes virais infecciosos para os seres humanos. É o que acontece com a Malária, Febre Amarela e Leishmaniose. E, também, ocorreu com a Zika, Dengue e Chikungunya.

Tudo isso devido à expansão dos desmatamentos, queimadas, garimpos, mineração, poluição das águas, exploração imobiliária, adoção de monoculturas e pastagens extensivas, bem como outras ações humanas predatórias, socioambientalmente insustentáveis. É o que classifico de "Delinquência Socioambiental", uma vez que o "efeito estufa e o aquecimento global", são desencadeados pelas mesmas depredações ambientais.

Essa "Delinquência Socioambiental" é extensiva à exploração econômica de cavernas, grutas, maciços rochosos naturais e assemelhados. No caso específico de grutas e cavernas naturais, além do desequilíbrio do ecossistema milenar residente, soma-se o prejuízo irrecuperável do patrimônio arqueológico histórico nativo e natural!!!

Estimula-se, então, uma triangulação mortal: "delinquência socioambiental <--> aquecimento global <--> pandemias.

Por milhares de anos, muitos vírus, até então pouco conhecidos ou mesmo desconhecidos dos humanos, viveram em perfeita harmonia simbiótica com os animais silvestres residentes em seus habitats naturais, ou seja, em seus próprios ecossistemas e seus biomas correlatos, mas sem lhes causarem males ou danos significativos. É o que denomino "Coexistência Simbiótica Harmoniosa".

As contínuas e crescentes agressões ao meio ambiente nativo, causadas pelo desenvolvimentismo lucrativo inconsequente, unicamente comercialista - tais como desmatamentos, queimadas, garimpos, mineração, poluição das águas, exploração imobiliária, adoção de monoculturas e pastagens extensivas, exploração de grutas e cavernas, e outras ações humanas predatórias - fazem com que aqueles animais silvestres, hospedeiros naturais dos vírus, com quem sempre conviveram equilibradamente, tenham seus predadores diminuídos e, até mesmo, extintos.

Assim, as populações desses hospedeiros naturais de vírus aumentam, enquanto seus habitats e predadores diminuem. Consequentemente, passam a abrigar muito mais vírus, os quais, ao se proliferarem, buscam ocupar novos hospedeiros por mutação genética, em evolução natural da espécie, na busca da própria sobrevivência, em seus novos habitats.

Quando esses novos hospedeiros estão próximos aos seres humanos, repetimos: tem-se o contágio por "Quebra de Barreira". O exemplo mais recente e mais dramático é este da atual pandemia de Covid-19, que assola todo o nosso planeta e nossas vidas, devido às sucessivas mutações genéticas dos vírus precursores, até chegarem aos morcegos.

A possibilidade mais plausível é a de que a evolução natural se encarregou de permitir que vírus que habitam em morcegos, antes de infectarem humanos, teriam passado uma temporada de mutações em outros hospedeiros, ou, talvez, nos próprios morcegos.

Os coronavírus estão por toda parte e são a segunda principal causa de resfriado comum, após o rinovírus. Até as últimas décadas, além de um resfriado comum, raramente causavam doenças graves em seres humanos.

Sabe-se que as interferências humanas, especialmente nos habitats naturais dos morcegos, forçam-nos a migrarem para novos habitats, o que corrobora a relação da questão pandêmica com a questão ambiental.

E como agravante, depois dessa brutal pandemia de Covid-19, poderão vir outras pandemias, pelas mesmas razões, concomitantemente ao efeito estufa e ao aquecimento global que, coligados, provocarão o recrudescimento de doenças, fome e miséria nos países mais pobres do mundo.

Os problemas com escassez de alimentos básicos e fundamentais atingirão níveis catastróficos, e suas consequências econômicas / socioambientais serão imprevisíveis e, certamente, dramáticas e assustadoras!!!

Haverá recrudescimento da violência em geral, das guerras e revoltas, do tráfico de armas e de drogas e das tentativas de imigrações desesperadas para os países ditos desenvolvidos. O êxodo e as migrações, por meio de marchas desordenadas das populações famintas, serão inevitáveis.

Acontece que a Agroecologia e suas “Tecnologias Socioambientais Sustentáveis”, por serem economicamente viáveis, ecologicamente corretas, socialmente justas, culturalmente adequadas, tecnologicamente apropriadas e cientificamente comprovadas, tais como a Compostagem, Biofertilização e Biopesticidas, poderão produzir alimentos em qualquer lugar do planeta, com muita rapidez e “custos quase zero“.

Paralelamente a essa produção agroecológica de alimentos, haverá a proteção e preservação ambiental dos ecossistemas e seus biomas nativos e naturais, impedindo os possíveis e prováveis desencadeamentos de novas pandemias, pela razões acima expostas.

A essa produção saudável e imediata de alimentos e à preservação ambiental soma-se a contínua geração de emprego e renda dignos nas comunidades envolvidas, com a fixação do trabalhador no campo, evitando o êxodo rural desordenado e migrações humanas catastróficas.

A ONU/FAO reconhece essa alternativa como viável e recomendável, pois, em sua publicação IFAD/UNEP/WCMC, durante o "Ano Internacional da Agricultura Familiar", em (2014), anunciou solenemente:

 

O crescimento da produção agrícola para atender às necessidades globais crescentes usando-se as práticas agrícolas predominantes é insustentável, uma transformação urgente será necessária.

Com as condições certas, os pequenos produtores podem estar na vanguarda desta transformação na agricultura mundial, porque:

Os pequenos produtores são uma parte vital da comunidade agrícola global, mas muitas vezes são negligenciados;

Os pequenos produtores administram mais de 80 por cento das estimadas 500 milhões de pequenas propriedades no mundo e fornecem mais de 80 por cento dos alimentos consumidos em grande parte do mundo em desenvolvimento, contribuindo significativamente para a redução da pobreza e segurança alimentar.

A produtividade dos pequenos produtores depende do bom funcionamento dos ecossistemas. Portanto, eles os protegem e os conservam

No entanto, os agricultores de pequena escala, muitas vezes, vivem em locais remotos e ambientalmente frágeis e geralmente fazem parte de populações marginalizadas e desprivilegiadas;

 

Conclusões:

1- As pandemias têm origem nas crescentes depredações dos ecossistemas e de seus biomas naturais, impulsionadas que são por um desenvolvimentismo irresponsável e inconsequente, que só objetiva lucro, e faz com que os vírus que vão perdendo seus hospedeiros e habitats naturais busquem novos hospedeiros, por adaptação genética em outros habitats.

2- Atualmente, o novo hospedeiro mais disponível é, evidentemente, o ser humano, e um outro habitat mais disponível são as nossas casas.

3- Para impedir o surgimento de novas doenças, endemias, epidemias e pandemias, a preservação socioambiental sustentável dos Ecossistemas e seus Biomas naturais e nativos são fundamentais e indispensáveis.

4- A Agroecologia e a Agricultura Familiar são os caminhos seguros para apoiar essa finalidade de saúde pública, porque são socioambientalmente corretas e sustentáveis.

 

A seguir, uma relação de mais doenças recorrentes desencadeadas devido ao descuido, descaso e predação ambiental.

  

Doenças transmitidas pelo ar contaminado:

Asma. Rinite. Pneumonia. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Tuberculose. Câncer de pulmão. Intox. Exógena.

Doenças transmitidas pelo solo contaminado:

Ancilostomíase. Ascaridíase. Larva migrans. Tétano. Tungíase. Esporotricose. Paracoccidioidomicose.


Doenças transmitidas pela água contaminada:

Diarreia por Escherichia coli. Amebíase. Cólera. Leptospirose. Disenteria bacteriana. Hepatite A. Esquistossomose. Febre tifoide. Ascaridíase. Rotavírus. Toxoplasmose. Intox. Exógena.

Para finalizar, lembrem-se sempre que: proteger, cuidar, conservar e preservar a natureza, o meio ambiente, os ecossistemas, os biomas e todas as biodiversidades é contribuir para a vida sem pandemias.

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