Biossurfactantes são compostos conhecidos como "detergentes biológicos", por sua capacidade de separar óleo de materiais e superfícies, além de limpar. Esses compostos, assim como outros metabólitos microbianos, estão despertando grande interesse devido à sua versatilidade e, principalmente, pelas possíveis aplicações em diversos setores industriais. Podem ser sintetizados por uma variedade de microrganismos como bactérias, leveduras e fungos filamentosos, com diferentes estruturas moleculares e atividade superficial. Contudo, a maioria dos surfactantes ainda é derivada do petróleo e extremamente danosa à natureza, pois apresenta alta bioacumulação e baixa degradabilidade. Os principais gargalos na produção industrial de biossurfactantes têm sido o uso de matérias-primas convencionais que aumentam os custos de produção e restringem a aplicação dessas biomoléculas em larga escala.
Dado o potencial biotecnológico dos biossurfactantes, o projeto do NEFER teve como objetivo utilizar óleo de soja residual como substrato de baixo custo para produção de um biossurfactante pela levedura Wickerhamomyces anomalus (CCMA 0358). Além disso, possíveis aplicações deste composto foram avaliadas no presente estudo quanto à atividade antibacteriana, anti-adesiva, antifúngica e larvicida. O biossurfactante produzido apresentou atividades antifúngicas, antibacterianas, anti-adesivas e excelentes resultados contra larvas de Aedes aegypti, atingindo 100% de mortalidade em 24 horas. Na concentração de 50%, o biossurfactante inibiu o crescimento de Bacillus cereus, Salmonella Enteritidis, Staphylococcus aureus e Escherichia coli. A atividade antifúngica foi avaliada contra Aspergillus, Cercospora, Colletotrichum e Fusarium, obtendo resultados de até 95% de inibição. Além desses resultados promissores, a levedura anomalus produziu o biossurfactante a partir de um substrato de óleo de soja residual, o que aumenta a possibilidade de sua aplicação em diversas indústrias devido ao baixo custo envolvido. Atualmente, investigamos actinobactérias, leveduras e fungos filamentosos na produção de enzimas, aminoácidos, biossurfactantes, ácidos graxos e carotenoides a partir de processos fermentativos para aplicação nas indústrias de alimentos e farmacêuticas. Tais compostos podem ser utilizados como aditivos ou suplementos alimentares, nutracêuticos, pigmentos e nutricosméticos.