Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a equinocultura chega a movimentar R$ 16 bilhões por ano e gera cerca de 3 milhões de empregos no País. Tamanha importância gerou uma parceria entre a Universidade Federal de Lavras (UFLA), através de um termo de cooperação com o Mapa, e a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) a fim de realizar um estudo inédito e abrangente sobre a genética e o fenótipo da raça, por meio de estudos moleculares e de características morfofuncionais. “Temos hoje a oportunidade de dar subsídio para uma futura implantação do primeiro programa de melhoramento genético de equinos no Brasil através da raça Mangalarga Marchador, com foco em aprimorar a seleção da marcha da raça”, comenta a professora Raquel Silva Moura, do Departamento de Zootecnia da UFLA, que coordena o estudo, juntamente com a professora Sarah Laguna Conceição Meirelles, do mesmo departamento.
A partir de um banco de dados cedido pelo Serviço de Registro Genealógico da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), as pesquisadoras da UFLA iniciaram estudos para definição de equinos aptos para serem avaliados no projeto, que está sendo executado em etapas.
“A primeira parte desse estudo é a caracterização genética da raça Mangalarga Marchador; nós iniciamos em 2016 a coleta das amostras de pelos desses animais, e, ao final dessa pesquisa, a expectativa é de que tenhamos material genético de até 350 equinos da raça Mangalarga Marchador, e de diversas outras raças formadoras”, comenta a professora Sarah. A especialista explica ainda que, com o estudo do material genético desses animais, será possível fazer a avaliação da caracterização genética da raça por meio de marcadores moleculares, com a possibilidade de identificar genes ou alelos que são específicos da raça Mangalarga Marchador. Assim, quando um criador for registrar seu animal no livro aberto, o equino, além de apresentar características morfológicas e de andamento dentro dos padrões exigidos pela ABCCMM, deverá apresentar um certo grau de semelhança com o padrão molecular obtido na pesquisa.
Na segunda parte da pesquisa, é feita a caracterização fenotípica da raça, sob coordenação da professora Raquel. “Através da ezoognósia, que é o estudo detalhado da conformação externa dos animais, pretendemos usar técnicas objetivas para avaliação da morfologia e andamento de animais, o que permitirá transformar dados subjetivos tradicionalmente aplicados em exposições de cavalos em números ou notas”. São avaliadas as medidas lineares, angulares, os aprumos, temperamento e ainda é feita uma avaliação objetiva da biomecânica do Mangalarga Marchador.
A pesquisa de abrangência nacional servirá de base para muitos estudos sobre equinos. “Com esse grau de detalhamento com que estamos estudando a raça, muitos estudantes de graduação e pós-graduação terão nesse projeto uma oportunidade única de se capacitarem como profissionais do cavalo. Haverá a geração de muito conhecimento, identificando alguns detalhes que hoje são suspeitos, ou reforçando aquilo que já se conhece sobre a raça.” A especialista acredita que os primeiros trabalhos estarão disponíveis até 2020.
Com a genotipagem e a avaliação morfofuncional desses animais prontas, a última etapa do estudo será estimar os parâmetros genéticos das características estudadas nesses animais, para saber se elas são herdáveis ou não. Isso será um grande passo para a implantação de um programa de melhoramento genético na raça usando as informações dessa pesquisa.
“O próximo passo ao final desse projeto será encontrar genes que mais influenciam as características de interesse econômico para a raça Mangalarga Marchador, podendo, assim, futuramente, selecionar um animal baseado não somente nos fenótipos (qualidade da morfologia e andamento), mas também por meio da composição genética desse cavalo para certas regiões do genoma, o que é inédito em equinos”, enfatiza Sarah. Para a coleta dos dados, os pesquisadores irão percorrer criatórios e exposições em diversos estados brasileiros, para realizar uma amostragem nacional representativa da raça para caracterização.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista – bolsista Fapemig/Dcom
Imagens e edição do vídeo: Mayara Toyama, bolsista Fapemig/Dcom