Transição do manejo de lavoura cafeeira do sistema convencional para o orgânico, é o tema de tese de doutorado, na área de Agronomia/Fitotecnia, defendida por Vanessa Cristina de Almeida Theodoro, pela Universidade Federal de Lavras em julho de 2006.

Segundo Vanessa Theodoro “o processo modernizador da agricultura brasileira gerou impactos ambientais e transformações sociais em magnitudes tão amplas que, por si só, justificam estudos voltados para novas tecnologias emergentes como a agricultura orgânica. Dentro desse contexto, as instituições públicas que não assumirem o desafio do desenvolvimento rural sustentável a partir de um enfoque participativo e agroecológico, que privilegia a multifuncionalidade da agricultura, a produção local e familiar, a biodiversidade e a preservação dos recursos naturais, continuarão no imobilismo conservador e perderão a oportunidade de se transformarem em instituições dinâmicas impulsionadoras de uma nova realidade. Entretanto, toda transformação institucional é fruto da transformação interna de seu pessoal e da vontade política da liderança intelectual, que propiciam as mudanças necessárias”.

A agricultura orgânica tem experimentado um crescimento vertiginoso, apresentando no final da década de noventa, um crescimento estimado em 20 a 30% ao ano, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. No Brasil em 2005 representou apenas 0,23% da produção agrícola de todo o país, enquanto nos países desenvolvidos o índice atinge 26,0%. Assim, fica claro que existe espaço para o crescimento desse ramo do agronegócio, podendo a área a ser convertida para a produção orgânica no Brasil, chegar de 1 a 2% na próxima década, com o incentivo, principalmente, aos pequenos produtores.

O termo transição, em sua acepção semântica, pode designar simplesmente a ação e efeito de passar de um modo de ser ou estar a outro distinto – e que sempre há de provocar conseqüências e efeitos, previsíveis ou não, na nova situação que se estabelece. O estado atual de destruição dos recursos naturais já está comprometendo a satisfação das necessidades de gerações futuras e, torna-se urgente evitar qualquer degradação, sendo a cafeicultura orgânica uma opção à otimização da eficiência no uso dos já escassos recursos naturais.
Existe um acervo de experiências práticas de transição agroecológica bem sucedidas, em particular para a cultura do cafeeiro, em pequenas propriedades na região Sul de Minas Gerais, que inspiraram essa pesquisa. O principal gargalo consiste em validá-las cientificamente, após a realização de estudos a campo que confrontem o manejo convencional versus o orgânico, de modo que forneçam a segurança necessária nessa nova tecnologia, a um número significativo de cafeicultores, nas várias regiões produtoras do país. Muitas vezes tudo o que se necessita é que as instituições de ensino, pesquisa e extensão sirvam de facilitadoras para que se formem as redes de intercâmbio de agricultor a agricultor, para que assim flua o conhecimento gerado e a troca de experiências.

Esse estudo multidisciplinar é integrante de um projeto aprovado no edital Protedab(Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias Agropecuárias para o Brasil – Edital 02/001) coordenado pela Embrapa/Café, onde trabalharam juntas em diversas linhas de pesquisa, a Ufla (Departamentos de Agricultura, Entomologia, Fisiologia, Fitopatologia, Solos e Química), a Epamig e a Emater/Lavras/MG. A principal finalidade desse estudo foi, verificar a viabilidade técnico-ambiental do primeiro ano de conversão de lavouras cafeeiras do sistema de produção convencional para o orgânico.

O experimento de campo foi instalado na Fazenda Baunilha em Lavras/MG de propriedade do Prof. Dr. Arnoldo Junqueira Netto, em agosto de 2004 e se encontra no segundo ano agrícola de condução. No estudo de Vanessa Theodoro foram utilizados os dados do primeiro ano de conversão (de agosto de 2004 a dezembro de 2005). O delineamento usado foi o Látice balanceado 4×4, com cinco repetições, dos dezesseis tratamentos, doze, caracterizam um fatorial 3x2x2, que corresponde a três fontes de matéria orgânica (esterco bovino, cama de aviário e farelo de mamona) aplicadas superficialmente na projeção da copa do cafeeiro, com ou sem compostagem laminar feita com a aplicação de palha de café (2,0 L planta-1) sobre as fontes de matéria orgânica, e com ou sem adubo verde (Cajanus cajan L.) nas entrelinhas. Os quatro tratamentos adicionais avaliaram o uso do esterco bovino + moinha de carvão + sulfato duplo de potássio e magnésio; a rochagem utilizando a farinha de rocha Itafértil + farelo de mamona + palha de café; o uso da palha de café fermentada (20,0 L planta-1) e do adubo verde plantado nas entrelinhas do cafeeiro como únicas fontes de adubação. Todos os tratamentos de manejo orgânico receberam como fonte de adubação foliar o biofertilizante supermagro e nas parcelas convencionais foi aplicada adubação foliar convencional. O processo da compostagem laminar teve como objetivo a formação de uma lâmina constituída de um adubo orgânico colocado superficialmente sobre o solo na projeção da copa do cafeeiro e posteriormente aplica-se um resíduo vegetal sobre ele, para que o processo de compostagem ocorra em condições de campo. Pode se definir compostagem laminar como a compostagem feita diretamente no local de plantio, onde se incorpora adubos orgânicos juntamente com resíduos vegetais e/ou material verde existente no local (adubos verdes ou plantas espontâneas).

Para o produtor investir na produção orgânica de café o primeiro ponto a ser checado é se ele realmente tem aptidão para enfrentar os desafios do período de transição de 3 anos até conseguir a certificação da lavoura. Esse período não deve ser entendido apenas como uma quarentena para eliminação de resíduos de agrotóxicos, mas como um período necessário para a reorganização, sedimentação e maturação dos novos conhecimentos. É um reaprendizado da agronomia enquanto ecologia aplicada à produção agrícola, que exige a reorganização dos fatos agronômicos sob um marco conceitual diferente.
Um ponto extremamente favorável para a conversão de sistemas de produção de café convencional para a cafeicultura orgânica, especialmente voltada para pequenos produtores, é a mão-de-obra familiar, e, as possibilidades de organização das comunidades na forma de associações e cooperativas. A prática dos princípios da agroecologia em pequenas propriedades demanda menor quantidade de insumos orgânicos, cuja maior parte pode ser gerada dentro do organismo agrícola. Além disso, a agricultura familiar tem todas as condições para a produção de um café de alta qualidade a partir de um processamento pós-colheita adequado, agregando valor através da certificação orgânica e do comércio justo (fair trade).

Os resultados da tese de doutorado apontam que os manejos orgânicos adotados foram eficientes no fornecimento de N, P, K, S, Ca, Mg, Mn, B, Zn, Cu e Fe ao cafeeiro em produção. As melhores fontes de N para o cafeeiro no primeiro ano de manejo orgânico foram o farelo de mamona e a cama de aviário, enquanto que o esterco bovino apresenta maior eficiência no fornecimento de P. O manejo orgânico manteve um suprimento adequado de K no solo, com destaque para a cama de aviário e esterco bovino. Além dos efeitos na fertilidade do solo o farelo de mamona promoveu um menor acúmulo de açúcares solúveis totais na folha, o que possivelmente pode ter concorrido para um aumento da resistência da planta ao ataque do bicho mineiro (Leucoptera coffeella). Os tratamentos de manejo orgânico apresentaram produtividade similar à testemunha convencional, devido à existência de reservas de nutrientes no solo provenientes de seis anos de manejo convencional anterior à transição agroecológica.

É de fundamental importância que as políticas públicas focalizem-se na difusão da cafeicultura orgânica, especialmente destinadas a agricultores familiares, na medida em que são mais demandantes desse apoio e apresentam maior aptidão à adoção das técnicas agroecológicas. Contudo, os instrumentos necessários para que se possa converter e/ou superar a agricultura/cafeicultura baseada nos insumos químicos sintéticos e subordinada a setores agroindustriais, são a educação aliada ao conhecimento e, principalmente, à consciência ambiental, que marcam a nova lógica do desenvolvimento rural neste início de século conclui Vanessa Theodoro.

Mais informações: vantheodor@bol.com.br

Diretrizes para publicação de notícias de pesquisa no Portal da UFLA e Portal da Ciência

Mais>>

A Comunicação da UFLA, por meio do projeto Núcleo de Divulgação Científica e da Coordenadoria de Divulgação Científica, assumiu o forte compromisso de compartilhar continuamente com a sociedade as pesquisas científicas produzidas na Instituição, bem como outros conteúdos de conhecimento que possam contribuir com a democratização do saber.

Sendo pequeno o número de profissionais na equipe de Comunicação da UFLA; sendo esse órgão envolvido também com todas as outras demandas de comunicação institucional, e considerando que as reportagens de pesquisa exigem um trabalho minucioso de apuração, redação e revisões, não é possível pautar todas as pesquisas em desenvolvimento na UFLA para que figurem no Portal da Ciência e no Portal UFLA. Sendo assim, a seleção de pautas seguirá critérios jornalísticos. Há também periodicidades definidas de publicação.

Todos os estudantes e professores interessados em popularizar o conhecimento e compartilhar suas pesquisas, podem apresentar sugestão e pauta à Comunicação pelo Suporte. As propostas serão analisadas com base nas seguintes premissas:

  • Deve haver tempo hábil para produção dos conteúdos: mínimo de 20 dias corridos antes da data pretendida de publicação. A possibilidade de publicações em prazo inferior a esse será avaliada pela Comunicação.

  • Algumas pautas (pesquisas) podem ser contempladas para publicação no Portal, produção de vídeo para o Youtube, produção de vídeo para Instagram e produção de spot para o quadro Rádio Ciência (veiculação na Rádio Universitária). Outras pautas, a critério das avaliações jornalísticas, poderão ter apenas parte desses produtos, ou somente reportagem no Portal. Outras podem, ainda, ser reservadas para publicação na revista de jornalismo científico Ciência em Prosa.

  • As matérias especiais de pesquisa e com conteúdos completos serão publicadas uma vez por semana.

  • É possível a publicação de notícias sobre pesquisa não só quando finalizadas. Em algumas situações, a pesquisa pode ser noticiada quando é iniciada e também durante seu desenvolvimento.

  • A ordem de publicação das diversas matérias em produção será definida pela Comunicação, considerando tempo decorrido da sugestão de pauta, vínculo do estudo com datas comemorativas e vínculo do estudo com acontecimentos factuais que exijam a publicação em determinado período.

  • O pesquisador que se dispõe a divulgar seus projetos também deve estar disponível para responder dúvidas do público que surgirem após a divulgação, assim como para atendimento à imprensa, caso haja interesse de veículos externos em repercutir a notícia.

  • Os textos são publicados, necessariamente, em linguagem jornalística e seguindo definições do Manual de Redação da Comunicação. O pesquisador deve conferir a exatidão das informações no texto final da matéria e dialogar com o jornalista caso haja necessidade de alterações, de forma a se preservar a linguagem e o formato essenciais ao entendimento do público não especializado.

Sugestões para aperfeiçoamentos neste Portal podem ser encaminhadas para comunicacao@ufla.br.



Plataforma de busca disponibilizada pela PRP para localizar grupos de pesquisa, pesquisadores, projetos e linhas de pesquisa da UFLA