Os subprodutos gerados pela produção agrícola do café são objeto de interesse de diversas pesquisas na Universidade Federal de Lavras (UFLA). Uma delas avalia o uso da água de lavagem de café para o cultivo de microalgas que poderão, por exemplo, servir de biofertilizantes na própria cultura cafeeira.
A pesquisadora Suzana Eda Hikichi, do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola da UFLA, realizou o isolamento de microalgas provenientes de uma lagoa da região de Lavras e de duas baías do estado do Pará. Sete espécies foram isoladas e avaliadas quanto às suas capacidades de crescimento fora de seu habitat e, posteriormente, analisadas quanto ao desenvolvimento na água residual do café. “Inoculamos a microalga utilizando os nutrientes da própria água proveniente do processo de lavagem do café. Essa água é gerada em grande quantidade e muitas vezes se torna um problema ambiental ao produtor devido à sua alta carga nutricional poluente”, diz Suzana.
As condições de temperatura e luminosidade foram controladas pelos pesquisadores e os primeiros resultados são otimistas. “Observamos uma maior produção de biomassa microalgal, pigmentos, carboidratos e proteínas com relação ao meio sintético de cultivo de microalgas, ou seja, esses resultados mostraram que a microalga se adaptou ao cultivo em condição ambiental”, explica a doutoranda.
O professor do Departamento de Biologia da UFLA Whasley Ferreira Duarte, orientador da pesquisa, comenta que as algas desenvolvidas nesse processo são ricas em proteínas, lipídeos e outros nutrientes que poderão ser utilizados na alimentação de peixes e produção de biofertilizantes. Além da própria alga gerada e suas possíveis aplicações, “a água resultante do processo de cultivo da microalga não apresenta a mesma problemática para o meio ambiente como anteriormente. Dessa forma, essa água ainda poderá ser reutilizada novamente”.
Em outra etapa do estudo, em andamento, as algas estão sendo cultivadas a partir de outro subproduto do café - a casca. Nesse processo, após a fermentação das algas é possível produzir etanol, um combustível verde de segunda geração. “Esses subprodutos já são utilizados na lavoura, mas não com tanto retorno econômico. Queremos mudar isso”, conclui Whasley.
Microalgas
A utilização de microalgas para a produção de produtos biotecnológicos é uma tendência que tem crescido nos últimos anos. Por serem ricos em carboidratos, lipídios, proteínas e outros compostos, esses microrganismos possuem várias aplicações industriais e diversas instituições realizam pesquisas com o tema.
Reportagem: Karina Mascarenhas, jornalista - bolsista Dcom/Fapemig
Imagens: Sérgio Augusto - Dcom/UFLA
Edição do Vídeo: Rafael de Paiva - estagiário Dcom/UFLA