O uso indevido de agrotóxicos em cultivos preocupa tanto a população quanto pesquisadores de diversas instituições do mundo. Nesse contexto, o professor departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) Edson Ampélio Pozza tem desenvolvido pesquisas em busca de uma cafeicultura sustentável, reduzindo o número de aplicações de fungicidas.
Linhas de pesquisa sobre o efeito da nutrição mineral e da fertilidade do solo na resistência de doenças de plantas são algumas das áreas pesquisadas. “Nós pesquisamos todas essas linhas que têm como objetivo incrementar a resistência da planta por meio do fornecimento otimizado de água e nutrientes em uma quantidade suficiente e ideal para manter as barreiras de resistência que ela já tem contra as doenças”, destaca Edson.
De acordo com o pesquisador, eliminar todos os produtos é algo que o clima tropical no Brasil não permitiria, pois mais de 85% dos cafezais brasileiros são plantados com cultivares suscetíveis a doenças e insetos, e ainda não temos cultivares com resistência completa a todas as doenças.
Ele explica que sempre procurou ponderar as dificuldades do manejo de doenças e insetos em países de clima tropical, sem inverno rigoroso e de alta biodiversidade, para não inviabilizar a atividade, sempre discutindo sobre seus impactos ambientais e na saúde humana dentro do ordenamento jurídico brasileiro e na sua inserção internacional, destinada à exportação em ambiente globalizado, com normas rígidas.
“O que precisamos fazer é usar métodos alternativos e monitorar os riscos. Equilibrar o fornecimento de água e de nutrientes de forma sustentável e, junto com cultivares resistentes e demais métodos de manejo, otimizar o uso de fungicidas. Monitorar a doença no campo para detectar a hora certa de aplicação. Usar o sistema de previsão de doenças para saber quando ela vai ocorrer e aplicar no momento certo, para não ficar pulverizando de maneira desnecessária e, assim, aumentar o impacto ambiental. Como reduzir as aplicações: aplicar na hora certa e no momento certo, respeitando o período de carência. E, ainda, quais produtos podem ser alternativos ao uso daqueles que estão sendo banidos das lavouras pel
as certificadoras”, completa Edson Pozza.
Reunião junto a certificadoras
Em abril, o professor da UFLA participou de um encontro sobre o tema com representantes de diversos países na sede da Rainforest Alliance Certified, em Amsterdam, na Holanda, sendo o único pesquisador brasileiro. A reunião, que ocorre a cada três anos, buscou a criação de uma lista que contém todos os produtos de uso restrito e que possam reduzir a sustentabilidade ambiental, segundo as certificadoras.
O trabalho realizado pelas certificadoras consiste em agrônomos e técnicos de campo irem às propriedades e, com base nos princípios que foram discutidos e implementados em reuniões, certificá-las. É levado em consideração o uso de agrotóxicos que podem ou não ser usados na lavoura, além de vários outros itens de sustentabilidade. Edson explica que, “as certificadoras têm a função de certificar a responsabilidade ambiental, social, cultural e financeira do produtor e dão a confirmação de que o produto realmente tem sustentabilidade”.
A participação de Edson Pozza ao representar o café no encontro foi estratégica, pois quase 50% do café produzido no mundo é brasileiro, sendo o Brasil o maior produtor e exportador de café arábica. A reunião contou também com a presença de representantes da Índia (chá), África (cacau) e de Costa Rica (banana).
Por uma cafeicultura sustentável
Vários agrotóxicos já estão sendo banidos do Brasil e do mundo pelas certificadoras. Porém, Edson explica que há poucas propriedades certificadas em relação ao total do parque cafeeiro. Logo, muitos dos cafezais plantados receberão pulverizações desses produtos, registrados, avaliados e testados pelas instituições brasileiras, e recomendados em conformidade com a legislação do País.
Mais de 85% das lavouras cafeeiras no Brasil são plantadas com cultivares suscetíveis a doenças e insetos. Por isso os produtos devem ser recomendados por profissionais habilitados e registrados em conselhos de classe, geralmente engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, os quais emitirão uma receita agronômica. “Esses profissionais estudaram de forma árdua e receberam treinamento suficiente para escolher os melhores produtos e de baixo impacto ambiental. Dentre eles, estão os alunos da UFLA. Não ensinamos nossos alunos a envenenar seres humanos ou o ambiente, mas a produzir alimentos de altíssima qualidade, preservando a flora e a fauna”, ressalta o pesquisador Edson Pozza.
Reportagem: Greicielle dos Santos - bolsista Dcom/Fapemig
Edição do vídeo: Sérgio Augusto - Editor/Dcom